Trinta e uma mulheres negras que deixaram suas marcas por lutar por uma sociedade igualitária… histórias do passado em sintonia com histórias do presente… A abertura da exposição Pele Preta emocionou o público, na noite desta terça-feira (19/11), véspera do Dia da Consciência Negra.
O Espaço de Convivência da Justiça Federal Venezuela ganhou vida com artes belíssimas em grafite e hachura de Tereza de Benguela, Carolina Maria de Jesus, Dandara, Conceição Evaristo, Luiza Mahin, Lélia Gonzáles, Vilma Reis, Sueli Carneiro, Adriana Alves dos Santos Cruz, Benedita da Silva, Angela Davis, Ruth de Souza, Chimamanda Ngozi, Aqualtune, Elza Soares, Sojouner Truth, Laudelina de Campos Melo, Marielle Franco, Jaqueline de Jesus, Tia Maria do Jongo, Viviane de Paulo, Angelina de Siqueira Costa, Maya Angelou, Luislinda de Valois, Maria Lucia Pereira, Tia Ciata, Mercedes Baptista, Escrava Anastácia, Mãe Beata e das diretoras do Sisejufe Neli Rosa e Lucilene Lima (para ler as biografias clique nos nomes).
Mulheres de destaque na luta sindical
Neli e Lucilene ganharam uma homenagem especial no evento. A assessora política Vera Miranda, responsável pela concepção da exposição, falou em nome de Lucilene, que não pôde comparecer por motivos de saúde. “Quando conheci a Lucilene, mesmo antes de eu trabalhar no sindicato, ela já era engajada, forte, disciplinada. Fez debate de carreira e de aposentados. Se tinha greve ou congresso, ela estava junto. Foi uma das primeiras mulheres a incorporar a luta sindical”, contou Vera.
Neli, que coordena o Departamento de Aposentados e Pensionistas do Sisejufe, se emocionou com a surpresa. A coordenadora do Núcleo de Mulheres, Anny Figueiredo, contou sua trajetória de luta, tanto na vida pessoal quanto profissional. Anny lembrou que Nely veio de origem pobre, tendo trabalhado como terceirizada no antigo Instituto Brasileiro do Café, prédio onde mais tarde foi construída a sede do TRF2, local de trabalho de Neli depois de aprovada no concurso de técnico do Judiciário Federal.
“Falo de Neli com muita satisfação. Uma grande amiga, aposentada incansável, essa mulher companheira que tenho a honra de conviver na luta sindical”, disse Anny.
Neli contou detalhes da sua caminhada de vida e fez questão de revelar um fato: sua mãe, que tinha o sonho de vê-la bem empregada, morreu pouco depois de sua posse como servidora.
“Agradeço a Deus porque a luta é muito grande e árdua. Como mulher preta não vou desistir, vou morrer lutando. Essa homenagem me deixou muito feliz e realizada”, afirmou.
Estreia pública
A exposição foi o primeiro trabalho público das jovens artistas plásticas Bela Pinheiro e Izadora Neves. A dupla usou técnicas de hachura e grafite para retratar as homenageadas.
“Para aceitar participar da mostra, eu precisei passar por um período de reflexão de que esse não é o meu local de fala. De escutar a voz dessas mulheres e aprender com elas. Fiz uma imersão no universo das mulheres que retratei aqui. Elza Soares, por exemplo, eu fiz ouvindo suas músicas. Gostei muito de fazer também a Aqualtune por sua história tão forte de linhagem guerreira. Outro desafio interessante foi dar forma à Mãe Beata, pelos traços marcantes”, apontou a artista.
Bela espera que pessoas se interessem cada vez mais pela história dessas mulheres: “que seja um ponto de partida para entrar em contato com todas essas narrativas tão inspiradoras”.
Para Izadora, a exposição teve um sentido de resgate, já que ela não desenhava há mais de 10 anos. “Esse convite me trouxe de volta para a arte, que é para mim uma terapia, já que trabalho na área da educação. Quem me conhece sabe que essa mostra foi muito importante porque fala de mulheres que estão à frente da luta de gênero, raça e lutas socais. Eu espero despertar nas pessoas o interesse pelas causas da mulheres negras que batalham pela sociedade igualitária”, destacou.
Militância e transformação social
A diretora do Sisejufe e coordenadora da Fenajufe, Lucena Pacheco, que foi a mestre de cerimônia do evento, organizado pelos Departamentos de Gênero e Raça e de Imprensa e o Núcleo de Mulheres do Sindicato, em parceria com a Justiça Federal do RJ. A dirigente sindical ressaltou a importância da iniciativa.
” Essa exposição faz parte das atividades em celebração aos 30 anos do Sisejufe e traça a trajetória de luta pelo direito à vida, à liberdade, à dignidade, ao voto, igualdade de oportunidades, ao acesso à educação, saúde, habitação e políticas públicas afirmativas e de reparação. Constrói uma linha temporal através do trabalho, da produção cultural e da militância de 31 mulheres negras que, em seu tempo e em sua área de atuação produziram avanços e transformação social”, explicou.
As servidoras Iris Sousa e Maria do Socorro, do Núcleo de Comunicação Social da SJRJ, representaram o diretor do foro, Osair Victor de Oliveira Junior e a diretora-geral Luciene da Cunha Dau Miguel, que estavam em compromisso em Brasília. “A nossa gestão tem total interesse em apoiar essas ações do sindicato que visam valorizar os nossos direitos como servidores e como cidadãos. E como mulher negra que sou, falo da minha alegria por ver apoiadas nossa história e nossa cultura e essas iniciativas que visam a promoção da igualdade racial”, disse Iris.
A diretora Eunice Barbosa, que representou o presidente do Sisejufe, Valter Nogueira Alves, destacou que é essencial cuidar das pautas específicas da categoria, mas é preciso ir além. “Não teria significado verdadeiro se não nos somássemos a luta das pautas da sociedade pelos direitos, pela igualdade de gênero e social, incluindo todos e todas.
Vários convidados mostraram seu compromisso e luta em prol da consciência negra, entre eles, a sambista, feminista e mãe de santo Marta D’oyá; a integrante do Movimento Nacional da População de Rua, Maria Alice; diretor do Condsef, Gilson Alves; a coordenadora da pastoral social da Arquidiocese do RJ, Tânia Ramos; seu Orlandino, da Cipa nas Escolas e o servidor Roberto Mota.
Exemplo de luta
Para a diretora Soraia Marca é uma honra prestigiar essas mulheres que deram voz ao oprimido. “Que sirvam para nós como exemplo. Precisamos de pessoas que falam por nós, pessoas que não são ouvidas e não são vistas”, opinou.
Cazé, professor de artes de Izadora Neves e Bela Pinheiro, esteve presente no evento. “É bom ver esse espaço de apoio a duas artistas iniciantes, dando oportunidade para que possam dar continuidade ao sonho delas. É difícil preto viver de arte e branco viver de arte. Quero ver não só Bela e a Izadora, mas muitos outros podendo ser artistas dentro do nosso estado”, exaltou.
A assessora Vera Miranda agradeceu aos funcionários e funcionárias do sindicato pela dedicação para que a mostra se tornasse realidade. “Queria que fosse construída uma história, um fio condutor. Não quero fazer uma coisa só por um dia. Quero que exposição rode por aí, que frutifique e seja a primeira de muitas. A missão do sindicato é romper muros e falar para todos e todas”, finalizou.
Nova atividade
A Roda de Samba do Movimento Nacional da População de Rua encerrou a abertura da exposição com muita alegria. No dia 12 de dezembro, o Sisejufe irá realizar o segundo evento da Mostra Cultural de Negritude, também no Espaço de Convivência da Justiça Federal Venezuela, a partir das 18h, com a roda de conversa Violência Contra a Mulher: do assédio ao feminicídio, que contará com a presença das juízas Adriana Cruz e Angelina Costa, além da professora de psicologia e ativista Jaqueline de Jesus. Logo após o debate, haverá uma Roda de Samba com o grupo Moça Prosa -formado por mulheres – e a sambista Marta D’Oyá.