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Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no estado do Rio de Janeiro - Telefone: (21) 2215-2443

Na Fina Batucada batem muitos corações

Bateria feminina participa do ato “A Justiça é Cega mas eu não” nesta sexta-feira, a partir das 18h, na Cinelândia com o Batuque na Justiça e Minerva Assanhada

Um olhar pode mudar o mundo. O professor de percussão popular da tradicional Escola de Música Villa-Lobos já tinha tocado seu pandeiro em várias partes do mundo quando percebeu que as baterias de escola de samba do Rio de Janeiro eram eminentemente masculinas. Era o ano de 1998. Em duas semanas, a Villa-Lobos tinha 190 inscrições para a que seria a primeira bateria feminina do Brasil, a Fina Batucada.

Nesta sexta-feira (14/2), a Fina Batucada vai participar do ato de luta A Justiça é Cega mas eu não que, por meio da música, chama a categoria para o calendário de lutas do Sisejufe. A mobilização, que inicia às 18h, conta com o Batuque na Justiça, formado por servidores e amigos do Judiciário Federal e com o bloco Minerva Assanhada, da UFRJ. Antes, no fim da manhã, a bateria feminina se apresenta em defesa dos direito dos trabalhadores e das crianças, uma parceria do TRT com o Sisejufe, que toma conta da Rua da Imprensa, a partir das 11h.

As diretoras Eunice Barbosa (Sisejufe Solidário), Anny e Lucena participam dos ensaios da bateria feminina

Foi por meio do Batuque na Justiça, também comandado pelo Mestre Riko, que o Núcleo de Integração e Resgate Cultural entrou em contato com a Fina Batucada. “Como espaço de empoderamento pela música, mas também de lazer, logo o Núcleo da Marcha de Mulheres do Sisejufe também começou a participar. Temos como afinidade a organização das mulheres”, explica Anny Figueiredo, que está se preparando para o carnaval da Fina Batucada.  

Com o convite para a Fina Batucada participar do ato, a parceria se consolidou e ampliou também para a formação. Mulheres em situação de rua estão confeccionando camisetas para a batucada da Cinelândia, agregando o Departamento Sisejufe Solidário.    

“A diversidade e a inclusão são características da percussão feminina. Nada impede que uma mulher participe: idade, classe social, idioma, local de moradia, nem mesmo limitações físicas. Riko faz todas as adaptações necessárias. Ele diz que faz tudo para entrarmos sorrindo e sairmos sorrindo. Ele quer todo mundo lá”, conta a diretora do Núcleo de Integração e Resgate Cultural, Lucena Pacheco, que integra tanto o Batuque na Justiça quanto a Fina. Ela conta que também estão sendo confeccionadas bandanas e ovinhos de percussão para quem estiver nos atos.

Design da camiseta para o desfile das campeãs, apoiada pelo Sisejufe

A Fina Batucada abrirá o desfile das campeãs na Sapucaí como bateria da escola de samba Embaixadores da Alegria, a única agremiação do mundo voltada para pessoas com deficiência. O desfile terá o apoio do sindicato, por meio dos departamentos Sisejufe Solidário e Acessibilidade e Inclusão.

Música para aprender a escutar

A estudante Laís Viana, moradora de Campo Grande, tinha 15 anos quando escutou seu coração e foi participar de uma oficina de percussão no bairro Santo Cristo, ministrada pelo Mestre Riko. A partir daquele momento, a música tomou conta de sua vida.

Laís e Riko na Fina Batucada

Em seguida, ela entrou para a Fina Batucada, estudou saxofone na Villa-Lobos, onde também fez o curso técnico, e hoje, aos 30 anos, licenciada em Música, é professora no Rio e em Caxias. Em 2019, quando seu mestre foi convidado para desfilar na escola Vila Isabel, Laís comandou o bloco carnavalesco Bafo da Onça, um dos mais tradicionais da cidade, fundado em 1956. Ela é a primeira substituta na regência da bateria e como professora, mas se é necessário ajudar em outras frentes para levar o projeto adiante, também está lá.

No entanto, essa trajetória não foi nada fácil. Laís foi adotada pelo Mestre Riko, que muitas vezes teve que ajudar com dinheiro para a sua  passagem e comida. “Ele apadrinhou muita gente, mas nem todos seguiram o caminho da batucada.” Mas esse não foi o principal apoio de seu pai musical: ele lhe ensinou a escutar as pessoas, respeitá-las. Às vezes, uma palavra fora do tom pode ser desastrosa. “O propósito da Fina Batucada é fazer música e se divertir. Para algumas pessoas é um hobby, para outras, terapia, e também há quem siga a carreira profissional.”

O samba é a vida de Laís desde seu primeiro carnaval, aos três anos de idade. “O pulsar da bateria faz parte do que eu sou. A música é sagrada. Na batucada, não há individualismo, um depende do outro, caso contrário, o som não acontece. Essa lição eu levo pra vida, de outras formas.”

Música para mudar o mundo

Uma bateria não é feita só de música. Há todo um trabalho de organização e marketing, que vai desde administrar o grupo de WhatsApp até sair em busca de apoio, além de montar eventos e festas. É aí que entra o papel fundamental de Priscylla Corrêa.

A “aluna do Mestre Riko”, como se define, entrou na Fina Batucada a convite de uma ex-colega do Instituto de Educação, onde participava do coral. “É a minha vida, dou meu tempo por amor.” Ela conta que a bateria é muitas vezes uma luz para quem está passando por um câncer, uma depressão ou para animar quem está desempregado.

Mãe e filha se apresentam juntas na Fina Batucada

Foi na barriga de Priscylla que Eloá Corrêa ouviu as primeiras batucadas. Aos cinco anos já era integrante da Fina Batucada e, aos sete anos, lembra que recebia seu primeiro cachê, cheia de orgulho.

Hoje, aos 13 anos, Eloá é auxiliar do Mestre Riko no Batuque na Justiça, grupo formado por servidores do Judiciário Federal, sediado no Sisejufe. Com seu jeitinho faladeiro, anima os integrantes, auxiliando quem sai do tom. “Também ajudo Tio Riko arrumando e encapando instrumentos”, conta.

Para a mãe Priscylla, a música pode ser o caminho para uma vida boa. Ela acredita que as novas gerações, se bem encaminhadas, podem melhorar o mundo. Enquanto Eloá decide se vai seguir a carreira de percussionista ou se vai cursar psicologia (e quem sabe quantos sonhos ainda vão passar pela sua cabeça) elas seguem se apresentando juntas. E mostrando ao mundo que lugar de mulher é onde ela quiser.

Ficou interessado em conhecer essa história de perto? Te esperamos nesta sexta-feira (14/02), às 18h, no ato A Justiça é cega mas eu não, na Cinelândia.  

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