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Departamento de Acessibilidade e Inclusão abre espaço para o debate sobre Mulheres com deficiência e sexualidade

“Que todos nós sejamos sementes e multipliquemos a cultura de uma sociedade igualitária e para todos”. O apelo foi feito por Cínthya Freitas, presidenta da Associação dos Deficientes Visuais do Estado do Rio de Janeiro (Adverj), na palestra Mulheres com Deficiência e Sexualidade, promovida pelo Departamento de Acessibilidade e Inclusão (DAI), na noite desta terça-feira (24/09), no auditório do Sisejufe. Cínthya foi uma das palestrantes do evento, que marcou o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, celebrado no dia 21 de setembro.

 

O encontro, mediado pelo coordenador do DAI, Ricardo Azevedo, contou ainda com a participação da professora Thaís Victa, do Coletivo Feminista Helen Keller.

 

“É um debate muito amplo e ao mesmo tempo difícil de encontrar terreno propício para discussão. Até porque uma parte das pessoas com deficiência tem vergonha ou passa por culpabilização de reconhecer que o corpo de uma mulher com deficiência também é um corpo reprodutivo”, aponta Thaís.  

 

Busca de autonomia 

 

A professora explica, ainda, que a mulher com deficiência é demarcada com esse corpo fora do padrão e que é visto preconceituosamente como um corpo não reprodutor, que não tem possibilidade de participar de uma vida social ativa e ter seus direitos reprodutivos respeitados. “Então a gente precisa romper com a ideia de que é um corpo dependente, sem autonomia e sem escolha”, acrescenta.

 

Thaís ressalta que as mulheres com deficiência sofrem ainda com relação aos cuidados. Muitas vezes a família assume a decisão de ter responsabilidade pelo corpo dessa mulher. “A mulher com deficiência , principalmente mental ou intelectual, que não teria controle ou responsabilidade sobre o corpo, a gente vê que a família acaba assumindo esse papel. E muitas vezes essa mulher acaba sofrendo uma esterilização forçada. Isso também é uma violência contra o corpo dessa mulher com deficiência”, alerta.

 

Falta de acessibilidade na saúde 

 

A especialista destaca que outro ponto importante na discussão é a falta de acessibilidade a um sistema de saúde que atenda às necessidades dessas mulheres, como intérpretes de libras, estrutura especial para o parto e acompanhamento médico de uma forma geral.

 

“A falta de acesso, orientação e estrutura para proteger a mulher com alguma deficiência a deixa em uma situação de ainda mais vulnerabilidade”, lamenta a professora.

 

Thaís completa: “a gente também tem debatido muito a questão da liberdade da escolha e do poder sobre nossos corpos”.

 

Poder sobre o próprio corpo 

 

A palestrante ressalta a importância de incluir no debate os direitos das mulheres com deficiência lésbicas e trans. “O corpo é da mulher. A gente vê ao mesmo tempo um estado que controla e que abandona essa mulher. Ela precisa ser empoderada para poder decidir sobre seu próprio  corpo”.

 

O diretor Ricardo Azevedo lembrou que as dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam são ainda mais penosas para as mulheres. “A gente tem sempre que matar um leão a cada dia para mostrar do que a gente é capaz. A gente enfrenta isso no trabalho, na família, na rotina do dia-a-dia, e tem a questão do capacitismo que a gente enfrenta no cotidiano. Somos pobres coitadinhos nas ruas, passamos de coitadinhos a super heróis a todo instante. temos um olhar diferenciado da sociedade e a mulher sofre ainda mais com isso”, disse.

 

O evento contou ainda com a participação dos diretores do sindicato Dulavim de Oliveira, Laura Diógenes e Neli Rosa, além do vice-presidente Lucas Costa.

 

“Tenho orgulho grande de estar ao lado de vocês nestas lutas. Aprendo a cada dia. Não tenho que enfrentar as dificuldades que vocês enfrentam no dia a dia, mas tento aumentar minha sensibilidade com o tema e ajudar a superar os obstáculos desnecessários que se criam. Que possamos batalhar lado a lado e ampliar esses espaços para que possamos estar em condições de igualdade, cada vez mais”, afirma Lucas.

 

Vitórias e retrocessos na luta 

 

A palestrante Cínthya Freitas elogiou a iniciativa do sindicato e a parceria na luta. “Temos muito a comemorar nas lutas das pessoas com deficiência, mas também a lamentar os retrocessos de direitos que vivemos neste momento”, destacou.

 

A presidenta da Adverj lembrou que as mulheres, de maneira geral, enfrentam uma luta incessante para que os direitos sejam respeitados. “Enfrentamos até comentários desrespeitosos: ela está gorda, o cabelo está enrugado… Está todo mundo sempre reparando na gente. E quando você olha uma mulher e ela ainda tem uma deficiência? O que você faz? Sente pena, finge que não vê? As pessoas agem assim”, lamentou.

 

E acrescentou: “passamos por muitas situações em que as pessoas que estão à nossa volta se acham no direito de questionar: porque você ficou cega? qual sua deficiência?”, disse, comentando ainda que é preciso estar preparado para lidar com o preconceito.

 

Para Cinthya, essa situação coloca uma barreira entre o direto de ser mulher e enfrentar o olhar de pena das pessoas. “Você passa a ser uma figura de negação… Mas quando você tem uma boa relação com seu corpo e respeita as caraterísticas que ele tem e sua condição de pessoa com deficiência, aumenta sua autoestima. Isso acaba sendo um ponto que abrange não só nós mulheres, mas os homens também”, opina.

 

Libido e sexualidade

 

Cinthya abordou ainda questões como padrão de beleza e libido. “Eu fiquei cega com 25 anos e tenho 44. Eu tenho lembrança do que é me arrumar, me maquiar, mas para quem nunca enxergou, pode ter outra forma de se achar bonita. Importante é o autocuidado e neste quesito, é a procura da libido, do prazer. Se eu quiser ficar do jeito que eu quiser, com a roupa que eu quiser, estarei exercendo a minha sexualidade”, disse.

 

Sobre a família, ela destacou aspectos positivos e negativos. Um exemplo negativo é quando a família afasta a possibilidade de namoros e relacionamentos para proteger. Essa postura, segundo Cinthya, pode atrapalhar o desenvolvimento da sexualidade.

 

Já um exemplo de aspecto positivo, segundo a especialista, é quando você busca o seu núcleo familiar: “se quiser ter uma família, marido ou mulher, e filhos, você vai escolher com quem você quer estar ou até ficar sozinha. Importante é você ter a capacidade de escolher a sua própria vida. Independentemente da sua sexualidade – homoafetiva ou hétero. Isso é exercer a sua libido”, ressalta.

 

“Eu tenho uma filha e é fantástico vê-la crescer e se transformar numa mulher. Eu escolho meu núcleo. Isso é fantástico”, completa.

 

Cinthya finaliza: “a nossa vida parte do princípio de que o maior dos nossos tesouros é o nosso bem-estar. Estar bem entre as pessoas. Que nossa deficiência seja apenas um detalhe.”

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