Amídia e o mundo político de um modo geral relegaram a questão principal que levou os militantes do MLST ao protesto na Camara dos Depútados. Ou seja, a reforma agrária não entra na discussão.
“QUERIAM NOS IMPEDIR DE ENTRAR NA NOSSA PRÓPRIA CASA”
A frase acima foi dita por um dos manifestantes do MLST, ao adentrar pelos portais da Câmara dos Deputados Federais. A causa da manifestação? A luta pela revogação da Medida Provisória nº 2183/01, que estabelece que toda propriedade ocupada fica impedida de vistoria para fins de Reforma Agrária. Em outras palavras: a referida MP representa mais um dos tantos obstáculos à (justa) Reforma Agrária. O pleito é procedente, e antigo.
O regime latifundiário se perpetua hereditariamente. A resistência à mudança é tenaz e violenta (vide o episódio de Carajás, dentre outros). Os meios de comunicação foram unânimes em criticar a acusar os manifestantes, na tentativa (temo exitosa), de persuadir a opinião pública do vandalismo e agressividade dos manifestantes (!?). É realmente lamentável sentir a infame distorção/inversão recaindo sobre os camponeses, que, de vítimas históricas, foram transformados em algozes cruéis.
Uma coisa não se pode negar: houve violência. Mas por parte de quem? Os trabalhadores se excederam, não há dúvida. Mas será que não foram provocados a tomar tal atitude? São anos de opressão e espoliação. Será que se tivessem agido pacificamente, teriam conseguido ser ouvidos? Muitos foram detidos, mas pelo menos uma vitória conquistaram: trazer à tona a questão da infame MP 2183/01.
Aprendemos desde cedo que os espaços públicos são do povo – não é à toa que a Câmara e o Senado são denominados de “Casas Legislativas”. Nossas casas, nosso lar. Esses trabalhadores foram expulsos porque trajavam bermudas e chinelos (bom, essa foi a desculpa do porta-voz, afinal de contas, pega mal admitir que suas presenças eram indesejadas, é “politicamente incorreto”).
Não se pode esperar outra reação de um filho que não é acolhido em sua casa. Enquanto nossos dirigentes fecharem as portas, e nós, fecharmos os olhos para a atual realidade, o povo arromba.
Clarisse Faria – 24ª V. Cível