No Dia Nacional de Lutas da Pessoa com Deficiência, 21 de setembro, o Canal Sisejufe no Youtube recebeu o campeão paralímpico de goalball masculino em 2021, Alex de Melo. O atleta contou sobre sua trajetória até chegar à medalha de ouro no início deste mês.
A atividade, que fez parte da Semana de Lutas da Pessoa com Deficiência promovida pelo sindicato, teve o diretor do Departamento de Acessibilidade e Inclusão (DAI), Ricardo Azevedo, como anfitrião. Ele também é praticante de goalball e conheceu Alex Labrador (como o campeão é conhecido no meio esportivo) no Instituto Benjamin Constant, centro de referência nacional na educação e capacitação profissional para pessoas com deficiência visual, localizado na cidade do Rio de Janeiro.
Labrador contou que lembra das palavras de incentivo de Ricardo – esse moleque aí vai longe – quando começou a jogar na Urca, em 2009. Em 2013, ele foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira de goalball e, em 2015, foi para São Paulo como profissional. Duas vezes campeão mundial, foi medalhista em 2016 nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro.
No entanto, o primeiro contato de Labrador com o goalball foi no ensino regular, tendo representado o estado do Rio de Janeiro nas Paralimpíadas Escolares. “Sem a base, dificilmente um atleta chega em algum lugar de destaque”, afirmou, ressaltando a importância do esporte, tanto para o convívio social quanto para a autoestima. “É difícil alguém olhar pra ele (pessoa com deficiência) como um potencial.” Confessou que não gostaria de ter saído do Rio de Janeiro, onde não há incentivo dos governos municipal ou estadual e nem mesmo de clubes para sua modalidade. “Tenho muito orgulho de ser carioca.”
Após a apresentação de um vídeo com um trecho da partida final e da premiação das últimas Paralimpíadas, Labrador falou sobre a sua preparação, pelo Sesi São Paulo, para o primeiro mundial de clubes de goalball em Portugal e o trabalho para garantir sua vaga na Copa América e representar o Brasil no campeonato mundial no ano que vem.
O atleta comentou a diferença abissal que existe no investimento entre atletas olímpicos e paralímpicos, mesmo com o grande número de medalhas conquistadas pelos últimos nos jogos realizados este ano e também entre os participantes de esportes individuais e coletivos. “Um atleta de judô pode ganhar cinco vezes mais que um de goalball.” Isso influencia diretamente as condições de preparação e treinamento, bem como na contratação de auxiliares, como médicos e fisioterapeutas. “Deveria ter uma equivalência, um equilíbrio. Porque a dedicação é a mesma.” Alguns atletas precisam trabalhar para se manter financeiramente.
Jogadora comenta acessibilidade
A live teve a participação especial da jogadora de goalball Ana Gabriely Brito para falar sobre a falta de acessibilidade no Japão, país no qual esteve pela terceira vez nessa Paralimpíada. Por causa da pandemia do coronavírus, os atletas tiveram que ficar a maior parte do tempo na Vila Paralímpica. Inclusive, duas pessoas cegas foram atropeladas dentro do espaço, pois o transporte não tinha sonorização. Só havia piso tátil na travessia e o Braile estava apenas em alguns lugares. Como ponto positivo para a cidade de Tóquio, destacou a existência de semáforos com sinalizador, mas mesmo assim, não considera a cidade inclusiva.
O diretor do DAI falou sobre o rápido crescimento do esporte no país a partir dos anos 90, que teve como pontos altos o programa federal Bolsa Atleta, a partir de 2013, e o incentivo dos clubes. Nas Paralimpíadas de 2008, o Brasil ficou em 11o na competição, mas conquistou a prata em 2012 e o bronze em 2016, até chegar ao topo da modalidade este ano. Por outro lado, lamentou que não haverá campeonato da Série B em 2021. “A saudade bate muito forte neste que vos fala”, revelou, por estar afastado dos treinos.
“Ou pessoa com deficiência é um coitadinho ou é super-herói” comentou Ricardo sobre a mudança de narrativa que está acontecendo nos meios de comunicação. “A questão da deficiência não está em nós, está na sociedade com suas barreiras, que dificulta e impossibilita, em muitos casos, a pessoa com deficiência viver em plenitude. É contra isso que a gente deve lutar.”
A live contou ainda com a assistente da Assessoria Política, Ana Priscila Alves, como mediadora, e com as intérpretes de Libras Leila Lopes e Rosane da Gama.
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Por: Cristiane Vianna Amaral
Conheça o goalball*
Ao contrário de outras modalidades paralímpicas, o goalball foi desenvolvido exclusivamente para pessoas com deficiência visual. A quadra tem as mesmas dimensões das de vôlei (9m de largura por 18m de comprimento). As partidas são realizadas em dois tempos de 12 minutos, com 3 minutos de intervalo. Cada equipe conta com três jogadores titulares e três reservas. De cada lado da quadra, há um gol com 9m de largura e 1,30m de altura. Os atletas são, ao mesmo tempo, arremessadores e defensores. O arremesso deve ser rasteiro ou tocar pelo menos uma vez nas áreas obrigatórias. O objetivo é balançar a rede adversária.
A bola tem um guizo em seu interior para que os jogadores saibam sua direção. O goalball é um esporte baseado nas percepções tátil e auditiva, por isso não pode haver barulho no ginásio durante a partida, exceto no momento entre o gol e o reinício do jogo e nas paradas oficiais. A bola tem 76 cm de diâmetro e pesa 1,25 kg.
*Fonte: Comitê Paralímpico