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Jongo da Serrinha ganha nova sede

O Jongo ganhou uma nova casa no Morro da Serrinha, em Madureira, na Zona Norte do Rio, para lhe servir de sede e centro de referência para a preservação do canto, dança e ritmo. A nova sede é um imóvel de dois andares, com mil e seiscentos metros quadrados, que foi desapropriado pela prefeitura e será totalmente reformado para abrigar a ONG Grupo Cultural Jongo da Serrinha (GCJS). A obra está orçada em R$ 2 milhões.


Após viver momentos de incerteza, o Jongo ganhou uma nova casa no Morro da Serrinha, em Madureira, na Zona Norte do Rio, no dia 27 de fevereiro. O espaço vai servir de sede e centro de referência para a preservação do canto, da dança e do ritmo precursor do samba, que alguns o chamam de “pai do samba”. Desde que a sede da antiga escola foi invadida e destruída pelo Bope, a ONG Grupo Cultural Jongo da Serrinha (GCJS) correu risco de ver seu trabalho, que atende a mais de cem crianças, ser interrompido por  falta de um espaço para continuar atuando. Mas com a força dos “jongueiros” e o apoio de campanhas com a ‘Uma Casa para o Jongo’, que teve a participação do Sisejufe, a resistência surtiu efeito e resultou na concretização do sonho da sede nova.

 

Tia Maria do Jongo da Serrinha assina o contrato de cessão de uso da propriedade. Ao lado do prefeito Eduardo Paes e o deputado Robson Leite

A cerimônia simbólica de entrega das chaves pela Prefeitura do Rio ocorreu no começo da tarde de 27 de fevereiro, com a presença do prefeito Eduardo Paes, do deputado estadual Robson Leite (PT-RJ), coordenadores da ONG Jongo da Serrinha, jongueiros e moradores da comunidade. No evento também foi assinado o contrato de cessão de uso da propriedade do imóvel. A nova sede terá dois andares, com mil e seiscentos metros quadrados. O local foi desapropriado pela prefeitura e será totalmente reformado para abrigar a ONG Grupo Cultural Jongo da Serrinha. A obra está orçada em R$ 2 milhões.

As chaves da casa foram entregues à Tia Maria, de 92 anos, uma das mais antigas integrantes do Jongo da Serrinha. “Tia Maria, agora essa casa é de vocês, é do Jongo. Essa entrega não é só simbólica. Está aqui a chave mesmo, inclusive com uma chave de Ogum também devidamente benzida, e vamos juntos assinar o contrato de cessão de uso agora”, disse o prefeito Eduardo Paes ao repassar a chave.

“Eu não tenho nem o que falar. Estou igual a pinto no lixo, como se diz, de tão feliz. Crianças olhem bem essa casa e essas chaves. Isso aqui pertence a vocês”, ressaltou Tia Maria às crianças, da escola de Jongo da Serrinha, presentes à cerimônia.

Jongo

Na abertura do evento, os jongueiros rezaram. As orações escolhidas foram o “Pai Nosso” e a Ave Maria. Em seguida, ao som de tambores e violão, os jongueiros entoaram cantigas de jongo e abriram à roda para todos “jongar”.

“Essa cidade é cheia de manifestações culturais relevantes, que surgiram das mais variadas origens e que possuem histórias muito bonitas da luta de um povo, responsáveis pela construção da identidade e alma dessa cidade”, disse o prefeito.

Reforma da sede

O prefeito ainda destacou que “essa é só a primeira etapa de um processo”, mas que ele julgou ser importante ir pessoalmente fazer a entrega das chaves. Segundo ele, seria para enfatizar o compromisso da prefeitura em executar a reforma do prédio com o projeto arquitetônico feito pelo escritório Rio Arquitetura.

“Madureira é um lugar muito especial. Sempre brinco dizendo que se o Rio de Janeiro fosse um corpo humano, o coração seria Madureira, que sintetiza um pouco dessa alma e da identidade cultural dessa cidade”, destacou Eduardo Paes. Para o prefeito, esse processo não pode ser artificial. “É preciso valorizar as coisas do bairro e da região. A minha querida Portela aqui do lado, o Império Serrano, o Jongo da Serrinha, tudo sintetiza a cultura local”, completou Paes.

O prefeito destacou ainda a “força de sobrevivência incrível” do Jongo da Serrinha que, segundo ele, “sem o respaldo do poder público e com apenas pequenas ajudas lá e ali”, tem demonstrado uma grande capacidade de resistência e luta pela identidade cultural carioca. Por isso, de acordo com ele, o esforço pessoal da prefeitura de viabilizar o projeto a partir da desapropriação do imóvel.

O prefeito Eduardo Paes explicou que o projeto terá execução da RioUrbe, mas que a reforma do prédio, orçada em R$2 milhões, ainda está em processo de licitação das obras. “Vamos fazer uma bonita obra. Terá toda a estrutura para essa casa se transformar num super espaço cultural. Mas tenho que revolver aquelas chatices burocráticas ainda. Obra demora, mas o orçamento já está aprovado. A partir de agora o Jongo da Serrinha vai ter aqui seu centro cultural”, garantiu.

Imagem da sede pronta (RIoUrbe)

De acordo com a Rio Urbe, o projeto arquitetônico para reforma da sede vai abrigar no espaço um salão de dança, um auditório com cinema, estúdios, área para exposições, lojas, refeitório, além de salas administrativas, para cursos profissionalizantes e aulas de artes, além de uma pequena praça para shows. A obra tem prazo de entrega é de um ano.

 

Pedro Rivera, arquiteto que fez de forma voluntária o projeto arquitetônico para reforma da nova sede

Pedro Rivera, o arquiteto que fez o projeto arquitetônico para reforma da nova sede

A futura sede do Jongo da Serrinha está localizada na Rua Compositor Silas de Oliveira 101, no Morro da Serrinha, em Madureira. Com a nova sede, a ONG Grupo Cultural Jongo da Serrinha poderá expandir o atendimento da Escola do Jongo da Serrinha das atuais cem crianças para mil jovens. A ONG é um quilombo cultural do Rio de Janeiro, patrimônio imaterial do Rio, e que preserva a tradição artística dos descendentes dos negros libertos das fazendas de café do Vale do Paraíba.

Atualmente, as atividades da escola ocorrem em uma pequena casa que serve de sede na Rua Balaiadas 106. Recentemente, a casa foi reformada a partir do apoio cultural do Sisejufe, que promoveu a campanha “Uma Casa para o Jongo” no dia 17 de novembro do ano passado.

Campanha: “Uma Casa para o Jongo da Serrinha”

O diretor de Formação do Sisejufe, Roberto Ponciano, participou da cerimônia de entrega das chaves. El e relembrou que desde o primeiro momento, o sindicato esteve presente na luta pela Casa do Jongo. “Eu participei das logo nas primeiras reuniões, representando o sindicato e intermediei a conversa com o gabinete do deputado estadual Róbson Leite (PT), que foi um dos mais destacados articuladores do projeto”, contou.

 

Roberto Ponciano, diretor de formação do Sisejufe, ao lado das crianças da Escola de Jongo da Serrinha

O direto sindical disse ter ficado muito  emocionado com a doação da casa que servirá de nova sede do grupo cultural. “Sinto-me pessoalmente realizado em ver algo que era apenas um esboço, um sonho, virar uma realização. O Sisejufe dá mais que apoio ao Jongo, é parceiro”, destacou.

A coordenadora da escola do Jongo da Serrinha, Luisa Marmelo, diz acreditar que são essas parcerias que tornam possível o grupo não só manter as atividades com as crianças da comunidade, como também manter a sede atual.

Charge feita pelo cartunista Carlos Latuff para campanha "Uma Casa para o Jongo da Serrinha"

“O Sisejufe tem sido um grande parceiro há muito tempo. O sindicato sempre nos apoia e está conosco. São essas parcerias que impulsionam a escola de jongo. Com a campanha ‘Uma Casa para o Jongo’, nós conseguimos colocar telhas nas duas salas que foram construídas e fazer outras pequenas reformas”, explicou a coordenadora.

Parte da verba do evento do Dia da Consciência Negra, ocorrido em 17 de novembro do ano passado, foi revertida ao Jongo da Serrinha, que se apresentou na comemoração da data.

O sindicato esteve junto ao grupo cultural, inclusive, nos momentos difíceis que o projeto atravessou. “Fomos parceiros quando a sede da antiga escola foi invadida e destruída pelo Bope e ajudamos a realizar a reforma da atual escola, depois lançamos a campanha de solidariedade: ‘Uma casa para o Jongo’, com a importante participação do cartunista Latuff, que doou a charge para a campanha”, destacou Ponciano. E conclui: “Seremos parceiros nesta nova empreitada porque o Jongo é PATRIMÔNIO IMATERIAL DO POVO CARIOCA, UM QUILOMBO CULTURAL. O que posso dizer, além disso? Sinto-me extremamente feliz, assim como todos os jongueiros!”.

A antiga casa que serve de sede ao Jongo da Serrinha não será abandonada. Lá, continuará funcionando as oficinas do grupo e servirá de sala de apoio para a memória do jongo. “Foi uma casa comprada com o dinheiro de todos os músicos fazendo shows. Ela é muito importante para a memória de resistência cultural do Jongo da Serrinha”, contou Luisa Marmelo.

 

Da Redação – Texto e Fotos – Tatiana Lima

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