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DEU NA IMPRENSA: Primeiro cego eleito deputado quer mais oportunidades

Formado em Engenharia Mecânica, Felipe Rigoni, do PSB-ES, obteve mais de 84 mil votos

Aos 6 anos, Felipe Rigoni começou a sofrer um longo processo de infecções que resultou em um colapso ótico, com quatro deslocamentos de retina e 17 cirurgias. Nove anos depois, ele estava cego. Hoje, aos 27, ele é o primeiro deficiente visual a ser eleito para o Congresso Nacional – com mais de 84 mil votos. “Na vida, você tem a liberdade de escolher que atitude tomar diante das circunstâncias”, disse Rigone.

Claro, o otimismo não foi uma reação imediata. “O baque foi brutal”, recorda. No começo, Rigone entrou em depressão profunda e engordou 140 quilos. “Eu comecei a contestar o meu valor como pessoa. Por que aquilo estava acontecendo comigo?”.

Aos poucos e com a ajuda de familiares e amigos, Rigone foi redescobrindo a própria força e decidiu se dedicar a ser uma pessoa melhor. Primeiro, fez faculdade de Engenharia Mecânica em Ouro Preto, Minas Gerais. “Eu adorava a vida de república em Ouro Preto, de tomar uma cervejinha com os amigos e tudo o mais”. Além disso, aprendeu a tocar violão e virou faixa marrom em jiu-jítsu. “Agora que a campanha acabou, vou voltar para o jiu-jítsu”, diz.

Mas foi após um curso de coaching em desenvolvimento humano que ele começou a se interessar por política. “Me candidatei a vereador por minha cidade (Linhares, no Espírito Santo), em 2016. Honestamente, foi bom não ter entrado naquela vez. Naquela época, eu seria uma voz sozinha e ainda inexperiente na política. De político despreparado o País está cheio.” Depois dessa experiência, ele partiu para um mestrado em políticas públicas em Oxford, na Inglaterra.

Quando voltou da Inglaterra, resolveu tentar de novo. Rigone entrou para o movimento Acredito (renovação na política), foi um dos bolsistas do RenovaBr e líder da Fundação Estudar. “Costumo dizer que não sou muito bom em ser cego. Não uso bengala, não me dei bem com cão guia e não gosto muito de ler em braile. O que eu faço mesmo é viver rodeado de pessoas”, afirma.

Depois de eleito, ele conta que já recebeu uma ligação de funcionários da Câmara dos Deputados para saber o que ele iria precisar em termos de acessibilidade para exercer o seu mandato. Por enquanto, o único pedido de Rigone foi, segundo ele, a colocação de sinais táteis no painel de votação e a instalação de um software de leitura nos computadores do seu futuro gabinete.

Eleito pelo PSB capixaba, Rigone promete cortar metade dos cargos que o seu gabinete tem direito e selecionar os funcionários através de um processo seletivo. Ele pretende também atuar pela educação básica e pela igualdade de oportunidade para todos. “Mas o meu trabalho inicial será em prol de uma reforma tributária”, diz.

Sobre o segundo turno das eleições presidenciais, o futuro deputado diz que “o Brasil está na pior situação possível”. Para ele, nem Fernando Haddad (PT) e nem Jair Bolsonaro (PSL) são as respostas que o País precisa. Rigone garante que não irá anular o voto, mas não pretende declarar em qual dos dois deve votar.

Cego desde os 15 anos, conta que, eventualmente, pede para que algumas pessoas descrevam os políticos com que ele vai lidar. “Mas, na maioria das vezes, eu apenas escuto. Tenho uma habilidade de entender o estado de espírito de quem fala comigo. Sei se está feliz, se está triste, se está mentindo…Não me interesso muito pela parte física, mas muito mais pelo caráter”, afirma.

3 perguntas para…

1 – A deficiência visual será uma barreira no Congresso Nacional?

Não. A Câmara é bastante acessível e já me ligaram dizendo da colocação de sinais táteis no painel de votação. Sou uma pessoa bastante sensível. Pela voz das pessoas consigo entender tudo o que está acontecendo ao meu redor.

2 – Quais são suas principais propostas como deputado federal?

O meu trabalho inicial será em prol de uma reforma tributária. Mas também vou atuar pela educação básica e pela inclusão. Acredito em igualdade de oportunidades.

3 – No segundo turno, você pretende votar em Bolsonaro ou Haddad?

Esse foi o pior dos resultados para o Brasil. Não acredito na política de nenhum dos dois. Mas nunca anulei um voto. Vou votar em um deles. Mas meu voto não será declarado.

 

 

Fonte: O Estado de SP – Gilberto Amendola

 

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