Tais Faccioli*
A comunicação, a linguagem e a oratória são elementos considerados fundamentais para a formação política, profissional e humana em uma sociedade. No mundo sindical, não é diferente. Mas é preciso saber utilizar essas ferramentas de maneira estratégica e eficiente. Essa foi a proposta do módulo quatro do Curso de Formação Sindical, realizado no sábado (10/12), no auditório do Sisejufe. O encontro teve como foco a relevância da comunicação diante do cenário político-econômico do país.
A primeira parte da aula, ministrada pelo professor da Faculdade de Educação da UERJ, Helder Molina, foi dedicada à teoria. Foi utilizado como marco teórico o filósofo e sociólogo Jürgen Habermas, grande expoente, ainda vivo, da segunda geração da Escola de Frankfurt (Alemanha), o qual, com a sua teoria do discurso ou do agir comunicativo, prestou relevante contribuição não só para a filosofia, mas para também para o direito, para a ética e para a política. Os filósofos Antonio Gramsci e Marilena Chauí, o professor Dênis de Moraes e o jornalista Altamiro Borges também foram utilizados como fonte teórica.
Aula prática
A segunda etapa do módulo foi dedicada à apresentação de algumas das principais técnicas de discurso e sobre a linguagem corporal e, por último, uma exposição oral de cada participante acerca de assuntos variados relacionados à atividade sindical. A performance de cada participante foi filmada para posterior autoavaliação de desempenho, parecer dos demais membros do grupo e também do professor, identificando os pontos fortes e fracos do discurso. Além disso, nos casos em que houve necessidade, propostas de aperfeiçoamento foram direcionadas ao orador.
Visão crítica da realidade
Na avaliação da diretora do Sisejufe Fernanda Picorelli, a tônica do estudo foi a importância da comunicação como vetor de uma autoconsciência social que seja capaz de produzir ações voltadas à obtenção de conquistas coletivas e maior justiça social, e também de impor resistência às tentativas de subtração de direitos e às várias formas, explícitas ou subliminares, de dominação (a mídia tradicional, por exemplo, sob a alegação de que exerce uma função social específica – informar a comunidade – muitas vezes é utilizada para manipular informações e se torna um forte coadjuvante quando o que está realmente em pauta é a manutenção de poder).
“Para a concretização desse desejável cenário, é imprescindível que a comunicação seja realizada a partir de uma visão crítica da realidade e com lastro em um discurso qualitativo, isto é, que prime pela clareza e construção lógica do pensamento, pelo reconhecimento intersubjetivo das pretensões postas em debate, de tal modo que a verdade – que não deve ser tida como um valor absoluto – possa ser definida consensualmente e validada pelos envolvidos” diz a dirigente sindical, acrescentando ser fundamental que o diálogo ocorra em uma esfera pública livre de domínio, constrangimentos ou qualquer pressão da ordem social, fatores que estão direta e proporcionalmente relacionados ao aperfeiçoamento da democracia.
Manipulação da massa
Para a servidora Monica Santana, o curso foi um grande aprendizado e um convite à reflexão. “A mídia é o partido da classe dominante de um país. Por meio dela, são construídas a consciência e ideologia. A mídia não é neutra. Elas são empresas que vendem a imagem de imparcialidade e de mera reprodutora de notícias, o que não é verdade. A mídia se diz porta-voz da sociedade, mas são em suas mensagens subliminares que atuam com a mais perversa das intenções para formação de opinião e manipulação da massa”, opina.
Experiência valorosa
Fernanda Picorelli acrescenta que esse módulo, a exemplo dos outros três que o precederam, agregou muito valor ao capital intelectual dos participantes. “A metodologia empregada pelo mediador Molina foi um sucesso e os participantes estão de parabéns por se disporem a enfrentar o desafio proposto. Estamos certos que o grupo vivenciou uma experiência muito valorosa e edificante, considerando não só o acesso a uma bibliografia que reverbera grandes reflexões, mas também porque passou a se sentir encorajado a utilizar esse instrumento eficaz de transformação do mundo, que é o discurso, a partir das técnicas assimiladas e da segurança própria que advém desse preparo prévio, o qual muito apropriadamente integrou teoria e prática”, ressaltou a diretora.
Um espaço para a troca de conhecimentos
Para a servidora de Cabo Frio Anny Figueiredo, que participou de todos os módulos, os conhecimentos adquiridos servirão de bagagem para aprimorar sua atuação no sindicalismo, uma área ainda nova para ela: “poder partilhar esse momento de grande aprendizado com os colegas foi uma experiência muito gratificante. Que venham novos desafios”.
Helder Molina elogiou a perseverança dos diretores e servidores que estiveram nos encontros. “São momentos de produção e troca de conhecimentos, aprofundamento de temas sócio políticos, filosóficos culturais, e profissionais. Foi um espaço de convivência fraterna, respeitosa, valorizando as convergências, mediando as divergências, buscando consensos, para melhorar nossos valores humanos e nossas práticas sindicais e profissionais” disse o professor, informando ainda que o curso poderá continuar em 2017, abordando novas temáticas.
Molina diz que a próxima meta será atrair mais dirigentes e mais servidores dos locais de trabalho, aumentando a participação da base. “Formação é ferramenta estratégica para os trabalhadores e as trabalhadoras, para melhor agir, conquistar e garantir direitos”, concluiu.
*Da redação