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Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no estado do Rio de Janeiro - Telefone: (21) 2215-2443

Ato normativo aprovado pelo CNJ humaniza julgamento de pessoas com deficiência

Departamento de Acessibilidade e Inclusão do Sisejufe vê medida como avanço no cumprimento do princípio Constitucional da igualdade

Servidores trabalham no computador enquanto um rapaz faz interpretação de libras para uma jovem, que está de costas
Tribunal de Justiça do Acre já ofereceu o serviço de intérprete de Libras em audiência na Vara de Proteção à Mulher. Foto: TJAC

O Plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou, durante a 76ª Sessão Virtual, no dia 29 de outubro, Ato Normativo (nº 0006096-60.2020.2.00.0000) para estabelecer diretrizes e procedimentos referentes ao tratamento de pessoas acusados, rés, condenadas ou privadas de liberdade e adolescentes em conflito com a lei, que tenham deficiência auditiva e/ou visual, no âmbito da Justiça criminal e da infância e adolescência.

Relator do processo, o conselheiro do CNJ Mario Augusto Figueiredo de Lacerda Guerreiro destacou que existe a necessidade de identificação das pessoas acusadas ou condenadas com deficiência auditiva, visual ou ambas, na audiência de custódia, na primeira audiência criminal e na audiência de apresentação de adolescentes. E seu registro deve ser feito em todos os atos processuais. “É preciso dar concretude ao princípio constitucional da igualdade, de modo a assegurar os direitos dessa população também perante a Justiça criminal e da infância e juventude.”

Entre os aspectos destacados no ato, está a garantia da presença de intérprete em todas as etapas do processo; autorização da presença de atendente pessoal, acompanhante ou ambos; concessão de prioridade na tramitação dos autos da ação penal e ação de apuração de ato infracional; garantia de acesso completo às audiências criminais, socioeducativas e demais atos processuais; custeio das medidas pelos tribunais e cientificação da administração prisional acerca da condição dessas pessoas.

Além disso, o reconhecimento da condição de pessoa com deficiência auditiva, visual ou ambas se dará por meio da autodeclaração, por meios verbais e não verbais, que poderá ser manifestada na fase pré-processual, no processo criminal e na execução penal e, para adolescentes, no processo de apuração de ato infracional e de execução de medida socioeducativa.

“A elaboração de um texto mais abrangente permite a identificação da pessoa com deficiência pelo próprio magistrado a partir da autodeclaração ou por meio de indícios para não burocratizar o processo. O texto foi preponderantemente firmado na Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência [Decreto 6.949/2009]”, explicou o conselheiro.

Acessibilidade para todos e todas

Para Ricardo Azevedo, que é coordenador do Departamento de Acessibilidade e Inclusão do Sisejufe, o ato normativo é muito positivo.

“Notícia alvissareira essa que vem do Conselho Nacional de Justiça. Ao meu ver, processos que envolvem pessoas com deficiência nos quais não lhe são dadas as condições de acessibilidade mínimas, poderão ser considerados nulos de pleno direito ou até mesmo considerados como processos de exceção, o que seria um afronto flagrante à Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, assinada pelo Brasil e que no nosso ordenamento jurídico pátrio é letra Constitucional. Representa, outrossim, um afronto à própria Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146 de 2015). A acessibilidade deve ser garantida sempre a todos e todas, em quaisquer condições que essas pessoas estejam envolvidas. Se, de tal forma, não for observada, poderemos mexer, inclusive, com a dignidade da pessoa humana. O direito brasileiro tem o dever de observar tais preceitos”, afirma o dirigente sindical.

Fundamentação do Ato Normativo

De acordo com Mario Guerreiro, o ato normativo atende à determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) em julgamento do habeas corpus 154.434, no qual determinou que a ré portadora de deficiência auditiva fosse encaminhada à audiência de custódia, o que não havia ocorrido, conforme determina a Resolução CNJ nº 213/2015. “Elaboramos a recomendação em razão da determinação do STF requerendo a regulamentação da matéria pelo Conselho.”

Pelo ato normativo aprovado, a unidade administrativa do tribunal designada como Comissão Permanente de Acessibilidade e Inclusão (CPAI) deverá atuar para garantir, entre outros, a nomeação de intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras), disponibilização de equipamentos que propiciem a utilização de legendas, audiodescrição, viabilização de impressão em Braille de atas de audiência e demais autos processuais.

A pessoa com deficiência auditiva, visual ou ambas terá direito ao acesso completo aos autos, com antecedência, em todas as etapas do processo, com fornecimento de documentação processual em formato acessível, incluindo arquivos digitais que possam ser reconhecidos e acessados por softwares leitores de telas ou outras tecnologias assistivas, per mitindo leitura com voz sintetizada, ampliação de caracteres, diferentes contrastes, assim como impressão em Braille.

Os tribunais poderão ainda promover, em parceria com as escolas de magistratura, cursos destinados à permanente qualificação e atualização funcional dos juízes e servidores que atuam nas Varas Criminais, Juizados Especiais Criminais, Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Varas de Execução Penal, Varas de Apuração de Ato Infracional e Varas de Execução de Medidas Socioeducativas, em colaboração com a CPAI do respectivo tribunal, instituições de ensino superior ou outras organizações especializadas.

Imprensa Sisejufe, com informações da Agência CNJ de Notícias

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