Encontro no Espírito Santo, que contou com a participação de representantes do Sisejufe, discutiu caminhos para enfrentar o problema
Quem é vítima de assédio moral guarda marcas difíceis de serem apagadas. A servidora Adriana Litieri, da Justiça Federal da Bahia, já sofreu este tipo de violência psicológica entre 2001 e 2003. A assediadora foi uma ex-diretora da vara onde trabalhava. “Ela assediou não somente a mim, mas quatro colegas também. Tive que sair do setor, por ordem do juiz na época, que depois reconheceu a injustiça cometida. Nunca mais fui a mesma servidora desde então”, relatou Adriana. Preocupados com o aumento de casos como o vivenciado por esta servidora, dirigentes sindicais se reuniram nos dias 2 e 3 de dezembro, em Vitória (ES), no I Fórum de Debates sobre Assédio Moral com foco no Poder Judiciário.
O encontro, que contou com a presença de representantes da Fenajufe e de sindicatos federais e estaduais do país teve, dentre os objetivos, discutir soluções para priorizar a condução de casos de assédio moral e abuso de poder produzidos no Poder Judiciário. Pelo Sisejufe, participaram os diretores Dulavim de Oliveira, Helena Cruz, Neli Rosa e Soraia Marca, além da servidora do TRT-RJ, Monica Santana.
O início
O servidor José Wenceslau Alcântara Fernandes (TRT/ES), um dos idealizadores e organizadores do fórum, abriu o evento narrando a sua história de assédio moral sofrida no Tribunal Regional. “Resolvi não ficar calado. Se eu fosse mais jovem e não tivesse o apoio da minha esposa, certamente teria feito uma besteira. No TRT do Espírito Santo, tivemos casos de suicídio no ambiente de trabalho”, destacou.
O Fórum teve como palestrante convidado o professor da Unicamp, Doutor Roberto Heloani, que fez um relato do cenário do assédio moral ao longo do tempo e relacionou a organização do trabalho como base para o assédio moral. Para o pesquisador, o assédio moral é um instrumento eficaz para detonar o coletivo com o enfraquecimento das relações do grupo.
Troca de experiências entre as entidades
Durante o evento, experiências de diversas entidades sindicais foram debatidas. Um dos exemplos citados foi o trabalho do Observatório de Combate ao Assédio Moral do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário da Bahia (Sinpojud – www.sinpojud.org.br), que ganhou destaque pela inovação da abordagem inicial com o uso da mediação para resolver o conflito. O Observatório tem como proposta ir ao local em que o fato ocorreu e conversar com os envolvidos na tentativa de negociar uma solução por meio da comunicação.
O Sindicato do Poder Judiciário do Estado Rio Grande do Sul (Sindjus-RS) também possui uma comissão permanente de combate ao Assédio Moral com a presença de psicólogos.
Já a primeira medida adotada pelo Sisejufe, segundo a diretora Soraia Marca, é a retirada do servidor do setor no qual está sendo assediado e procurar o meio mais eficaz para o encaminhamento do conflito. No entanto, em um dos casos de assédio moral de maior repercussão na mídia, ocorrido no TRT do Rio, um servidor do interior, por ser paraplégico, foi chamado pela assediadora de “meio servidor”. Neste caso, após entrar de Licença-médica, a assediadora foi removida para a capital e o servidor agredido permaneceu na Vara. A atuação do Sisejufe, na época, ganhou destaque na emissora de maior audiência da região.
Dirigentes do Sindijufe Ro-Ac, João Cruz Beleza e Alisson Ribeiro fizeram o relato de experiências implementadas no Norte, como foi o caso da contratação de uma psicóloga para trabalhar no combate ao assédio moral, bem como a divulgação de vídeos, para todos os servidores, de comportamentos reiterados de assediadores. Em um caso específico, o vídeo chegou ao assediador que, dentre as ações, estava o não cumprimentar a sua equipe com um “bom dia” e, que logo após a ampla divulgação, passou a agir de forma distinta.
O papel da Fenajufe
A Fenajufe esteve representada pelos coordenadores Alisson Ribeiro, Elcimara Souza e Mara Weber. Para Mara, coordenadora de comunicação da Federação, a instituição começou a agir neste campo com a criação de um coletivo voltado para a saúde do servidor: “Eu defendo que a Fenajufe se constitua no suporte de formação e de apoio aos sindicatos menores na questão de enfrentamento do assédio e de abuso de poder. Precisamos estar atentos às rotinas necessárias para a preservação da saúde do servidor como a colocação de mobiliário adequado no ambiente trabalho na tentativa de se evitar doenças laborais, por exemplo. Temos que nos preocupar com a preservação da saúde física e mental do servidor”, defendeu.
Motivos que levam ao adoecimento do servidor
Outro ponto de destaque foi a constatação que as novas tecnologias implicam no adoecimento do trabalhador no uso de ferramentas que não estão funcionando a contento, produzindo uma carga horária extra de trabalho que acaba sendo, muitas vezes, complementada na casa do servidor, após uma exaustiva jornada de trabalho, bem como a cobrança cada vez maior de metas de produtividade.
O trabalho invisível aos olhos da sociedade foi outro ponto de abordagem do debate, levando a conclusão de que a população apenas consegue visualizar o trabalho do magistrado, gerando a sensação de menos valia, frustração e desmotivação no servidor público.
Novo encontro
O próximo encontro para combate ao Assédio Moral no Serviço Público deve acontecer no Ceará e as entidades presentes se comprometeram a implementar e intensificar ações para o combate ao assédio e abuso de poder no ambiente de trabalho.
Entenda o assédio moral
de renome conceituam o assédio moral como sendo o terrorismo psicológico que se manifesta pelo encadeamento, frequente e repetitivo, que ocorre no ambiente de trabalho, visando diminuir, constranger, vexar e demolir psiquicamente um indivíduo ou um grupo, degradando as suas condições de trabalho, atingindo a sua dignidade e colocando em risco a sua integridade pessoal e profissional.
Imprensa Sisejufe, com informações da jornalista e servidora do TRT-RJ, Monica Santana