O Sisejufe realizou, na noite da última segunda-feira (08/03), um Escuta Mulher Especial em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. Com o tema “A Justiça é Mulher”, o debate principal foi quanto à valorização das servidoras do Judiciário Federal da União.
Na abertura, a presidenta Eunice Barbosa enfatizou que a transmissão faz parte das diversas homenagens realizadas pelo sindicato ao longo do mês de março. “Eu acolho todas vocês, sejam muito bem-vindas nesse espaço de construção coletiva, de muita sororidade e construção amorosa”.
Eunice reforçou o objetivo de troca de experiências e “energias sobre as nossas vidas. Eu saúdo toda a nossa ancestralidade que nos permitiu que estivéssemos aqui hoje fazendo a nossa parte”, completou.
A roda de conversa do projeto teve as presenças das servidoras homenageadas, bem como de diretoras do Sisejufe. A coordenadora do Departamento de Mulheres, Anny Figueiredo, iniciou sua fala manifestando repúdio a todas as situações de violência na área política sofridas pelas candidatas eleitas. “O que nós temos visto neste último período é que muitas mulheres foram eleitas e têm sofrido um abuso e um assédio constantes”.
Para Anny, o 8 de março é uma data para celebrar as lutas coletivas e as batalhas individuais, dia de se conhecer a força e obstinação femininas, de renovar a busca e determinação de união em busca de um mundo igualitário onde meninas e mulheres possam desenvolver os melhores potenciais sem medo da violência, “ocupando todos os espaços desejados e usufruindo de uma existência plena, realizando, assim, o sonho de todas as mulheres de luta que nos antecederam”.
A Justiça é Mulher?
Sobre o tema “A Justiça é Mulher”, a servidora da JFRJ Renata Mousinho ponderou que a Justiça ainda apresenta uma face machista na medida em que existem mulheres machistas. “Atualmente somos obrigadas a passar por situações onde temos que criticar as atitudes de mulheres que são machistas. Infelizmente, a justiça ainda é uma mulher muito machista que nos massacra por estar pautada no patriarcado”.
Para Thamyris Macedo, servidora da JFRJ, há um retrocesso. “Durante um tempo, as mulheres tomaram conta dos concursos públicos do Judiciário, houve um grande número de empossadas mulheres, mas agora estamos num período de retrocesso que atingiu também o Judiciário”. Ela avalia que isso faz parte desse momento em que as pessoas com poder decisório são de uma classe média branca, patriarcal e misógina. “Acredito que esse momento vai passar rápido e a mulher vai retomar a galgada rumo ao empoderamento para que voltemos a ter uma sociedade mais equilibrada”, completou.
Para a colega do TRT-1 Raquel Albano, o papel da mulher é ocupar posições dentro do Judiciário. A servidora chamou a atenção para a importância do papel matriarcal como forma de romper paradigmas impostos pela sociedade. “São mulheres-mães que estão criando filhos para esse novo mundo, esse novo momento, e nós fazemos parte dessa história”.
A servidora Maria Cristina Mendes quis saber das convidadas quais os referenciais femininos que elas têm nas suas vidas.
Iris de Faria, servidora da Seção Judiciária do Rio de Janeiro respondeu que tem referências femininas fortes, como a mãe e a avó, mas vem de uma família onde os homens têm muito destaque e as mulheres não puderam florescer com a potência que tinham. “Mas não se segura esse tipo de força e potência”, diz Iris.
Para ela, é preciso se posicionar contra as forças conservadoras e retrógradas, mas acredita que há conquistas que não se perdem. “A nossa voz e a nossa forma de nos colocarmos no mundo, não há retrocesso que segure isso”, completou.
Dor e luta contra o assédio
A coordenadora do Departamento de Saúde e Combate ao Assédio Moral do Sisejufe, Andrea Capellão, também integrou o debate e fez um breve histórico dos mais de 30 anos como servidora do Poder Judiciário, relembrando casos em que a capacidade feminina de obter reconhecimento e ocupar cargos de supervisão, por exemplo, foram colocados à prova.
Andrea ainda abordou o preconceito contra as mulheres transexuais “que, em sua maioria, sofrem mais do que nós sofremos. Eu quero conclamar todas vocês a nos unirmos nessa luta que não é só nossa, mas de todas as mulheres”, finalizou.
Outras experiências de assédio moral e sexual foram apresentadas ao longo da roda de conversa, como expôs a coordenadora do Departamento de Movimentos Sociais, Soraia Marca, que vivenciou o problema na infância e na vida adulta e da servidora do TRT1 Vera Lúcia Pinheiro, que relatou ter sofrido discriminação quando iniciou sua carreira de oficial de justiça, na época dominada por homens.
A secretária-geral do Sisejufe, Fernanda Lauria, diz que a questão do assédio é o maior desafio que as mulheres têm a enfrentar. “Essa é uma das nossas pautas principais. São casos que acontecem não apenas no âmbito do Judiciário, mas em todas as esferas da sociedade”, considerou. A dirigente sindical chamou a atenção para o fato quase a totalidade das mulheres já ter sido molestada ou ter sofrido algum tipo de assédio na vida. Todas as convidadas concordaram.
Glauce Rangel, servidora do TRF2, contou que, antes de trabalhar no tribunal, um ex-chefe tentou prejudicá-la profissionalmente porque ela reprimiu suas tentativas de assédio. No Judiciário também passou por situações constrangedoras.
A servidora do TRF2 Julia Gondin afirmou que se sentiu acolhida ao realizar a transição de gênero dentro do Tribunal, mas passou a ser vítima do assédio que muitas mulheres sofrem nas ruas.
O Escuta Mulher de 8 de março contou ainda com a participação da servidora Aniele Xavier (SJRJ); da representante de base Carla Nascimento (TRT1); da assessora política do Sisejufe, Vera Miranda; das diretoras Mariana Petersen e Neli Rosa; da militante da Marcha Mundial das Mulheres, Ana Priscila Alves e da assistente de assessoria política Patrícia Klein. A profissional Rosane Rabelo fez a interpretação de libras na live.
Acolhimento, solidariedade e militância
Ao final da transmissão, as dirigentes do Sisejufe reafirmaram o trabalho desempenhado pela entidade, em especial pelo Departamento de Mulheres, na ajuda, acolhimento e solidariedade àquelas que mais precisam. “Nós mantemos as ações, mesmo em tempos de pandemia, junto com a Marcha Mundial das Mulheres, para ajuda e acolhimento social; junto com ações de conscientização política e militância para mudar todo esse quadro”, explicou Anny Figueiredo.
Por fim, a coordenadora reforçou as bandeiras de luta incluídas no Manifesto do 8MRJ, entre elas, o basta ao machismo, racismo, LGBTfobia e todas as formas de violência; Justiça à Marielle Franco; Pela legalização do aborto; Pela revogação da Lei de Alienação Parental; Contra a Reforma Administrativa; Fora Bolsonaro e outros. A íntegra do manifesto pode ser lida AQUI
O Escuta Mulher Especial do 8 de Março permanece disponível via canal do Sisejufe no Youtube. Clique aqui para acessar.
Caroline P. Colombo para o Sisejufe