Por Lucas Costa*
A coerência que devemos cobrar das autoridades e dos que deveriam efetivamente liderar a nação é aquela que reconhece e respeita as orientações baseadas em análises científicas e dados empíricos obtidos com as experiências vivenciadas recentemente em outros países.
Não se trata apenas de isolar do nosso convívio as pessoas dos grupos de risco, até porque isso tem se mostrado inviável na prática, notadamente nas comunidades mais pobres das periferias e favelas, em que muitos familiares convivem em casas com um único cômodo e em que faltam saneamento básico, sabonete, álcool e até fornecimento de água.
Trata-se, pois, de reconhecer que os países que adotaram medidas extremas de isolamento social, com a devida celeridade e urgência, conseguiram superar com maior brevidade a crise sanitária em seu território.
Não é possível continuar questionando levianamente e por razões políticas os motivos de a OMS ter orientado o isolamento social, uma vez que os países que não o fizeram rapidamente e de modo eficiente ou mesmo os que flexibilizaram extemporaneamente as medidas de distanciamento, experimentaram o colapso de seus sistemas de saúde e muitas mortes desnecessárias, dado que a insuficiência de leitos hospitalares, UTIs, equipamentos de ventilação artificial etc impediram que pacientes fossem atendidos tanto para casos graves de Covid-19, quanto para casos urgentes que já são comuns em uma sociedade.
É incrível que ainda haja um grupo tentando colocar em nós cautelosos a pecha de irresponsáveis, por supostamente “ignorar os impactos econômicos do isolamento”, ou de histéricos exagerados, quando na verdade estamos nos baseando em fatos, estatísticas e orientações profissionais.
Estamos muito preocupados sim com o aspecto econômico, tanto que nos causa exasperação o descolamento da realidade e a lentidão para se adotarem providências efetivas no âmbito federal visando conter o avanço da epidemia e proteger os socialmente vulneráveis (pobres, autônomos, trabalhadores informais) com dinheiro público, além de socorrer as empresas com prorrogação de prazos tributários, redução de alíquotas ou isenção fiscal, empréstimos a juros zero ou negativos etc.
Irresponsabilidade, a nosso ver, é negar a realidade por razões políticas, como o presidente da República insiste em fazer, atrasando a adoção de medidas urgentes ou editando normas que podem nos levar rapidamente ao caos urbano, como a suspensão de salários dos trabalhadores por 4 meses ou o pedido para que as pessoas voltem às suas rotinas normais…
Mas enfim, há os que ainda assim achem melhor continuarem nos classificando como vagabundos que supostamente não percebem a importância de se trabalhar ou nos chamar até de irresponsáveis, alardeando o slogan surreal “o Brasil não pode parar” (produzido pelo governo com milhões de reais de dinheiro público), do que assumirem a própria parcela de responsabilidade para se evitar a disseminação do vírus e o colapso do nosso sistema se saúde.
A crise sanitária já está instalada, mas seus efeitos, ainda que inevitáveis sobre a saúde pública e economia, podem e devem ser amenizados com ações efetivas e imediatas.
Irresponsável é um presidente da república ficar fazendo propaganda para que o povo continue trabalhando, contrariando autoridades de saúde pública do mundo inteiro, para fazer demagogia e lavar as mão sobre os efeitos da crise, culpando a imprensa, os prefeitos e governadores pelos índices econômicos que certamente serão péssimos.
Não adiantará depois, quando já estivermos velando milhares de mortos, vir a público para pedir desculpas pelo “erro” de ter apoiado campanha publicitária pedindo o retorno da população às ruas, como hoje faz o governo brasileiro nas redes sociais, seguindo o trágico exemplo do prefeito de Milão, na Itália.
A continuar desse modo, induzindo muitos à morte, Bolsonaro deveria ser processado por crime contra a saúde pública, além dos crimes de responsabilidade que já cometera, e retirado imediatamente do poder, até porque presidente, de fato, ele já não é mais…
A imprensa, os governadores, a população em geral, o STF, os deputados e senadores, todo mundo enfim já percebeu que esse sujeito não governa mais o nosso país.
Acabou, Bolsonaro. Definitivamente, acabou.
Lucas Costa é vice-presidente do Sisejufe e servidor do TRE-RJ