O Mês do Servidor é para celebrar, mas também para refletir sobre o trabalho. O psicólogo, professor da UFRJ, Fernando Gastal, esteve no TRF para falar sobre a síndrome de Burnout, que trata do esgotamento profissional, nesta segunda-feira (15/10). O tema foi sugerido pela Presidência da casa. O diretor do Sisejufe Ricardo Horta fez parte da mesa, representando os servidores do tribunal.
Num breve histórico, o professor explicou que a síndrome surge com a implementação da excelência como princípio de gestão no fim dos anos 80 em empresas privadas, mas ao longo do tempo também já foi incorporada pela administração pública. A partir de então, a avaliação de desempenho passa a ser individual e não mais por equipes e também não basta cumprir as metas: é preciso superá-las. Nesse contexto, o trabalhador interiorizaria a excelência, não querendo ser mediano. Assim, o que é superior hoje, vira média no período seguinte e a consequência desse fenômeno são organizações adoecidas. ”Burnout seria então oriunda de relações de trabalho extremamente violentas.”
Para Gastal, a primeira dimensão da patologia é o esgotamento das energias físicas e psíquicas. “Ao contrário da depressão, na qual o indivíduo não consegue mais fazer, no Burnout as pessoas continuam trabalhando, como um morto-vivo, como um robô, esvaziado de sentido pessoal daquilo que preenchia a vida”, explicou o professor. A segunda dimensão é relacional, quando há a despersonalização das relações com o outro. Com a competitividade, o outro passa a ser visto como algo, não há a reciprocidade. Por último, na terceira dimensão, há o abalo do “Eu”, que sofre uma metamorfose profunda, desorganizando a identidade de quem trabalha. O sujeito se vê como fracassado, impotente, desiludido.
Para o professor, a saída não pode ser apenas um tratamento psicoterápico, no qual se buscaria a adaptação do sujeito, mas intervenções coletivas, com a construção de ambientes cooperativos para todos. “É necessário pensar nas relações concretas das pessoas que aqui trabalham.” Para o psicólogo do TRF Bruno Fará, que coordenou a mesa, falta esse espaço comum inclusive para os magistrados. “Estou trabalhando aqui há 20 anos. É a primeira vez que estamos entrando nos gabinetes”, contou.
Diretor do sindicato elogiou iniciativa da Presidência
O diretor do Sisejufe Ricardo Horta destacou que hoje o TRF é uma ilha no Judiciário, pois nos demais tribunais, as administrações não dão espaço para esse tipo de debate. Ele criticou a lógica burocrática que faz uma divisão entre aqueles que estabelecem as metas e aqueles que executam o trabalho, sem participar do processo. “O mais comum é ter pessoas que não conhecem o processo de trabalho que estão interferindo e nem sequer imaginam como será o impacto dessa interferência em quem está na base produtiva”, lamentou. A diretora de Imprensa do Sisejufe, Soraia Marca, também participou do evento.
Também participaram do debate o desembargador do TRF2 Theophilo Miguel, que elogiou a atuação do sindicato, que vem buscando trabalhar com base no diálogo com a administração do tribunal, a juíza da Seção Judiciária do Rio de Janeiro Bianca Stamato e a psicóloga Cláudia Pinto.