Líder do governo na Câmara é chamado de ladrão de vacinas por manifestantes e não responde a servidor sobre efeitos da reforma
Na décima semana de vigília de servidoras e servidores contra a Proposta de Emenda Constitucional 32/20, a manhã dessa terça-feira, 16, foi marcada por um enorme protesto no saguão do Aeroporto Internacional de Brasília. Durante as atividades no salão de desembarque, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-RR) foi chamado de “ladrão de vacinas” por dezenas de manifestantes que o acompanharam até o elevador, acusando-o de fazer parte de um governo genocida e que contabiliza mais de 600 mil mortes, sem ter feito combate necessário e possível à Covid-19 desde o início da pandemia, em março de 2020.
O deputado permaneceu calado até ficar sozinho no elevador com um casal de servidores. Foi quando chamou os manifestantes de mal-educados. “Vocês são muito mal-educados. Aprendam a respeitar as posições”, disse. Mas voltou a se calar quando foi perguntado por um deles sobre os efeitos das PEC 32 e 23 para a população.
Diretoras do Sisejufe abordam deputado do Novo
Durante as atividades de recepção aos parlamentares no aeroporto, o deputado fluminense Paulo Gamine, do Partido Novo, conversou rapidamente com as diretoras Soraia Marca e Helena Cruz sobre a PEC 32 e disse que agendaria uma reunião com a representação do Sindicato para ouvir os argumentos contra a reforma administrativa. Apesar de pertencer a um partido hostil ao funcionalismo e que prega a privatização dos serviços, Gamine ouviu com atenção as servidoras.
Servidora sofre ato racista
Pela manhã, durante a atividade de recepção aos parlamentares na área de desembarque do Aeroporto Internacional de Brasília, foi realizada uma performance musical do coletivo de cultura Afro Obará. A diretora do Sindicato Nacional dos Docentes (Andes) Zuleide Queiroz e integrantes do grupo foram atingidos por restos de comida jogados pela sacada do segundo andar por um homem branco, que deixou rapidamente o local sem ser abordado por nenhum segurança ou funcionário do aeroporto. “Ao olhar para cima, nos deparamos com um homem branco, raivoso, segurando uma lata de lixo e derrubando todo o lixo na nossa cabeça. Ele simplesmente jogou todo o lixo e saiu andando. Mesmo vendo a atitude do homem, policiais não o abordaram e ele seguiu tranquilamente para fora do Aeroporto. O racismo foi explícito. Ele jogou o lixo em nós, negros/as’’, disse Zuleide em nota de repúdio publicada pela entidade dos professores universitários.
Sem apoio e sem votos, Lira adia votação mais uma vez
Mais uma vez, a PEC 32 não foi pautada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL). Lira disse à rede CNN, em Portugal, onde participa do 90 Fórum Jurídico de Lisboa, que o governo brasileiro teria que se mobilizar para aprovar a reforma administrativa. “Segundo ele (Lira), a reforma não está na pauta porque não há mobilização do governo. E que não há apoio da sociedade civil a favor da PEC. Até que enfim reconheceu que não tem apoio da sociedade. Porque o que eles falavam é que o mercado tinha que vir aqui aprovar a PEC. Mas o problema é exatamente esse: a sociedade civil que ele está chamando já descobriu o que é a proposta da reforma administrativa, que ela vai acabar com o serviço público”, disse o deputado Rogério Correia (PT/MG), durante o ato realizado pelos servidores na tarde dessa terça-feira, 16, no Anexo II do Câmara.
Antes dele, falou a deputada estadual Leninha, do PT de Minas Gerais, que estava na Câmara para uma audiência pública sobre mineração e aproveitou para prestar apoio à contra às reformas. “Hoje tem chuva, mas tem luta. Temos feito um trabalho junto à sociedade sobre a ameaça real de desmonte dos serviços essenciais do nosso povo pobre. Estamos falando dos serviços da saúde, da educação, de serviços importantes da assistência social, da segurança para a população. São os mais pobres que vão sofrer. São os mais pobres que buscam no Estado a sua segurança, sua saúde, sua educação e serviço social. Não estamos falando daqueles que nunca precisaram do serviço público”, disse a parlamentar.
Policial Federal e outras carreiras chamadas típicas também serão atingidas
Rogério Correia destacou, ainda, a data de 16 de novembro como o dia do policial federal e lembrou que o texto da PEC 32 atinge também esta categoria. “Hoje é o dia do policial federal. Eu conversava com um deputado que é da categoria e ele não sabia, mas essa PEC é tão absurda que eles, assim como os agentes fiscais etc, poderão ser contratados temporariamente, se essa proposta for aprovada. Nem nas chamadas carreiras típicas ou exclusivas se estabelecerá mais a obrigatoriedade do concurso público”, alertou.
Nem a chuva que caiu hoje Brasília atrapalhou as atividades programadas
“Mais uma semana e a gente está aqui enfrentando as intempéries, enfrentando os ataques como esse que a companheira acabou de descrever (em referência ao ato de racismo sofrido pelos manifestantes durante a atividade da manhã, no aeroporto). Enfrentando um projeto absurdo de destruição dos serviços públicos, de retirada de direitos da população que mais necessita dos serviços públicos, em especial das mulheres negras, das mulheres pobres, do povo trabalhador que realmente necessita de serviços públicos e que sabe que um voucher não vai ser a solução para a necessidade de direitos que temos nessa sociedade”, disse o coordenador-geral da Fenajufe Fabiano dos Santos. Para ele, a PEC 32 é apenas a “pontinha do iceberg que carrega um monstro que está debaixo d’água”, que é a tentativa do governo e seus aliados de retira todos os direitos da classe trabalhadora, e não apenas de servidores.
As diretoras do Sisejufe Soraia Marca e Helena Cruz que estão acompanhando as atividades da vigília contra a reforma administrativa, na Câmara, e contra a PEC dos Precatórios ou PEC do Calote, no Senado, destacaram a intensa e crescente mobilização das categorias, mesmo após uma semana de feriado e dia chuvoso. “apesar do feriado prolongado, o dever de combater a PEC 032 nos trouxe à Brasília para mais uma semana de protestos. Não podemos deixar que o governo pense que estamos desatentos. Muito pelo contrário, a aprovação da PEC do Calote nos deixou mais antenados em relação às manobras ardilosas deste desgoverno”, disse Helena.
“O Sisejufe atende novamente ao chamado da Fenajufe e está presente em Brasília, na luta contra a PEC 32. Não vamos parar até que esta PEC do desmonte seja arquivada”, complementou Soraia.
Manuella Soares