Em respeito às orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), o isolamento social foi implantado em todo o mundo. Com a pandemia do novo coronavírus, trabalhadoras tiveram sua rotina completamente alterada da noite para o dia. A jornada das mulheres que já era intensa ganhou contornos mirabolantes.
A desigualdade de gênero sempre colocou as mulheres na linha de frente no desempenho das funções domésticas e a pandemia acentuou essa situação. Culturalmente, é papel da mulher cuidados com a casa, criação e educação dos filhos, e com o marido, enfim, toda sorte de cuidados com a reprodução social da vida. Com a pandemia muitas tem se redobrado para atender todas as tarefas domésticas e de cuidados e ainda manter as atividades laborais a contento.
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, mostram que as mulheres gastam mais de 18 horas semanais com trabalhos domésticos enquanto os homens gastam apenas 10 horas. Com o cenário da pandemia, essas horas aumentaram consideravelmente.
O teletrabalho, sem elencar as profissões em que esta modalidade não foi possível, o acúmulo de funções e a nova situação têm causado estresse, ansiedade, cansaço e inúmeros casos de transtornos mentais nas trabalhadoras. A sobrecarga é evidenciada mesmo nas mulheres que não trabalham fora. A atenção redobrada com os filhos que estão estudando em casa, a insegurança com o cenário pós-pandemia, o medo do desconhecido aliado ao convívio intensificado com todos no mesmo ambiente contribui para o abalo na saúde física e mental delas.
Muitos órgãos e instituições ao aderirem ao home office estipulam metas e produtividade para as servidoras e servidores. Esta modalidade há muito é discutida nas instâncias da Federação que zela pela saúde dos servidores. Alguns tribunais, que antes da pandemia já haviam adotado o teletrabalho, exigem muito dos trabalhadores. Ambiente inadequado, mobiliário impróprio entre outros, contribuem para o desgaste da saúde. E nesse momento o home office tem sido o vetor principal de doenças para servidoras que triplicaram jornada de trabalho.
A psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), de uma região do entorno de Brasília fala que nesse momento em que as mulheres redobraram a jornada de trabalho com o Home Office é importante parar com as cobranças. E que o primeiro passo para manter a saúde física e mental é abandonar o perfeccionismo.
Servidoras do PJU tem enfrentado as mesmas dificuldades. A readequação da rotina, de horários e de atividades tudo isso tem gerado desgaste físico e emocional. Ainda segundo a psicóloga, estipular tempo para o cumprimento das tarefas é fundamental, mas as trabalhadoras devem ter um tempo dedicado a elas. Ouvir música, dançar, fazer exercícios físicos, ter alimentação saudável contribui para o bem estar. Importante permanecer com o isolamento social, mas manter comunicação com amigos, parentes e atividades culturais, mesmo que à distância.
As mulheres tem o jeito peculiar de abraçar várias funções ao mesmo tempo e isso faz delas, seres especiais. No entanto vale ressaltar que necessitam de cuidados também especiais. Ambiente de trabalho adequado, respeito por seu profissionalismo e competência, mas principalmente ocupar os mesmos espaços de trabalho em igualdade com os homens, sejam eles profissionais ou domésticos.
Fonte: Joana Darc Melo, da Fenajufe