Os participantes do primeiro dia, nesta sexta-feira (22/11), do Seminário Nacional da Fenajufe de Combate ao Racismo e Identidade Negra no Judiciário Federal e Ministério Público da União reforçaram a necessidade de a sociedade e o movimento sindical intensificarem as iniciativas e propostas para fortalecer a luta contra o racismo. E a promoção do seminário na sede do Sisejufe foi destacada como um marco no avanço nessa questão. A implementação de cotas raciais em vários segmentos também foi defendido, inclusive para o movimento sindical. “Somos de uma categoria (Judiciário Federal) em que apenas 5% afirmam e reconhecem ser negros. O Sisejufe e a Fenajufe demonstram muita coragem ao promover o debate do tema. Esperamos sair daqui armados para combater o racismo”, defendeu Roberto Ponciano, diretor do Sisejufe e coordenador da Fenajufe.
Para o também coordenador da federação Pedro Aparecido, os servidores do Judiciário Federal constituem uma categoria com alto grau de preconceitos e que acreditam que o Poder Judiciário vai resolver todos os problemas. “A preconceito em todos os lugares, mesmo sendo de forma sutil, e no Judiciário é muito forte”, afirma o dirigente, ressaltando que além do preconceito econômico o negro sofre também a rejeição pela cor de sua pele.
Ex-diretora da Secretaria de Combate ao Racismo da CUT-RJ e professora do Colégio Pedro II, Glorya Ramos defendeu a urgência no combate a todas as formas de intolerância, seja racial, de gênero ou de qualquer tipo. Segundo ela, o racismo ainda “dá chibatadas na gente” quando muitos ainda tentam ofender chamando uma pessoa de negra.
“Eu tenho alma negra. Minha alma tem cor. Não sou uma negra de alma branca. Tenho orgulho disso. Eu incorporo a resistência e enfrento a chibatada. Atualmente é preciso ter coragem para me ofender”, avisou.
Glorya considerou louvável a iniciativa do Sisejufe e da Fenajufe de organizar o seminário. “Após 25 anos de fundação da Fenajufe essa é a primeira vez que se promove um evento dessa magnitude. É um passo importante que essa categoria está dando”, disse.
O diretor-presidente do Sisejufe, Valter Nogueira Alves, salientou que ao longo da história os negros sempre estiveram relegados a condições rebaixadas e que as pessoas vêem isso naturalmente.
“Os negros foram jogados nas favelas, ocupam os piores cargos nos locais de trabalho. Na categoria do Judiciário Federal há poucos negros. Infelizmente, o racismo vem de berço e está inserido na ideologia de nossa sociedade. Por isso, temos que defender as políticas de cotas em todas as esferas, seja nas universidades, no serviço público”.
O presidente destacou, no entanto, que nos últimos dez anos houve avanços, mas que ainda não foram suficientes para mudar o quadro que perdura há séculos. “Ações afirmativas não devem incluir uma minoria, mas sim uma maioria.
O primeiro dia do seminário pela manhã contou com o painel Racismo Estrutural Brasileiro – Negros maioria na prisão e nas favelas e minorias nas universidades brasileiras e no serviço público e no Judiciário Federal e no MPU. Glorya Ramos destacou que vários setores do mercado de trabalho mantêm os negros em condição de minoria. Citou o sistema financeiro que tem menos de 5% de seus trabalhadores negros, o setor de Educação que também não abre espaço para quem não é branco e o Poder Judiciário.
“Na área da Educação, a maioria dos professores é branca. Você praticamente não vê professores negros no Ensino Superior. No sistema financeiro que mexe com dinheiro também não tem muitos negros. E no Judiciário, que representa ter poder, não se vê negros também. No mercado de trabalho, nós negros, sempre temos o nosso lugar reservado: nos cargos de limpeza e para fazer trabalho de esforço físico”, enumera.
Segundo ela, é preciso que as pessoas entendam melhora a política de cotas. Glorya defende que esse mecanismo servirá para que os negros também preencham espaços de poder.
“Não podemos recuar quando tentam fraudar as cotas. Não me preocupo quando um branco que se diz negro que tomar esse espaço. Quero é colocar os 200 negros na vaga. A luta contra o racismo é um processo irreversível. Combater o racismo não é ficar contando histórias, lembrando o folclore”, adverte.
A professora de pós-graduação em Diversidade Étnica e Educação Superior Brasileira (Leafro) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Claudia de Paula, alertou que a sociedade não se espanta quando se deparam com crianças negras nos sinais de trânsito. Mas quando avistam um menor branco se escandalizam. “É uma questão hereditária e é um processo longo para ser resolvido”, afirmou.
Ela destacou duas recentes pesquisas feitas: uma pelo Ipea e outra pela Secretaria Nacional da Juventude. De acordo com números do Ipea, das 60 mil mortes anuais no país a maioria é de jovens. “De cada 100 mortos 36 são negros e pardos e apenas 15 são brancos. Mas esse número alto de negros mortos não alarmam as pessoas que só ficam chocadas quando um menino banco é morto violentamente”, destacou.
Segundo ela, a Secretaria da Juventude detectou que a maior preocupação dos jovens é com a violência e a falta de segurança.
Alan Carlos Dias da Silva, representante do Sintrajufe/RS, defendeu a proposta de cotas no Judiciário Federal e na formação das direções de sindicatos. Criticou os critérios de concessão de Funções Gratificadas (FC) que privilegia os servidores brancos em detrimento dos negros.