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Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no estado do Rio de Janeiro - Telefone: (21) 2215-2443

Por trás de toda autoridade truculenta, há um marginal disfarçado

Por trás de toda autoridade truculenta, há um marginal disfarçado

Eram os anos 70, os anos de chumbo. De acordo com a

legislação " revolucionária" ( ou golpista ), o governo federal podia cassar

as prerrogativas de quaisquer autoridades públicas, incluindo juízes e

promotores. O arbítrio era total. As Forças Armadas mandavam e desmandavam.

E não havia poder no país que dissesse o contrário.

Em 1969 foi criada a OBAN ( operação bandeirantes ). Era

um projeto de combate às organizações subversivas. Paralelamente a ela,

surgiram outras organizações paralelas de policiais corruptos chamadas de "

esquadrões da morte".

De qualquer forma, os policiais eram também " caça" e

muitos perderam as vidas em confronto com guerrilheiros. Por seu turno,

policiais eram também vítimas da repressão política.

No início dos anos 70, o DOI-CODI( órgão criado a partir

da experiência bem sucedida da OBAN ) matou sob torturas o tenente da PM

Ferreira de Almeida. Do mesmo modo, expulsou da corporação Waldemar

Delecródio por que na adolescência particpara do PCB! Lembrando, que nessa

época a PM também era dirigida por militares do Exército.

Esse sistema de inquisição na PM gerou o clima do

"politicamente correto ". Quem quisesse subir na carreira tinha que rezar na

cartilha do governo. Pode até se dizer que, o espírito de corpo e a figura

do funcionário " sem rosto" e " sem pensamento " foi criado nos anos de

chumbo.

Nesse contexto como era a Justiça?

A Justiça comum era omissa. A militar, francamente

protetora do regime.

No TJ de São Paulo havia um verdadeiro clima de

proteção aos membros do esquadrão, principalmente ao delegado Sérgio Fleury

– o maior de todos os homens da repressão. Vejamos então quem era quem que

atuava na Justiça:

_ Hélio Tornagui – Grande doutrinador do direito penal

brasileiro. Foi apoiador fanático do regime militar e da pena de morte

durante aqueles anos;

__ Durval Ayrton Moura – Procurador militar que somente

dava forma ao que já fora previamente deliberado entre os homens que

capturavam subversivos. Portanto, ligado ao regime;

__ Nelson da SIlva Machado – Juiz auditor da Justiça

Militar que só endossava o que Durval dizia;

__ Xavier de Albuquerque – Procurador -Geral da

República que tentou em abril de 1971 conseguir um habeas corpus em favor de

Fleury no STF, sob pretextos burocráticos. O STF dividiu-se e manteve a

única prisão de Fleury. Xavier queria anular o processo de Fleury para que

ele fosse julgado na Justiça Militar onde seria certamente absolvido;

__ Ítalo Bustamant – Pode ser considerado como a maior

vergonha do MP no Brasil. Foi testemunha de defesa de Fleury nos processos

do esquadrão, omitindo informações sobre suas investigações que poderiam

incriminar o delegado, sob a justificativa de sigilo de informações. Por

outro lado, derramou-se em elogios a Fleury com base nessas mesmas

informações que considerou sigilosas;

___ José Carlos Ferreira – Desembargador Corregedor do

TJ de São Paulo. Depois de receber ofício do II Exército que tentava minar a

autoridade do juiz da Vara de Execuções Penais da Capital, com pretensas

acusações de que ele coagia PMs em quartéis, para prestarem depoimentos

contra o Esquadrão, disse ao referido juiz que se o governo cassasse suas

prerrogativas de magistrado, o corregedor sequer poderia mobilizar os

magistrados para defendê-lo! Na verdade, a acusação visava proteger Sérgio

Fleury que estava sendo acuado, pouco a pouco;

___ Cantídio Sampaio – Depois de o governo e seus

asseclas perceberem que o cerco estava se fechando contra Fleury, com

diversas acusações de homicídios por conta do esquadrão, orientou o deputado

federal Cantídio, a propor a famigerada "Lei Fleury", que livrou o delegado

de possíveis prisões provisórias decorrentes de pronúncias em processos do

Júri. Portanto, a lei veio salvar o maior facínora do regime militar. Foi o

ato final da farsa em seu favor;

___ João Batista Santana – Procurador da Justiça

Estadual de São Paulo que temendo uma investida do governo contra o MP, "

sugeriu" ao promotor Hélio Bicudo, que acusava Fleury, a maneirar um pouco;

___ Romeu Tuma – O hoje senador pelo PFL de São Paulo nos

anos de chumbo era chefe do serviço secreto do DOPS paulista. Contra ele não

recaem acusações de tortura e assassinatos, mas de dar cobertura aos

torturadores. De acordo com denúncias, Tuma era o responsável por achar um "

coveiro" competente para os subversivos mortos nos quartéis. Encontrou-o na

pessoa do delegado Cintra Bueno, vulgo " porquinho". Portanto, Tuma sabe de

muitos e muitos desaparecidos;

___ Mariel Maryscotte – membro da elite da polícia do Rio

conhecida como " homens de ouro". Depois de alguns anos, foi realmente

descoberto do que era capaz o tal "homem de ouro", ou seja: era membro do

esquadrão da morte do Rio e associou-se a bandidos depois de sua expulsão da

polícia.

___ Hely Lopes Meireles – O tão decantado doutrinador de

direito administrativo, foi secretário de segurança no Estado de São Paulo

durante os anos de chumbo. Foi fundador da OBAN e encobriu o quanto pôde os

crimes do esquadrão. Seu papel era a de dar uma cobertura legal a todo o

esquema.

 

 

Por outro lado…

__Márico José de Moraes – Juiz Federal de São Paulo que,

em pleno AI-5, condenou a União a pagar danos morais pela morte do

jornalista Vladimir Herzog em 1975;

___ João Abrão – Senador pelo MDB que em julho de 1971

foi denunciado junto à auditoria militar de Brasília por ter pronunciado um

discurso contra o regime militar na sessão de 31 de março convocada para

comemorar o aniversário do golpe.

___ Antônio Alves Braga – Desembargador do TJ de São

Paulo que reformando sentença de impronúncia em favor de Fleury, mandou-o

pela única vez para a prisão. Consta que o desembargador na festa de

aniversário de sua irmã, ao ser interpelado em público pelo Gen. de Brigada

Knaack de Souza, da 11ª Brigada de Infantaria Blindada, para censurá-lo pela

decisão contra Fleury, dizendo que o presidente Médici não havia gostado da

decisão, respondeu ao general que não estava na magistratura para agradar a

ninguém, nem a ele general nem ao presidente Médici, reduzindo assim o

general a pó.

___ Alberto Marino Júnior e Hélio Bicudo – O primeiro

promotor, o segundo procurador de Justiça de São Paulo. Foram as principais

estrelas daqueles tempos nos processos contra o esquadrão. Tornando-se

incômodos foram forçados a sair do caso " esquadrão" . Hélio Bicudo é hoje

figura conhecida no PT;

____ Marcello Duarte de Oliveira – Padre, conhecido de

Fleury desde a infância. Utilizou-se dessa amizade para penentrar nos

presídios paulistas e verificar as condições de vida dos presos. Pôde assim

ter conhecimento das matanças promovidas por Fleury e do sumiço de vários

presos. Depois de desconfiarem de sua atuação nada religiosoa, o padre

refugiou-se na casa de uma autoridade eclesiástica de São Paulo e ali contou

tudo o que sabia a promotores e juízes. Contou inclusive que tinha uma grade

com o nome dos presos e os que foram fuzilados pelo esquadrão. Levando tal

informação ao secretário de segurança HELY LOPES MEIRELES foi ameaçado por

este.

 

Os membros dos esquadrões não só matavam subversivos e

marginais comuns, mas eram partícipes de vários crimes, dando cobertura a

uma quadrilha em detrimento de outras. Agiam por pura busca de lucro, tanto

por dentro quanto por fora do sistema legal. Em verdade, toda e qualquer

quadrilha para viver um tempo relativamente longo, precisa da cobertura de

policiais e autoridades.

Por trás de toda autoridade ou policial violento e

moralista, há sempre um marginal disfarçado.

Moral da história: Por trás de toda autoridade violenta

e moralista há sempre um marginal disfarçado.

David

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