Alto contraste Modo escuro A+ Aumentar fonte Aa Fonte original A- Diminuir fonte Linha guia Redefinir
Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no estado do Rio de Janeiro - Telefone: (21) 2215-2443

O racismo presente na demonização da Umbanda e do Candomblé

A segunda mesa do Seminário Nacional da Fenajufe de Combate ao Racismo e Identidade Negra no Judiciário Federal e Ministério Público da União foi marcada pela denúncia do racismo presente na demonização dos cultos e práticas afro-brasileiras, ou seja, a violência reiterada contra locais de culto, com base na alegação de que seus ritos seriam satanistas.

De acordo com a ialorixá Dolores Lima, essa não é uma perspectiva nova, mas que tem sido conceitualmente adensada. ”A intolerância contra as religiões de matriz africana tem sido o principal motor do preconceito racial”, assegura Dolores, para quem a expressão “intolerância religiosa” não dá conta da violência que incide sobre territórios e tradições de matriz africana. “As práticas tradicionais de matriz africana não são apenas religião. Isso nega a sua real dimensão histórica e cultural”, critica.

Para Paulo Henrique Pacheco, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) e da Fundação Educacional de Duque de Caxias (Feuduc), essa demonização é um processo, um discurso histórico, com início nos anos 60 e tem origem na forma sobrenaturalista com que as doutrinas neopentecostais encararam a vida religiosa, com revelações e milagres.

O reverendo Marcos Amaral, pastor da Igreja Presbiteriana de Jacarepaguá, refuta essa associação entre a demonização dos cultos afro-brasileiros e as igrejas pentecostais, explicando as diferenças entre as mesmas. Segundo o reverendo, o Brasil passa, atualmente, pela quarta onda pentecostal. “A 1ª onda evangélica remonta a 1903, quando a Assembleia de Deus foi fundada. Na década de 1960, veio a 2ª onda, com o fortalecimento e organização das igrejas. Nos anos 80, surge a 3ª onda, com as igrejas neopentecostais, que são éticas e não polarizam com as religiões de matriz africana. Já no século XXI, tem início a 4ª onda, que faz surgir a polarização com as religiões afro-brasileiras”, explica.

Conforme explica o pastor presbiteriano, os evangélicos não consideram Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja da Graça e Igreja da Lipoaspiração Divina (que já conta com mais de cem santuários) como igrejas evangélicas. “Não são evangélicos nem protestantes. Nós as consideramos seitas. Elas não têm assento no Conselho Evangélico’, critica Marcos Amaral.

Por fim, Paulo Henrique Pacheco defendeu que a sociedade almeje mais do que somente se tornar tolerante. “Não devemos ter tolerância, devemos ter igualdade. Devemos nos alinhar com o Estado democrático de direito”, defendeu o professor, recebendo o endosso de Amaral. “Igualdade significa poder ser diferente dos outros sem medo, como ensinou o filósofo alemão Odo Marquard. Toda universalização há de promover a dignidade ou não serve para nada”.

Últimas Notícias