Ator e militante do cinema alternativo, Fernando Silva estava internado há 38 dias e passou mal após inalar gases lançados pela PM no megaprotesto de 20 de junho
O ator e cantor Fernando da Silva Candido morreu após 38 dias internado no Hospital Israelita Albert Sabin, na Tijuca, Zona Norte do Rio. Fernandão, como era conhecido, fora internado quatro dias após inalar uma grande quantidade de gás lacrimogêneo lançado pela Polícia Militar durante o ato que reuniu centenas de milhares de manifestantes no Centro do Rio, no dia 20 de junho.
Fundador do Cinema de Guerrilha da Baixada, o ator começou a passar mal no dia seguinte e acabou internado na UTI após vomitar sangue. Anão, sofria de doença pulmonar crônica. Amigos afirmam que ele passou mal por ter respirado grande quantidade de gases lacrimogêneo e de pimenta. A Secretaria de Segurança do Rio não se manifestou sobre o caso. Ele morreu na quarta-feira (31).
‘Fui fazer um protesto pacífico’
Quando estava internado e se sentia melhor, Fernando gravou um depoimento, postado na página do Cinema de Guerrilha da Baixada no Facebook, no qual defende uma saúde pública melhor e diz que voltaria a se manifestar quando deixasse o hospital. “Fui lá protestar, fazer um protesto pacífico, eles tacaram bomba, tacaram pimenta, mas eu tenho plano de saúde. Se eu não tivesse plano de saúde eu não estaria aqui neste quarto, estaria lá morto, fudido, porque em hospital público nada funciona”, disse. “Mas mesmo tendo plano de saúde quando eu sair daqui eu vou lutar por nossos direitos, por uma saúde melhor, porque o protesto ajuda geral (…). Vou lá na porta do Cabral falar com ele, pessoalmente, cobrar dele os nosso direitos, direito de saúde, direito de educação direito de viver”, concluiu.
O amigo Vitor Gracciano, que estava com ele na manifestação do dia 20, disse que Fernando passou mal em decorrência dos gases inalados após a violenta ação da Tropa de Choque da Polícia Militar do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), hoje alvo de uma intensa campanha pela sua saída do governo. Vitor disse que eles tentaram deixar o local quando estavam na Central do Brasil, mas que mesmo assim o amigo acabou respirando uma grande quantidade de gás.
Eis o relato, também postado no Facebook: “No dia 20 de junho saímos eu e Fernando Silva em direção ao desconhecido, sim, não tínhamos a menor ideia do que aconteceria, fomos indo [numa] manifestação no centro do Rio de Janeiro, com o objetivo de lutar por direitos e contra tudo de podre que continuava a reinar em nosso estado, mal sabia ele que dias depois ele estaria internado na UTI de um hospital e eu com pneumonia sem condição de correr 5 metros!”, escreveu. “Se alguém ainda tem alguma duvida sobre o efeito da porra do gás, pesquisem, eu ainda estou aqui pra contar historia mas meu amigo e companheiro de cinema e banda não!!”, alertou.
Noite de terror
Outro amigo, Ricardo Rodrigues, disse que Fernando tinha um metro e dezessete de altura, mas “era um gigante de alegria, de sonhos e de superações”. Com Ricardo, fez diversos filmes, como “Enterro de Anão” e Gigantes da Alegria”. “Nunca fez de suas limitações, barreiras para lutar por seus objetivos. Fernando Silva, meu amigo, viverá sempre que eu o assistir em nossos filmes. E com seus um metro e dezessete de altura irá chacoalhar a minha alma, quando eu me sentir triste”, escreveu o parceiro do Cinema de Guerrilha da Baixada.
A repressão policial do dia 20, no auge dos protestos de junho por todo país, teve a participação do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e cenas de muita violência. Pelo menos uma jovem ficou cega em decorrência de um tiro de bala de borracha disparado por um policial militar. Outro rapaz corre o risco de também perder a visão de um olho. Naquela noite, policiais lançaram duas bombas de gás na porta do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Trabalho e Previdência Social (Sindsprev-RJ), que abrigava cerca de 50 estudantes que buscaram refúgio.
Luta Fenajufe Notícias
Por Hélcio Duarte Filho