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Intolerância religiosa, preconceito e culto ao ódio: a postura nada cristã de Michelle Bolsonaro precisa ser falada e combatida

Frente inter-religiosa publicou nota de repúdio contra as declarações fundamentalistas da primeira-dama

Foto: reprodução da internet

No afã de angariar votos do eleitorado evangélico, Michelle Bolsonaro demonstra que sua fala é, na verdade, impregnada de intolerância religiosa. Como pode alguém que diz pregar a palavra de Deus passar mensagem tão claramente preconceituosa e cheia de ódio ao outro, ao diferente, apenas porque esse “outro” professa uma fé diferente da sua?

Em um culto religioso em Belo Horizonte, no domingo, dia 07/08, a primeira-dama afirmou que “antes o Palácio do Planalto era consagrado a demônios”, mas hoje é “consagrado ao Senhor”.

A demonstração pública da primeira-dama, claro, gerou preocupação, polêmica e revolta. Em resposta a isso, a Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz elaborou uma nota de repúdio em que expressa preocupação com as declarações de caráter religioso feitas pela primeira-dama Michelle Bolsonaro.

De acordo com a nota, a fala de Michelle fere “o Estado democrático de Direito, viola a legislação eleitoral e promove a cultura do ódio por meio da demonização do diferente”.

Leia, abaixo, a íntegra da nota de repúdio da Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz:

 

NOTA DE REPÚDIO

A Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns, reunindo religiosos das mais diversas fés, agentes inter-religiosos e membros da sociedade civil, vem a público expressar sua profunda preocupação e seu repúdio às recentes declarações da atual primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, com anuência do presidente que a acompanhava, na Igreja Batista Lagoinha em Belo Horizonte. Tais declarações ferem o Estado Democrático de Direito, violam a legislação eleitoral e promovem, através da demonização do diferente, a cultura de ódio, colocando em risco a convivência pacífica entre as distintas tradições religiosas e o respeito às diferentes crenças.

Ao atribuir às administrações anteriores uma “consagração ao demônio”, a primeira-dama repete uma antiga prática excludente, beligerante e preconceituosa que, conforme demonstrado pela história, usa a divindade para tornar o semelhante um inimigo desumanizado, ligado a forças nefastas e que podem inclusive ser alvo de violência de forma legitimada. Portanto, um maniqueísmo fundamentalista e perigoso, característico de regimes fascistas. Essa mesma estratégia foi utilizada no passado para legitimar perseguições religiosas destrutivas e promotoras de mortes. O resultado dessas declarações não pode ser outro senão fomentar a desagregação da sociedade através do medo e colocar em risco a luta internacional de mais de um século por diálogo e cooperação inter-religiosa e ecumênica.

Com este discurso de ódio em nossa pátria, os casos de violência e intolerância religiosa aumentaram de forma vertiginosa nos últimos 4 anos. Ao sugerir também que quem está no comando da cadeira presidencial no atual mandato seria Jesus, ela também comete crime contra a Constituição Nacional de 1988, que proíbe qualquer relação de dependência ou aliança de autoridades políticas com religiões específicas, e abre um terrível precedente quanto à teocracia em nosso país.

Lembramos que a Presidência da República é uma instituição republicana fundamentada em mandato secular, em um país laico, que não está imbuído de predileção divina em relação a outros políticos e que é seu dever constitucional governar para toda a população nacional, independentemente de credo ou opção partidária.

Nossas tradições religiosas em diálogo concordam que o papel social da religião é apoiar a sociedade a transcender as suas diferenças e nos reunirmos pela defesa do bem comum, contribuir decisivamente para que cada pessoa possa superar suas tendências egoístas, violentas e intolerantes – essas sim demoníacas – e acessar as capacidades de amar, respeitar e apreciar a diferença.

Dentro desses princípios, devemos inspirar a humanidade a deixar para trás todo discurso que divida a sociedade entre “nós” e “eles” e fomentar a criação de um espaço em que toda pessoa possa, em pé de igualdade, contribuir para o avanço de todos.

Acreditamos que muitas pessoas que seguem as tradições Protestantes, Pentecostais e Neopentecostais, mesmo Batistas da denominação supramencionada, são inspiradas por esse mesmo ideal. E em nome do respeito à fé, pedimos que a Primeira Dama se retrate imediatamente, dentro dos princípios cristãos de amor ao próximo que afirma professar e aja em conformidade com as leis que regem nosso país, a fim de que seja verdadeiramente uma Pátria para todos os Brasileiros e Brasileiras, indistintamente de opção religiosa ou política.

 

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