A alta inflação do governo Bolsonaro-Guedes, que já ultrapassa dois dígitos, fez a defasagem da tabela do Imposto de Renda (IR) disparar no primeiro semestre de 2022. A disparidade, que em três anos de governo já era a maior desde a criação do Plano Real (24%), saltou 2,6 pontos percentuais e chegou a 26,6%. Na prática, quem ganha menos está pagando quase 2.000% a mais, aponta levantamento do Sindicato dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional).
“A defasagem da tabela do IR nunca foi tão grande quanto no governo atual”, afirma o presidente da entidade, Isac Falcão, lembrando que 15 milhões de pessoas foram prejudicadas neste ano por conta da falta de reajuste.
Hoje, a faixa de isenção é para trabalhadores que ganham até R$ 1.903,98. Caso seja mantida a política bolsonarista de arrocho sobre o salário mínimo, diz o dirigente, a partir do próximo ano os que ganham acima de um salário mínimo e meio (R$ 1.941) deverão pagar imposto. A previsão do piso salarial em 2023, no texto aprovado da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), é de R$ 1.294 – mais uma vez, sem reajuste real.
De acordo com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) 6,3 milhões de brasileiros se enquadram entre os que passariam a pagar imposto por receberem 1,5 salário mínimo. É o patamar mais baixo para pagamento de Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) na história.
Ao mesmo tempo, a faixa superior do IR, que desconta 27,5% do salário, segue estacionada em R$ 4.664,68. A partir de 2023, quem recebe 3,6 salários mínimos pagará a mesma proporção que quem ganha 10, 20, 30 salários mínimos.
“Quando não temos a correção da tabela, o tributo acaba atingindo em cheio os mais pobres, que perderam seu poder de compra ao longo do período”, ressalta Falcão.
Quem ganha R$ 5 mil, por exemplo, paga hoje R$ 505,64 de IR. Caso a tabela fosse corrigida na íntegra, a contribuição cairia quase 2.000%, para R$ 24,73.
Quem ganha R$ 6 mil mensais, para quem “a não correção da tabela impõe um recolhimento mensal a mais de R$ 662,71, um valor 561,95% maior do que deveria ser”. Já o contribuinte com renda mensal de R$ 10 mil “paga a mais 145,99% do que deveria”.
Correção foi promessa não cumprida de Bolsonaro
A correção da tabela do IR foi uma das várias promessas de campanha de Bolsonaro ainda em 2018. Ele se comprometeu a garantir isenção de cobrança para todos os que ganhassem até R$ 5 mil. A promessa foi repetida várias vezes ao longo do “mandato”, mas jamais cumprida.
Fonte: Folha de SP e Valor Econômico