Da Primeira República até a Era Vargas, as comunidades tradicionais de terreiro foram criminalizadas no país. No Rio de Janeiro, há registros de que mais de 200 objetos foram apreendidos. O documentário Nosso Sagrado mostra a coleção “Magia Negra” que se encontra até hoje no Museu da Polícia, a dificuldade de acesso ao acervo por religiosos, pesquisadores e a população em geral, bem como a luta para libertar os objetos sagrados que estão há 100 anos sob posse do Estado do Rio de Janeiro. O filme foi exibido durante o III Seminário sobre Liberdade Religiosa, Democracia e Direitos Humanos.
O evento, que teve apoio do Sisejufe, foi realizado no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) neste dia 21 de janeiro, Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, num momento em que as religiões de matriz africana estão sendo atacadas no país e que a comunidade muçulmana é confundida com criminosos terroristas, fruto da desinformação, em diversos países do mundo. Na programação, a relação da religião com temas como Política, Democracia, Direito, Comunicação e Liberdade, além de uma programação cultural, fortalecendo o diálogo inter-religioso e com a sociedade civil.
“Não há democracia sem tolerância”, ressaltou a diretora-executiva do Centro Cultural, Maria Geralda de Miranda. Ela avaliou que sediar e apoiar o seminário está em sintonia com a missão do espaço que valoriza temas relacionados à igualdade, ética, democracia e direitos humanos. E adiantou que o CCJF deve receber novamente o evento no próximo ano.
Geralda salientou a representatividade e diversidade do evento. A diretora integrou a mesa de abertura que contou com a presença do diretor-executivo do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), Elé Semog; a representante da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), Mãe Fátima Damas; o pastor da Igreja Presbiteriana de Jacarepaguá, pastor Marcos Amaral; o presidente da Federação Israelita do Brasil, Arnon Velmovitsky; o representante da Arquidiocese do Rio de Janeiro, padre Omar Raposo; e o procurador do Ministério Público Federal, Jaime Mitropoulos.
Participaram do evento o presidente do Sisejufe, Valter Nogueira Alves, e a diretora Neli Rosa, representando o Departamento de Gênero e Raça. “A intolerância está se agravando. Há um desrespeito muito grande em relação à fé do outro”, ponderou Neli. Ela destacou ainda como o racismo está intimamente ligado à intolerância religiosa e como isso se reflete no Judiciário, onde há pouca representatividade do povo negro.
O Seminário foi organizado pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP); Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR); Laboratório de História das Experiências Religiosas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LHER/UFRJ); Coordenadoria de Experiências Religiosas Africanas, Afro-brasileiras, Racismo e Intolerância Religiosa (ERARIR/LHER/UFRJ); Ministério Publico Federal (MPF); Centro Cultural Justiça Federal (CCJF); Quiprocó Filmes; Coletivo Maitê Ferreira e LUPA Carnaval.