O ministro da Economia, Paulo Guedes, passou quase quatro horas na audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, nesta terça (12/5), mentindo, desviando o foco dos reais propósitos escusos do governo com a reforma administrativa e sem responder às perguntas dos parlamentares sobre o esquema montado pelo governo para conquistar apoio por meio de um orçamento secreto de R$ 3 bilhões, revelado pelo jornal Estadão.
No ano passado, o governo destinou R$ 3 bilhões em emendas para parlamentares do Centrão que, ao contrário do permite a lei, puderam escolher onde os recursos de emendas de relator (RP9) seriam aplicados, inclusive na compra de tratores superfaturados. O caso foi apelidado de “tratoraço” nas redes sociais depois de a reportagem mostrar que parte do dinheiro foi usado para comprar equipamentos agrícolas com preço acima dos de mercado.
“Não adianta oferecer trator, cargos, regalias. Não vamos permitir que uma PEC inconstitucional (da reforma administrativa) avance”, disse o deputado Zeca Dirceu (PT-PR).
Clientelismo e “trem da alegria”
A deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS) afirmou que a reforma não ataca privilégios e traz de volta o clientelismo e o patrimonialismo.
“Eu desconheço servidor público de carreira que tenha 20 carros. Se for para atacar privilégio, vamos começar cortando os salários, pela metade, dos ministros e deputados federais. Eu topo. Teu governo topa? Aliás, tenho projeto nesse sentido, mas teu governo não quer aprovar aqui na Câmara dos Deputados”, rebateu a deputada.
O deputado Gervásio Maia (PSB-PB) citou a criação dos “cargos de liderança e assessoramento”, prevista na proposta, que poderá permitir que funções atualmente ocupadas por servidores efetivos sejam exercidas por indicações políticas.
“Se a PEC 32 for aprovada — abram bem os ouvidos —, os políticos vão poder participar dessas indicações. Isso foi feito dessa forma para evitar interferência política, para garantir a qualificação daqueles que já estão ocupando aquelas funções. Vai ser a volta do verdadeiro trem da alegria. Então, muda, ministro! Vamos falar a verdade!”, pediu.
Quando a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Bia Kicis (PSL-DF), anunciou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, ia se retirar da audiência pública, os deputados que tinham se inscrito para falar reagiram e disseram que o ministro “estava com medo”. Irritada, Kicis não concedeu a palavra, encerrou a reunião e marcou nova audiência para a próxima terça-feira (18/5). O evento, que teve participações de parlamentares de forma presencial e on-line, foi marcado por questões, na maioria, contra o texto do governo e em defesa dos servidores.
Dirigentes sindicais e servidores atuaram intensamente durante a participação de Guedes, dando deslikes e fazendo comentários contra a reforma no chat.
“A política de Guedes, de desqualificação de servidores públicos concursados, só tem um objetivo: o de disfarçar as verdadeiras intenções do governo. Ele nos coloca como bois de piranha, para, por fora, passar a boiada destruindo os serviços públicos prestados à população. Funcionamos para desviar a atenção da população, na medida que ele nos transforma como vilões do serviço público, marajás e parasitas. Desta forma, a população é atraída pelas mentiras e passa a apoiar aquilo que eles acham que é o verdadeiro interesse da reforma. É importante sempre deixar claro que este projeto apresentado só tem um objetivo, o de acabar com os serviços públicos da forma como ele hoje é prestado. A verdadeira intenção é o “menos estado e mais mercado”, já que querem entregar aquilo que pode dar lucro ao mercado, como educação e saúde. Isto tudo vindo de um ministro que vive da especulação financeira e do lucro fácil”, afirma a diretora do Sisejufe Soraia Marca.
Comunicação do Sisejufe, com informações da assessoria parlamentar, Carta Capital e Agência Câmara de Notícias. Imagem: Canal do Youtube da Câmara