Ontem, 18 de julho, quando vi na televisão sem ouvir a matéria, achei que estivesse acontecendo mais uma guerra urbana entre traficantes e policiais em uma comunidade carente do RJ. Para legitimar a cena, vi até uma mulher correndo com uma criança com medo de ser atingida por projéteis. Mas ao aumentar o volume do aparelho fiquei espantado de saber que a confusão estava ocorrendo no bairro mais caro do Brasil.
Pela primeira vez vi o Batalhão de Choque, bombas, tiros e agora o canhão de água ser usado, não em um terreno ou prédio público invadido para desalojar miseráveis, mas no chique bairro da Zona Sul carioca. O Leblon teve o seu dia de favela!
E de manhã ficou o mesmo rastro da batalha que se vê nas comunidades: pneus queimados, lojas quebradas, comércio fechado, lixo espalhado pelas ruas.
E a população “leblonense” estava indignada do mesmo jeito que favelado fica quando o Batalhão de Operações Especiais (Bope) invade a favela e mata “sem querer” a tiazinha que estava estendendo roupa. Só que o inocente dessa vez foi o dono da loja de grife que viu seu patrimônio dilapidado sem ter feito nada pra isso. E para que tudo isso? Toda essa “invasão” da comunidade do Leblon (comunidade não é feita só de pobres) foi pra “caçar” um único sujeito – o governador Sérgio Cabral. Mas ele não foi encontrado. Não se sabe se ficou escondido em alguma viela da comunidade.
Já tem gente dizendo que a presença desse morador está causando a desvalorização dos imóveis locais, devido às incursões noturnas que se repetem por sua causa. E alguns defendem que ele se vá logo dali para que a paz volte a reinar no local. Não é bom ter certo tipo de gente como vizinho.
Mas o ilustre cidadão apareceu hoje, 19 de julho, de manhã. Não na comunidade onde mora, mas na de Laranjeiras onde trabalha. Lá ele reuniu-se com alguns integrantes de seu grupo para tentar dar uma satisfação aos seus vizinhos sobre a situação na qual ele os colocou, depois que os bregas descobriram seu endereço e foram até lá incomodá-lo.
Depois de uma reunião para acertar o discurso, a estrela do dia apareceu para dizer que não sabe o que fazer com os que ingressam nas vielas de sua comunidade. Não pode descer o cacete em todo mundo como seria o desejo de seus vizinhos, haja vista que ele também governa as outras comunidades e as eleições estão chegando. Além disso, a imprensa está aí e, nesses casos, jornalistas acabam apanhando. Por outro lado, deixar correr frouxa a situação traz uma vantagem: o problema central passa a ser o combate aos vândalos e não as causas sociais que originaram todas as manifestações. Hoje a imprensa e o governo se debruçam em falar do vândalo. O governo agora virou vítima. A polícia também virou vítima. Todo mundo é vítima, mas se o vândalo acabar o que sobra? O manifestante pacífico que exige melhoria na Educação, na Saúde, no Transporte, na Segurança – a maioria. E isso é um problema maior do que um bando de arruaceiros. Assim, enquanto existir o vândalo pode-se evitar o problema principal.
Do jeito que a coisa está, as duas únicas esperanças que têm os moradores da comunidade do Leblon de voltar a experimentar a paz que custou tão caro, são: Cabral se mudar ou parar de se fazer de vítima e apresentar logo ao povo fluminense propostas concretas para resolver os problemas reais da cidade, como Saúde, Educação e Transporte. Com isso o manifestante pacífico vai pra casa e o vândalo não tem mais como se aproveitar das manifestações.
Se não, o vento Leblon…
David Cordeiro
Analista Judiciário