Na noite desta quarta-feira, 24/05, a sala de cinema do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) ficou lotada para a exibição do o documentário “Eu moro em qualquer lugar – Mulheres em situação de rua”, que conta a história de mais de 40 mulheres que vivem ou já viveram em situação de rua no Rio de Janeiro.
Marcado para às 17h, o evento começou com um pouco de atraso. Às 18h, o coral “Uma Só Voz” , composto só por pessoas em situação de rua, abriu a noite cantando duas músicas para o público presente. Em seguida, foi exibido o doc que tem direção de Márcio Coutinho, produção de Rachel Silva e Ricardo Bruno, e trilha sonora do cantor Criolo, que apoiou o projeto cedendo gratuitamente o uso da música “Casa de papelão”.
Durante a pesquisa para o filme e ao longo de toda a produção, mais de 40 mulheres foram ouvidas, entre pessoas em situação de rua, outras que conseguiram retomar suas vidas fora das ruas e profissionais de diferentes áreas envolvidas na causa, como psicólogas, assistentes sociais e sociólogas. Uma das entrevistas é Ana Paula Rios, presidente do Instituto LAR, um dos projetos apoiados pelo Sisejufe. “Quando a gente fala em emprego, com mais de 14, 15 milhões de desempregados no nosso país, o emprego está ainda mais distante para as pessoas em vulnerabilidade social. Então, com a minha experiência, eu enxergo que, com uma técnica simples e de fácil aprendizado é, sim, um resultado a curto e médio prazo para que essas pessoas tenham um possibilidade real de renda para se manter”, disse Ana Paula ao comentar um dos quatro eixos de atuação do Instituto LAR.
Após o filme, que tem 110 minutos, houve uma roda de debate sobre o tema do doc com mulheres que estão no filme. Os debatedores foram: Evelyn Feitoza, médica na ONG “Médicos do Mundo”; Kézia Christine, psicóloga, mestranda em Psicanálise, Saúde e Sociedade; Tatiane Manuel, ex população de rua; e Márcio Coutinho, cineasta e diretor do filme.
Apaixonado pelas temáticas sociais, Márcio já fez outros três documentários (Hora Morta; Vozes da Rua; e “Rio, cidade hostil”, que ainda está sendo produzido), entre curta e longa metragens. Ele falou sobre como nasceu a ideia do filme: “Ainda no meu documentário anterior (Vozes da Rua), vi que a questão da pessoa em situação de rua teria um outro recorte a ser feito e aprofundado, justamente sob o ponto de vista das mulheres em situação de rua, que para elas é ainda mais difícil e violento lidar com essa realidade. Saí de um doc e já emendei no outro. Era um assunto que estava fervilhando dentro de mim e queria expor essa realidade. Levar as pessoas à reflexão sobre isso”, diz ele.
Evelyn Feitoza, médica na ONG “Médicos do Mundo, parabenizou o trabalho feito pela equipe do documentário e disse que era um prazer poder participar. Formada em Medicina, fez Clínica Médica e, ainda em São Paulo, começou a atender pessoas em vulnerabilidade. “Comecei a atender na Sé. Atendia a população das ocupações, em São Paulo. Depois de uns anos lá, voltei para o Rio e aqui comecei a atender as pessoas em situação de rua. Iniciamos a atuação do Médicos do Mundo, na Candelária. Fazemos nosso trabalho com muito amor, mas é muito difícil porque o próprio poder público, além de não fazer nada pra ajudar, ainda atrapalha quem quer fazer. É muita burocracia, dificuldade, mas estamos aí e seguimos com nosso trabalho”, disse Evelyn.
Após a fala de Tatiane e Kézia, Márcio finalizou: “O olhar para causas sociais tão urgentes e necessárias é fundamental. É o que me move. E como o cinema é a minha paixão, quero poder fazer disso a minha forma de denúncia e crítica social. Levar as pessoas a refletirem e assim, quem sabe, um dia conseguirmos um mundo mais justo para todas e todos”.
Ganhando o mundo
O documentário “Eu moro em qualquer lugar”, que conta a história de mulheres em situação de rua, foi selecionado para participar de festivais de cinema. Em junho, será exibido na Mostra Competitiva do Guarnicê 2023, que acontece no Maranhão. Já em setembro, a exibição será no Festival del Cinema di Cefalú, na Itália. “É uma alegria ver o doc ganhando o mundo, participando de festivais até internacionais. Pra gente que faz cinema independente, sem grana, sem patrocínio, isso é um reconhecimento e tanto da qualidade do nosso trabalho. Fico mais feliz ainda por um doc com essa temática social tão urgente e necessária ganhar esse espaço”.
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