O Escuta Mulher deste mês de setembro promoveu a Semana da Diversidade e Inclusão. Na reunião virtual do Núcleo da Marcha Mundial de Mulheres do Sisejufe, que debateu o tema, a coordenadora, Anny Figueiredo, afirmou, já na abertura, que “não há um único modelo de existir e de ser feliz”. No encontro, realizado no dia 15 de setembro, ela destacou ainda que “a diversidade é que é o normal” e a acessibilidade como fundamental para a democracia.
A primeira servidora a dar seu depoimento foi Joana Roquette. Cadeirante, ela contou que sua grande dificuldade é a mobilidade e lembrou de passar por constrangimentos com comentários do tipo “a festinha não pode ser na copa por causa da Joana”. Com cargo de chefia na 1ª Vara Federal de Barra do Piraí, ainda sente que há homens que não gostam de serem mandados por mulheres. “Mas isso está mudando, as magistradas também estão na luta.” E apontou a falta de paridade nas instâncias superiores e na organização dos concursos como algo que precisa ser mudado.
Ivonete Euclides dos Santos trabalha na Justiça Federal há 20 anos. Ela avaliou que a acessibilidade melhorou muito ao longo dessas duas décadas. “Hoje trabalho de igual para igual”, garante a servidora com deficiência visual. No entanto, muitos colegas ainda têm resistências e se sentem constrangidos em perguntar como podem agir melhor. “Entram na copa e não cumprimentam”, lamenta. Ou pior: debocham se podem furar o olho para ter direito ao horário especial, mas não se dão conta dos desafios que ela enfrenta para chegar ao trabalho, como a dificuldade de pegar um ônibus sem enxergar.
A oficial de justiça do TRT-RJ Maria Cristina Mendes faz um trabalho militante em Cabo Frio, onde propôs um cadastro sobre as pessoas com deficiência com o apoio da Prefeitura e do Ministério Público do Trabalho para habilitá-las ao mercado de trabalho.
Como surda, ela reivindicou a importância da empatia. “Boa intenção não basta. É preciso se colocar no lugar do outro.” Atualmente, 25% da população mundial tem algum tipo de deficiência. “E qualquer pessoa pode vir a ser uma pessoa com deficiência e necessitar de compensações”, alertou. Maria Cristina ressaltou ainda que muitas vezes os recursos de adaptação no trabalho exigem da pessoa com deficiência muito mais esforço. “No final do dia você está um lixo”, desabafou.
Sociedade deficiente
Para a diretora do Sisejufe Eunice Barbosa, o patriarcado classifica os corpos, a partir da mesma visão utilitarista que promove a destruição da natureza. “A sociedade é que tem deficiência quando não se organiza para acolher todas e todos”, refletiu.
A diretora Lucena Pacheco, que foi obesa durante um período de sua vida, relembrou como foi chamada a ter uma nova perspectiva de estar no mundo, aprender a conviver e de aprender a conversar com todos sobre as diferenças.
“A revolução será feminista ou não será”, destacou a assessora política Vera Miranda. Nesse sentido, espaços de autoconstrução como o Escuta Mulher são fundamentais para desmistificar os padrões funcionais, estéticos e de mercado. “O patriarcado sempre afirma que não somos o suficiente, sempre tenta nos encaixar”, advertiu.
Para a militante da Marcha Mundial das Mulheres, Ana Priscila Alves, o valor da mulher está ligado ao seu corpo, sexualizado ou, no polo oposto, santificado. E ao propor um padrão de beleza inalcançável, o mercado lucra com a busca das mulheres por ele.
Participações especiais
A servidora de Brasília Ana Paula Cusinato defendeu que a inclusão deve constar no planejamento estratégico dos órgãos, aproveitando a aprovação da Resolução 343 do Conselho Nacional de Justiça, aprovada recentemente, que institui condições especiais de trabalho para servidoras e servidores com deficiência ou para quem tem filhos com deficiências.
Já a gestora pública Lídia Rafaela Santos, de Salvador (BA), que trabalha com grupos populares, aposta na diversidade. “Encontros de mulheres como este são revolucionários e fortalecedores”, elogiou.