O jornal Valor publicou uma reportagem especial que mostra o resultado de um estudo sobre qualidade de vida e carreira, com análise sobre os modelos de trabalho. A pesquisa que ouviu mais de 2.700 pessoas no país mostra que o modelo híbrido superou totalmente o remoto; já o presencial registrou o menor índice de comprometimento.
Diz a matéria: “O trabalho presencial continua sendo o menos engajador entre todas as possibilidades de formatos. Nesse modelo, há 42% de pessoas engajadas, segundo dados da 2ª edição do estudo Engaja S/A, feito por uma empresa de gestão de benefícios em parceria com a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas.”
O que mudou no intervalo entre os dois levantamentos – 2024 e 2023 – é que o modelo híbrido superou o remoto como o mais engajador no Brasil, com 54% dos trabalhadores afirmando estarem engajados nesse formato misto – ante 40% na edição anterior. O modelo remoto agora tem 46% de engajados, contra 45% um ano atrás.
Isadora Gabriel, CHRO da Flash, acredita que essa mudança pode ser explicada por um comportamento natural do ser humano. “Somos seres sociais por natureza”, afirma. “O trabalho 100% remoto, com o tempo, pode gerar isolamento e desconexão, prejudicando o engajamento. Já o modelo híbrido preserva vínculos interpessoais, interações espontâneas e trocas informais – elementos essenciais para a coesão e a cultura organizacional -, ao mesmo tempo que mantém a flexibilidade tão importante para os trabalhadores.”
Ela diz, ainda, que os dados apontam que “camaradagem” é o atributo mais valorizado por todos os níveis hierárquicos. “Isso ajuda a explicar por que o modelo híbrido engaja mais: ele mantém os laços sociais do presencial – pertencimento, interação -, sem abrir mão da autonomia e do conforto do remoto.”
Gabriel pontua também que muitos profissionais que atuam 100% remotos relatam dificuldade em “desligar e estabelecer fronteiras”. “O híbrido ajuda a estabelecer limites mais claros, favorecendo a desconexão e a saúde mental.”
Paul Ferreira, professor da FGV-Eaesp, entende que o engajamento do trabalhador é um fenômeno multifacetado que depende de uma combinação de fatores. “Não se trata apenas de salário, mas de criar uma experiência holística onde o funcionário se sinta valorizado, apoiado e com oportunidades de crescimento”, afirma, citando aspectos como ambiente positivo, trabalho significativo, confiança na liderança, boas práticas de gestão, oportunidades de crescimento e desenvolvimento, remuneração e benefícios justos.
Ferreira, da FGV, diz que o desafio para as empresas não é simplesmente encontrar um equilíbrio estático entre as necessidades da empresa e as dos funcionários, mas sim construir uma capacidade de adaptação contínua. “Em vez de buscar uma solução superficial, as empresas precisam construir uma cultura de flexibilidade e adaptação que lhes permita responder de forma ágil e eficaz às mudanças nas necessidades de seus funcionários e nas condições do mercado”, afirma. “As empresas que adotarem essa abordagem estarão mais bem posicionadas para atrair e reter talentos, promover um ambiente de trabalho engajador e alcançar o sucesso a longo prazo.”
Fonte: Jornal Valor/Globo