O Planejamento Estratégico do Sisejufe aconteceu nos dias 17 e 18 de outubro, em formato híbrido, com a parte presencial no auditório do Sisejufe. O primeiro dia foi dedicado às reflexões sobre conjuntura e reforma administrativa, com mediação da presidente do sindicato, Lucena Pacheco Martins; e da diretora Soraia Marca, que é também coordenadora-geral da Fenajufe.
Os convidados avaliaram os cenários internacional e nacional, passando por temas como Governo, Congresso, Judiciário, correlação de forças e papel das entidades sindicais.
O primeiro painelista foi Celso Carvalho, da Pró-reitoria de Inovação e Tecnologia da Informação da Universidade Federal do Rio Grande (PROITI/FURG), que abriu o debate sobre o cenário internacional e a conjuntura política global, destacando a crise estrutural do capitalismo e a perda de hegemonia do Império norte-americano. Para ele, essa decadência não se limita à esfera econômica, mas se estende à política e à capacidade social de gestão, criando um ambiente de instabilidade marcado por guerras e conflitos. Carvalho citou o genocídio do povo palestino como exemplo da violência que se intensifica à medida que o império perde seu domínio.
Ele explicou que, diante da incapacidade do capitalismo em se reproduzir de forma sustentável, cresce a criação de capital fictício, desvinculado da produção real de bens e serviços, o que reforça a perda de hegemonia global. “Os impérios, quando perdem a capacidade de convencimento político, entram em declínio e recorrem à violência como defesa”, destacou.
Nesse contexto, Carvalho ressaltou o surgimento de novas potências internacionais, organizadas economicamente e politicamente, que se apresentam como contra-hegemonia. Ele mencionou os BRICS e os BRICS Plus, grupo ampliado de nações cuja soma do PIB chega a quase 40 trilhões de dólares, destacando o potencial econômico, político e bélico desses países. Para ele, a emergência dessas novas forças multipolares configura o elemento central da conjuntura internacional, com impactos diretos sobre o Brasil e a América Latina.
Sobre a conjuntura nacional, o pesquisador afirmou que o Brasil ocupa posição estratégica nesse cenário global de disputas e contradições. Ele apontou que a polarização política interna se intensifica entre forças progressistas e o bolsonarismo, que ele classificou como uma força de caráter fascista, com base social significativa e capacidade de mobilização direta. “O bolsonarismo não convive com a democracia; ele a utiliza para impor mudança de regime”, observou. Carvalho reforçou a importância da unidade da classe trabalhadora e do campo progressista para enfrentar essa força política.
Por fim, o pesquisador alertou que o país segue sob risco de polarização e instabilidade, especialmente diante de uma eventual disputa eleitoral em 2026, reforçando que a atuação política e a mobilização social serão decisivas para a manutenção da democracia e da estabilidade nacional.
Alerta sobre reforma administrativa
Em seguida, a assessora parlamentar Carolina Marques (Consillium Soluções institucionais e Governamentais) falou sobre a reforma administrativa e seus impactos no serviço público e na vida dos servidores.
Durante a exposição, Carolina fez uma leitura detalhada do cenário político nacional, destacando as principais pautas em tramitação no Congresso e os riscos que o serviço público enfrenta com a Reforma Administrativa.
Carolina avaliou que o contexto político passou por mudanças nas últimas semanas. “Durante cerca de três meses, o horizonte era de extrema preocupação com o que poderia vir nas eleições do ano que vem”, explicou. “Mas, com a taxação do Trump e o arquivamento da PEC da Blindagem — uma vitória importante —, o cenário se tornou um pouco menos tenso, ainda que siga adverso para o serviço público.”
Segundo ela, a Câmara dos Deputados busca recompor sua imagem após crises recentes, priorizando uma agenda considerada mais propositiva. Entre os temas com maior chance de avanço neste ano, Carolina citou a PEC da Segurança Pública e a derrubada da Medida Provisória do IOF.
“Essas pautas ocupam espaço e reduzem a janela de tramitação de propostas mais sensíveis, como a Reforma Administrativa”, observou.
Carolina explicou que o Grupo de Trabalho (GT) da Reforma Administrativa surgiu após um acordo costurado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. “Foi uma reação política, mais um gesto do que uma ação planejada. O Lira criou o GT sem um roteiro definido. A falta de controle era tão grande que os próprios participantes não tinham acesso aos textos prometidos”, relatou.
Segundo ela, esse improviso reforça a avaliação de que a tramitação da reforma não segue um planejamento consolidado. “A ideia ganhou corpo, mas sem um desenho institucional sólido”, afirmou.
A assessora afirmou que o tema enfrenta dificuldades políticas e de calendário. “Nossa leitura é de que não há força nem tempo hábil para votar a reforma neste ano. Há outras pautas travadas, como o Orçamento, mas sabemos que o Congresso é dinâmico e se houver vontade política, espaço se cria”, alertou.
Quando fez a análise, Carol comentou que a proposta ainda não havia atingido as 171 assinaturas necessárias para ser protocolada. No entanto, esse quórum foi alcançado na última sexta-feira (24/10).
Carolina apresentou os principais pontos da proposta, que, segundo ela, alteram profundamente as regras do serviço público. Entre as mudanças; destacam-se regras mais rígidas nos concursos públicos; extinção de cargos; aumento do tempo de estágio probatório com critérios de avaliação subjetivos; Estabilidade, que só será adquirida após aprovação em avaliação de desempenho e cumprimento de metas; e Avaliação de desempenho anual, com possibilidade de demissão para desempenho abaixo de 70%.
Carolina ressaltou que as propostas representam um desmonte do serviço público, por extinguir direitos históricos como adicionais por tempo de serviço, licenças-prêmio, progressões automáticas e a paridade entre ativos e aposentados.
“A cada nova leitura dos textos, surgem pontos ainda mais preocupantes”, observou.
Apesar disso, ela reforçou que o momento exige mobilização constante para impedir que esse projeto avance.
Protagonismo nacional nas lutas
A coordenadora-geral da Fenajufe, Soraia Marca, explicou a atuação da Federação e a luta para garantir avanços das negociações da reestruturação da carreira; a dirigente também falou dos projetos que tramitam no Congresso Nacional, como o AQ.
Após a fala de Soraia, o espaço foi aberto para perguntas.
Num segundo momento, o gerente financeiro Marcelo Nobile e o secretário de Administração, Gestão de Pessoas e Patrimônio, Valter Nogueira, apresentaram o balanço Administrativo/Financeiro e a Execução do Orçamento de janeiro a setembro.
Saiba como foi o segundo dia de planejamento estratégico, clicando neste link.
Abaixo, mais alguns momentos do 1º dia de planejamento estratégico:
