Alto contraste Modo escuro A+ Aumentar fonte Aa Fonte original A- Diminuir fonte Linha guia Redefinir
Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no estado do Rio de Janeiro - Telefone: (21) 2215-2443

Congrejufe levanta debate sobre todas as formas de opressão no movimento sindical

Na tarde desta sexta-feira (29), os participantes do Congrejufe puderam acompanhar a mesa Opressões no Judiciário. A diretora do Sisejufe e coordenadora da Fenajufe Lucena Pacheco apresentou as duas palestrantes, Cláudia Durans, doutora em Serviço Social; e Rosane Fernandes, Secretária Ajunta de Combate ao Racismo da CUT que falaram sobre opressões vividas por diversos segmentos no meio judiciário e também nos demais espaços da vida como as mulheres, as negras e negros, os que se identificam com os mais diversos gêneros ou orientações sexuais e os que possuem algum tipo de deficiência.

“Essa mesa é composta hoje de pessoas que vão trazer algumas luzes para a gente, clareza, para um debate que a gente precisa entender que não é qualquer coisa, não é mi-mi-mi. Nós no judiciário às vezes pouco queremos falar das opressões, mas é extremamente necessário. Somos um público seleto que ainda está aqui para discutir isso, mas sabemos que dentro da nossa categoria esse tema ainda é desprezado”, introduziu Lucena, reforçando a importância da realização e propagação desse debate como um momento especial para que esses segmentos não sejam silenciados no dia a dia do processo de trabalho em suas unidades, tribunais e outros locais de produção.

Também participaram da mesa os coordenadores Juscileide Rondon, Elcimara de Souza e Jailton Assis.

Cláudia Durans começou criticando a esquerda tradicional que historicamente relegou a um segundo plano as lutas contra as opressões como o machismo, o racismo, a homofobia e outras. “As lutas contra o racismo e o machismo eram vistas como divisoras da classe. Por outro lado, muitos movimentos feministas também não levavam em conta o debate classista, assim como muitos grupos do movimento negro, a maioria formada por homens, também consideram apenas o tema da raça”.

Para Claudia, essas contradições foram um problema para as mulheres negras feministas que não se sentiam representadas nem pelos grupos feministas de maioria branca, das classes médias, nem os do movimento negro, nos quais a maioria de homens negros reproduziam as práticas machistas. “Então, quando estamos falando de opressão, estamos tratando das diferenças entre as pessoas que são tratadas pelos grupos dominantes para submetê-las por essas diferenças a diversas formas de opressão, seja de gênero, de orientação sexual, racial, pela condição física, religião ou qualquer outra forma de diversidade”. Para Claudia, o sistema capitalista é o campeão em dividir as pessoas em identidades ou marcas para criar formas de contenção de resistência da classe trabalhadora à exploração pelo trabalho.

Opressão e exploração andam juntas

Falando especificamente do serviço público e mais ainda do judiciário federal, Cláudia questionou o percentual de servidoras e servidores negros, assim como em outros espaços de poder social, como as universidades e institutos de pesquisa, mas pontuou que é preciso ir além de identificar esses quantitativos. “É preciso irmos além dos números. Precisamos buscar compreender essa realidade e vários esforços têm sido realizados no sentido de buscar uma visão que compreenda esse processo a partir de uma visão integrada, combinada, desses elementos de opressão e exploração, visando a apreender a complexidade das identidades e das desigualdades econômicas e sociais”.

Vítimas do racismo e machismo

A secretária adjunta de combate ao racismo da CUT, Rosana Fernandes traçou um panorama da situação da população negra, especialmente das mulheres negras no Brasil. Rosana se apresentou como uma pessoa descendente de pessoas escravizadas. “Sou descente de seres humanos que foram sequestrados de um país, de um continente, e foram dispersas pelo mundo. Sou descendente de pessoas que viveram mais de trezentos anos escravizadas aqui nesse país. Sou neta de uma mulher nordestina que saiu do Estado da Bahia com a metade dos seus filhos e foi para são Paulo para ganhar a vida porque era vítima da violência doméstica. Sou filha de uma mulher negra trabalhadora de um dos setores mais precarizados do Estado brasileiro que são as trabalhadoras têxteis”. Com esse histórico pessoal, Rosana é a primeira mulher negra de sua família com formação universitária e que conseguiu comprar uma casa própria. A apresentação não foi por acaso e demonstrou como se dá a estrutura da sociedade capitalista no Brasil, lembrando que as opressões são estruturantes desse sistema econômico e produtivo.

Por sua própria experiência, a sindicalista percebeu muito cedo o que é o racismo, assim como machismo e denunciou a reprodução dessas estruturas também nas entidades sindicais. “As vezes as pessoas nem percebem que estão numa situação de machismo ou racismo. E se eu falar sobre homofobia e LGBTfobia a coisa fica muito pior.”

Rosana também destacou o dado de que o Brasil é o segundo país do mundo mais homofóbico, perdendo apenas para o México. “As opressões determinam na nossa sociedade quem vai ter o poder político, o poder econômico e quem vai ter o poder social”. Segundo ela, a opressão acontece também em relação às culturas não dominantes como os saberes das mulheres negras ou as religiões de matriz africana.

Corte de renda

Também em relação à renda e, portanto, à classe social, as mulheres são oprimidas por este sistema econômico. Rosane lembrou que as mulheres recebem em média, no Brasil, 78% da média dos salários dos homens. A desigualdade se mantém mesmo com as mulheres tendo maior qualificação: 10,4% delas tem curso universitário, contra 9% deles. E mesmo assim, nas ocupações de nível superior, as mulheres recebem, em média, apenas 71% dos salários dos homens.

Morte da juventude negra

Outro ponto destacado pela sindicalista é a política genocida do governo brasileiro que mata mais pessoas negras do que brancas, especialmente os jovens. E isso sob o silenciamento da sociedade. “Quando mataram o George Floyd nos Estados Unidos, nós tivemos manifestações em diversos estados aqui no Brasil, e em outras partes do mundo. Quando matam um negro brasileiro, nada foi feito, porque a nossa sociedade tem no seu inconsciente que é normal, natural”, denunciou, fazendo referência à morte do jovem Cauã, pela polícia do Rio de Janeiro, no último dia 27 que pouco ou nada mobilizou reações de repúdio ou resistência da sociedade.

Manuella Soares, jornalista, especial para o Sisejufe.

Últimas Notícias