Depois de meses falando sobre reajustar os salários dos servidores federais em 5%, índice bem inferior aos 19,99% reivindicados pelas categorias, o governo Bolsonaro decide que não haverá nenhum reajuste em 2022. “Pelo que tudo indica, não será possível dar nenhum reajuste para servidor no corrente ano. Mas já está na legislação nossa, a LOA, que, para o ano que vem, teremos reajustes e reestruturações”, afirmou em entrevista para o canal SBT.
Bolsonaro disse que a reposição das perdas salariais do funcionalismo poderia “atrapalhar o funcionamento” do país. “Se você dá esses R$ 7 bilhões agora, que seria 5% de reajuste, você vai para R$ 16 bilhões dentro do teto. Você vai pegar o Ministério da Infraestrutura, por exemplo, vai demitir, daqui a 20 dias, 20 mil pessoas, e as obras vão parar. Você vai ter um corte que vai atrapalhar o funcionamento do Brasil”, alegou.
Para o assessor e consultor de entidades sindicais e diretor da Insight Assessoria Parlamentar, Vladimir Nepomuceno, a reposição das perdas salariais dos servidores nos últimos três anos,, “na verdade, atrapalharia outros objetivos do seu governo, como a crescente redução de despesas com benefícios previdenciários e salários de servidores”. Segundo o consultor, 2021 foi o ano em que houve o menor gasto com salários e aposentadorias de servidores, desde 1997.
“Atrapalharia também a política do presidente de tentar comprar apoio de alguns setores do funcionalismo, visando às eleições deste ano e barrar possíveis processos criminais contra si, seus familiares e amigos, em caso de derrota eleitoral e a perda de fórum privilegiado.”
Vladimir considera que o reajuste para Bolsonaro poderia significar menos verba a ser distribuída a seus apoiadores políticos nesse período pré-eleitoral. “O que realmente atrapalha o funcionamento do Brasil são as políticas do atual governo e seus cortes e contingenciamentos de parte significativa dos orçamentos de órgãos responsáveis pela execução de políticas sociais, como saúde, educação, entre outras”, complementa.
Governo desiste até do R$ 1,7 bilhão prometido aos policiais e agentes
O Ministério da Economia decidiu segurar também a verba de R$ 1,7 bilhão reservada no orçamento deste ano para reajustes, em princípio, prometidos pelo governo às polícias Federal e Rodoviária e aos agentes penitenciários. A justificativa é usar o recurso para reduzir o bloqueio orçamentário de R$ 8,2 bilhões, definido na revisão do orçamento apresentada em maio ao Congresso Nacional. Usando a verba destinada a reajuste salarial, o governo reduzirá para R$ 6,94 bilhões, o bloqueio.
Mobilização nas categorias continua
Depois da declaração de Bolsonaro, em assembleia, os funcionários do Banco Central (BC) decidiram manter a greve em curso por tempo indeterminado. Segundo o Jornal Correio Braziliense (8/05), O sindicato da categoria vai propor uma reivindicação de 13,5% para o conjunto do funcionalismo, no lugar dos 19,99%.
“Nem os 27% que a gente pedia, nem o zero’ que o governo está fazendo. No meio termo”. Segundo o periódico, os servidores do Banco Central vão apresentar a proposta de novo reajuste aos dirigentes do banco e a parlamentares com o objetivo de que a reivindicação chegue ao Planalto.
Categoria judiciária cobra recomposição ao STF
Entre as servidoras e servidores do Judiciário, o movimento agora é exigir que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, encaminhe um projeto de lei ao Congresso para reestruturar a carreira e recompor as perdas.
Nesta quarta-feira (8), a Fenajufe realiza uma reunião ampliada, com representantes dos sindicatos de base, para definir os próximos passos. A ideia é manter a pressão sobre o Ministro Fux para que encaminhe com urgência o Projeto de Lei com o reajuste emergencial dos servidores e servidoras do PJU e que abra mesa de negociação para discutir a pauta salarial de 2023.
Manuella Soares, jornalista, para o Sisejufe.
Foto: Folha/Uol