A 23ª edição do Botequim Sisejufe que aconteceu no último sábado, 24 de maio, na Centro Cultural Bola Preta, foi marcada pelas belíssimas apresentações do grupo Razões Africanas e de Dorina e Velha Guarda da Portela, que integraram um grande encontro do samba. Além de muita dança, música e feijoada, o evento contou com duas homenagens feitas pelo Sisejufe a servidores que tiveram papel importante na construção do sindicato e na resistência cultural
Marina Schneider*
Formado por integrantes do Jongo da Serrinha e contando com as cantoras Dely Monteiro Lazir Sinval, Luiza Marmello, o grupo Razões Africanas foi o primeiro a se apresentar, trazendo diversas vertentes da música com origem africana como o ijexá, o próprio jongo, o samba de partido alto e até música angolana. Antes do grupo subir ao palco, o diretor do Sisejufe, Roberto Ponciano, organizador do Botequim, lembrou que o Jongo da Serrinha é uma marca de identidade cultural do Rio de Janeiro. “O sindicato tem a sensibilidade de ser um parceiro do Jongo da Serrinha porque se não tiver parcerias este quilombo vivo e patrimônio cultural morre”, ressaltou.
A segunda apresentação da tarde ficou a cargo da parceria entre Velha Guarda da Portela e Dorina. O atual presidente da Escola de Samba de Madureira, Serginho Procópio, que é integrante da Velha Guarda também participou do show. Eles animaram a plateia com clássicos como “Foi um rio que passou em minha vida”, de Paulinho da Viola, e “Contos de Areia”, samba-enredo que exalta os fundadores e figuras importantes da história da Portela, como Clara Nunes. De autoria de Dedé da Portela e Norival Reis, o samba-enredo deu o título à Portela em 1984 e ainda emociona quando cantado e tocado pela Velha Guarda da escola. A cantora Dorina lembrou Luiz Carlos da Vila cantando a música “Doce refúgio”, uma homenagem feita pelo sambista ao Cacique de Ramos.
Para Marcos Monteiro, servidor do TRE que já participou de várias edições do Botequim Sisejufe, o evento é muito bom para sair do cotidiano do trabalho. “As questões sindicais são muito pesadas e a iniciativa do Sisejufe de promover esta interação por meio de um evento cultural é muito importante”, afirmou.
Homenagens
A primeira homenagem foi prestada a um dos idealizadores da festa, o servidor da Justiça Federal, Rodrigo Moreira Gomes, que também é músico e escritor, conhecido no meio artístico como Du Basconça. “Em geral a gente só faz reconhecimento aos artistas, mas o Rodrigo foi um grande parceiro e idealizador desse projeto. Sem ele o Botequim Sisejufe não teria existido e nem resistido”, frisou o diretor Roberto Ponciano.
A homenagem foi entregue pelo diretor-presidente do Sisejufe, Valter Nogueira Alves. “Rodrigo merece a homenagem por ser um grande lutador pela resistência cultural. Está de parabéns pelo trabalho”, afirmou Valter.
Um dos fundadores do sindicato, Og Carramilo Barbosa também foi homenageado durante o 23º Botequim Sisejufe. Ele lembrou a dificuldade para fundar um sindicato de servidores públicos logo após a Constituinte e agradeceu a homenagem. “Fico muito feliz com a homenagem porque vejo hoje um sindicato que não luta apenas por melhorias salariais, mas também pela cultura”, afirmou.
Cada um dos homenageados recebeu um quadro com uma foto de uma cena do samba carioca tirada pelo fotógrafo Ierê Ferreira, especializado em eventos da cultura afro-brasileira que expôs seu trabalho na festa.
Oito anos de Botequim
O Botequim Sisejufe existe desde 2006, quando foram realizadas três edições do evento. Du Basconça lembra que a primeira edição, em março daquele ano, tinha como ideia inicial trazer um artista de médio porte para o show principal e a abertura de um artista da categoria, o “Prata da Casa”. “O primeiro evento teve dois “Pratas de casa” e, como convidada, a cantora Lisa D´Ambrósio, que se apresentava com frequência no Rio Scenarium e em outras casas da Lapa. Mas não foi exatamente um sucesso de público”, recorda, bem humorado. Dali em diante o projeto passaria a ter uma cara diferente.
“Depois, o botequim passou a ser uma festa da categoria. A gente tinha o objetivo não só de levar o binômio arte-entretenimento, mas também de promover uma interação entre a categoria e também, claro, de proporcionar uma maior aproximação da categoria com o sindicato. Isso foi conseguido, felizmente, a partir da terceira edição do Botequim”, recorda.
A partir do segundo ano, o formato já estava mais bem definido: unia o “Prata da Casa” com um nome do samba ou da MPB carioca. O projeto se desdobrou em outro evento, o Sarau Judiciál Cool, uma espécie de happy hour com várias manifestações artísticas, como poesias e esquetes teatrais. “De lá para cá a categoria teve a oportunidade de mostrar sua cara. Nós não estamos apenas promovendo arte e entretenimento. É a defesa da cultura brasileira”, complementou o diretor do Sisejufe, Roberto Ponciano.
Em 2012 houve um novo desdobramento do projeto, que passou a trazer também alguns nomes da música instrumental carioca. O projeto tem conseguido unir entretenimento, arte e lazer para a categoria. Já subiram no palco do Botequim Sisejufe artistas como Diogo Nogueira, Beth Carvalho, Velha Guarda da Portela, Marquinhos de Osvaldo Cruz, Chico César, Edu Krieger, Moyseis Marques, Elisa Addor, Galocantô, Orquestra Republicana, Cordão do Boitatá, Orquestra Tabajara, Silvério Pontes e Zé da Velha, Moacyr Luz, Nicolas Krassik, entre outros.
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*Da Redação.