No último domingo (31/7), às 10h, o Sisejufe participou da VIII Marcha das Mulheres Negras em Copacabana. Com o tema “Pela vida, direitos, dignidade e por uma sociedade justa e antirracista. Mais mulheres negras no poder!”, a marcha aconteceu em diálogo com a data de 25 de julho, dia da mulher negra latino-americana e Caribenha. No Brasil, também comemoramos nesta data o Dia Nacional Tereza de Benguela, em homenagem à líder do quilombo do Piolho que resistiu a escravidão por décadas.
Mobilizadas, as mulheres do Sisejufe se juntaram às delegações que saíram de 34 municípios para marchar. Estiveram presentes a presidenta Maria Eunice Barbosa, Anny Figueiredo (coordenadora do departamento de Mulheres), Neli Rosa (Coordenadora do departamento de aposentados e pensionistas), a representante de base Renata Oliveira e a servidora Patrícia Fernanda, fundadora do Coletivo Negro da Justiça Federal.
A diretora Anny Figueiredo contou seu sentimento em participar da marcha:
“Foi emocionante participar da Marcha, especialmente após o período de pandemia, em que ficamos tão distantes das companheiras que nos alimentam de força para as lutas. Mulheres negras com suas falas potentes revelando o orgulho de sua ancestralidade, também através de suas vestimentas, danças, batuques, comidas. A importância de todas participarmos do lindo evento se revelou no tamanho da grande marcha. Foi um sucesso!”
A organização das mulheres negras foi alinhada com a pauta urgente das eleições, por isso o mote que demanda mais mulheres negras no poder e o lançamento da campanha “Eu voto nas pretas”. Sobre isso, a diretora Neli Rosa pontuou:
“Foi uma caminhada valiosíssima, com presenças importantes de participantes de várias vertentes do movimento negro, com grandes falas de colocar mulheres negras no poder. Vamos enegrecer o poder! Precisamos colocar mulheres negras na política. Vamos repensar na hora de votar. Acredito que essa será uma eleição de maior poder de decisão, com muitos jovens votando pela primeira vez e demonstrando interesse em mudar a nação. Temos que ter maior representatividade do nosso povo negro na política!”
O Sisejufe apoia e fomenta a organização das mulheres negras, compreendendo que, como nos ensinou AngelaDavis, quando uma mulher negra se movimenta, toda a sociedade se movimenta com ela!
Confira o manifesto oficial da organização da VIII Marcha das Mulheres Negras na íntegra:
Mulheres Negras em marcha: Pela Vida, Direitos, Dignidade e por uma sociedade justa e antirracista. Mais mulheres negras no poder!
Mais uma vez estamos em Marcha, dessa vez duas questões se sobrepõem a tantos outros pontos de nossas reivindicações. De forma alguma nos esquecemos que nós, mulheres negras somos as principais vítimas do feminicídio, da violência doméstica, da mortalidade materna, do desemprego. Que seja nas áreas urbanas ou rurais, disputamos a vida nas cidades sob inúmerasinjustiças, no entanto, definimos como algo que devemos evidenciar nesta marcha é que a nossa luta por direitos tem a ver com ocuparmos os espaços de poder e decisão na política representativa (partidária).
Também retomamos o quanto continuamos a viver, em vários setores das nossas vidas, os impactos da pandemia do Coronavírus, que ainda não acabou, mas que não vemos aquelas questões que foram salientadas por deixar a comunidade negra em maior vulnerabilidade. Falamos falta de comida, de falta de acesso à água e a outras urbanidades, falta de política habitacional, falta de acesso à internet, falta de política educacional com foco nas nossas crianças adolescentes e jovens adequadas ‘a realidade vivida neste momento.
Diante dessas questões nos posicionamos, reconhecendo que o Brasil apresenta um entrelaçamento entre a desigualdade econômica e disparidade de acesso a direitos no curso da história, que aparece mais explicitamente se consideramos as questões de raça, gênero, idade e orientação sexual. Em momentos de crise, essas desigualdades, que são estruturais, destacam-se ainda mais porque afetam segmentos étnico-raciais e sociais que constroem as suas vidas em meio a injustiças e violências.
Estamos aqui, de pé, em marcha, Somos mulheres pretas desafiando a branquitude, construindo táticas de avanço, questionando as práticas e respostas que provocam o fortalecimento das estruturas e organizações de poder, privilégios e vantagens. Enquanto marchamos estamos realizando o deslocamento da falta de representatividade para a visibilidade e a audibilidade políticas.
ESTAMOS EM MARCHA para dizer ao poder público e ao ESTADO BRASILEIRO que reconhecemos que estar nos partidos políticos e não é uma relação fácil de ser feita, já que o racismo garante aos brancos uma posição privilegiada na sociedade, e até aqui, não observamos interesse da branquitude em renunciar a benefícios e privilégio que historicamente as engrenagens racistas da sociedade lhes garantem. No entanto, entendemos que quando esses partidos realizam engajamento na luta ANTIrracista, ANTImachista, ANTIlbtfóbica, para nós significa compromisso com a democracia, com o bom desenvolvimento econômico, social, político isso porque entendemos que só é possível haver democracia PARTIDÁRIA, COM participação EQUÂNIME DAS MULHERES NEGRAS.
O impacto da pandemia na maioria da população negra foi avassalador!!!
O atual cenário apontou, no Brasil, para uma conjuntura de saúde que já estava em processo de sucateamento, tornando os serviços prestados caóticos para a maioria da população que utiliza da saúde pública, a pandemia (Covid-19) agravou esse quadro. Por outro lado, em atitude de reação e luta, a pandemia levou organizações e coletivos liderados por mulheres negras a estabelecerem estratégias e políticas de enfrentamento às muitas consequências que atingiram a população negra a partir de apoio comunitário mútuo sobre o qual se consolida o nós por nós.
Apesar das vulnerabilidades e carga de desigualdade que o racismo nos impõe, nós, mulheres negras, queremos seguir vivas, em resistência, mas também em Bem VIVER, abraçando o compromisso da ação que vise nosso fortalecimento comunitário e das nossas bases culturais, científicas, filosóficas de modo que, como construtoras de nossas próprias narrativas, façamos a renovação das consciências e promovendo novas reflexões e novos projetos de transformação social que tenham por base nossos valores ancestrais , o antirracismo, a emancipação e empoderamento das mulheres negras.
Ifura abo jẹ ti o lagbára ti àwọn obìrin!
(O instinto feminino é a poderosa força das mulheres!)
Axé!
Por Ana Priscila Alves, especial para o Sisejufe