O noticiário neste sábado (14/8) repercute os dados que revelam o aumento das contaminações por Covid-19 no Rio de Janeiro. O site UOL destaca que o estado teve neste mês uma disparada na fila por leitos para doentes com coronavírus. Entre os dias 8 e 12, o número de pessoas à espera de leito (de UTI ou enfermaria), aponta a reportagem, subiu de 54 para 152, quase três vezes. Trata-se da maior fila para internação em três meses. Ante o avanço da variante delta, a central de regulação de leitos alertou para a necessidade de se abrir mais vagas de internação em um dos hospitais da rede estadual, que atende a Baixada Fluminense.
De acordo com a reportagem, o secretário de Saúde, Alexandre Chieppe, reconheceu que há um “aumento significativo”, mas disse que não faltam leitos. Na quinta-feira (12/8), última data disponível, houve 125 pedidos de transferência para a rede estadual.
No documento, a central de regulação classifica a cidade do Rio como “epicentro” da variante delta. Com o aumento das solicitações, foi feito um pedido de abertura de leitos para covid-19 no Hospital Estadual Ricardo Cruz, em Nova Iguaçu, que poderia atender moradores da Baixada Fluminense. O secretário disse que isso “está sendo avaliado”.
Dois índices medem a movimentação nos hospitais:
- Fila de espera para internação: pessoas que buscam uma unidade para atendimento e não encontram leitos
- Número de solicitações de transferência: a quantidade diária de solicitações por um leito dentro do sistema estadual de saúde; quanto maior este número, mais movimentados estão os hospitais.
No Rio, ambos estão em disparada e autoridades citam o avanço da delta como principal motivo.
Fila de internação é a maior em 3 meses
O estado do Rio de Janeiro atingiu na quinta-feira (12) a maior fila de espera para internação desde 10 de maio. Naquela data, 157 pessoas aguardavam para serem internadas em uma unidade estadual de saúde. O número mais recente mostra 152 na fila. Desde o início do mês, o estado vê uma disparada na fila de espera. No dia 1º, apenas 33 pessoas aguardavam um leito, ou seja, em menos de 15 dias houve um aumento de quase cinco vezes na busca.
Considerando somente os leitos de UTI, os pedidos subiram de 9 para 72 (alta de 700%) nos 12 primeiros dias do mês. A última vez que a fila esteve tão grande foi em 16 de abril, com 88 pessoas na fila.
Capital cobra mais leitos
O prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD) cobra mais leitos. Durante a divulgação do boletim epidemiológico da cidade do Rio, Paes afirmou que a cidade abre mais leitos do que outros níveis de governo, criticando principalmente o governo federal. Nos últimos dias, capital abriu 20 leitos no hospital de referência para tratamento da doença, o Ronaldo Gazolla, na zona norte. O secretário estadual pondera que o trabalho da SES não consiste em abrir mais leitos, mas monitorar tal necessidade. “A gente tenta, até o último momento, manter o funcionamento normal das unidades. Mas caso necessário, a gente abre ou suspende a reversão de leitos, o monitoramento é feito diariamente”, explicou. O estado do Rio de Janeiro vacinou até ontem 8.692.940 com a primeira dose contra a covid-19, cerca de 50% da população. Completamente imunizados já são 27%. Para ler a notícia completa, clique neste link.
O Globo: Nova alta de mortes em idosos
Outra reportagem, publicada no jornal O Globo, revela que a Fiocruz identificou uma alta na quantidade de óbitos por Covid-19 em pessoas de 60 anos ou mais no Rio de Janeiro. É o primeiro aumento no número de mortes nessa faixa etária desde fevereiro. O dado foi calculado com o auxílio de um método estatístico chamado ‘nowcasting’, que considera o comportamento dos números da pandemia para compensar o atraso nas notificações e estimar indicadores em tempo real. Para os cientistas de Métodos Analíticos em Vigilância Epidemiológica (Mave-Fiocruz), que desenvolvem o estudo, a situação dos idosos com 80 anos ou mais é particularmente impressionante.
A quantidade estimada de óbitos da última semana epidemiológica para a faixa etária é de 175; em dados consolidados, não se vê um número tão alto desde abril. O município do Rio está se tornando, segundo o próprio prefeito Eduardo Paes, o ‘epicentro’ da variante Delta no país.
Diz o texto: “Ao mesmo tempo, o grupo dos 80 anos ou mais manteve, pela segunda semana consecutiva, o crescimento mais acentuado no índice de internações. Ele somou, na última atualização do estudo, 848 hospitalizações estimadas em uma semana. O maior número desde o início da pandemia.”
Segundo o pesquisador Leonardo Bastos, responsável pela análise, três fatores podem explicar o repique da Covid-19 entre os idosos: o relaxamento das medidas restritivas, a gradativa perda da proteção conferida pelas vacinas e a variante Delta, mais transmissível que as demais linhagens do coronavírus.
Integrante do Mave e desenvolvedor das análises do Boletim InfoGripe, o pesquisador Marcelo Gomes acredita que o efeito das vacinas pode já ter chegado a um ponto de saturação, especialmente nos mais idosos. Isso preocupa, uma vez que o Rio, como o resto do Brasil, falhou em reduzir o nível de transmissão do vírus.
“A terceira dose em idosos é algo que se discute no mundo todo. Mesmo com a vacina funcionando, reduzindo casos graves e óbitos, ainda assim a população mais idosa continua se mostrando mais vulnerável. Nesse grupo, sabemos que a eficácia das vacinas é um pouco menor do que no resto da população, e também há a questão da perda de memória imunológica, que é natural nos mais velhos. Isso realmente precisa ser discutido. Mas a gente não pode perder de vista que existem outras medidas. Não podemos deixar só na mão das vacinas o nosso cenário epidemiológico”, afirma Gomes.
A prefeitura planeja injeção de reforço em idosos (3ª dose).
Crianças e adolescentes
Embora o novo agravamento da pandemia ameace sobretudo os idosos, as estimativas da Fiocruz mostram que os menores de idade, alvo da próxima fase da campanha de vacinação na cidade, atravessam agora o pior momento desde o início da pandemia no Rio de Janeiro. Na última atualização das projeções de nowcasting, a tendência de alta nas internações por síndrome respiratória aguda grave em crianças e adolescentes com diagnóstico de Covid-19 se acentuou pela segunda semana consecutiva nas faixas etárias de 0 a 9 anos e 10 a 19.
Para Leonardo Bastos, o cenário inédito retratado pelos números é uma consequência inevitável do aumento do nível de exposição ao coronavírus entre os menores.
Em se tratando de casos notificados, a série histórica para as faixas etárias vai ao encontro das previsões do instituto. Dados extraídos pela própria Fiocruz do sistema Sivep-Gripe, do Ministério da Saúde, mostram que a faixa dos 0 a 19 anos chegou a representar mais de 10% das internações por SRAG no estado, a maior proporção desde o fim de fevereiro. O número pode ter sido influenciado pelos efeitos da vacinação, que reduziram a quantidade de hospitalizações entre os mais velhos, ampliando o percentual dos mais novos.
Para Bastos, uma outra hipótese para o aumento de notificações de SRAG entre crianças e adolescentes com diagnóstico de Covid-19 é a chamada contaminação cruzada. Ela acontece quando uma pessoa dá entrada no hospital com sintomas decorrentes da infecção por um patógeno, mas ao mesmo tempo porta outro, que não dá indícios de presença. A reportagem de O Globo está disponível aqui.
Fonte: Uol e O Globo
Crédito da foto: Rovena Rosa / Agência Brasil