Por Anahí Guedes de Mello e Marco Antonio Gavério*
Corpos femininos, defiças, LGBTI+, negros e indígenas, são social e culturalmente representados como ‘desviantes, ‘degenerados’, ‘deformados’, ‘dependentes’, ‘incompletos’, ‘vulneráveis’, ‘incapazes’, ‘fracos’, ‘incompetentes’, ‘selvagens’. Essa perspectiva se estende a corpos de trabalhadores e trabalhadoras que se deficientizam devido a acidentes e outras condições precárias do trabalho, dimensionando a intersecção com classe.
Assim, a feminilidade e raça acabam sendo performances de deficiência. Mulheres, LGBTI+, pessoas com deficiência, negros, indígenas são sempre recursos oportunos para uma ‘economia da pena’ de ‘salvadores benevolentes’. E nas redes sociais já lemos expressões tais como “(…) mesmo que isso signifique se fazer de besta, cego e surdo”; “cegueira racial”; “cegueira de gênero”. A lista é extensa. As feministas não defiças costumam invocar imagens negativas da deficiência para descrever a opressão das mulheres. Jane Flax, por exemplo, já escreveu que as mulheres são “mutiladas e deformadas” pela ideologia e práticas sexistas. Mesmo ativistas de esquerda tendem a adjetivar inimigos e antagonismos de cego, surdo, mudo, autista, retardado, imbecil, esquizofrênico, demente, esclerosado, etc. Enfim, somos uma sociedade que tem verdadeiro fetiche por adjetivos relacionados à “ontologia negativa” da deficiência e outras condições de saúde.
Que tal pararmos de fazer uso capacitista da língua e com isso barrar de cooperar com os jogos do opressor? Neste Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, nossa mensagem é a de que outro mundo é possível, sem o uso de palavras e expressões capacitistas.
*Anahí Guedes de Mello é antropóloga e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina; Marco Antonio Gavério é Cientista Social pela Universidade Federal de São Carlos