Estudo inédito, divulgado no 10º Congrejufe, poderá servir de ferramenta valiosa à criação de políticas de saúde para a categoria. Realizada pela Fenajufe e Fenajud, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), a Pesquisa Nacional de Saúde “Sofrimento e adoecimento no trabalho do judiciário e MPU” foi financiada pelo Sisejufe e outras entidades. “É a primeira iniciativa do Observatório Nacional de Saúde, um projeto apresentado pela coordenação de Saúde ao GT de Saúde da Fenajufe e à Plenária Nacional da Fenajufe, onde foi aprovada. É uma política acertada, resultado do esforço conjunto de entidades que estão preocupadas com o adoecimento dos trabalhadores diante de desafios como teletrabalho, carga horária excessiva, insalubridade, entre outras questões”, aponta a assessora política do Sisejufe, Vera Miranda.
O Sindicato do Rio teve participação ativa em todo o processo de construção da pesquisa. “Para o Sisejufe, o tema saúde dos servidores e das servidoras é muito caro, pois temos como um dos princípios norteadores o bem-estar geral dos trabalhadores. A Pesquisa faz parte de um projeto nacional de construção do Observatório Nacional, visando o mapeamento do adoecimento da categoria. A pesquisa mostra que mais de 60% da categoria apresenta sofrimento físico e/ou mental, um resultado assustador e que virá num crescente com a eletronização total dos processos de trabalho, desmonte do serviço público, Resolução 219, teletrabalho e, principalmente, a EC 95. Nós, dirigentes sindicais e da federação, bem como militantes na área de saúde do trabalhador, envidaremos todos os esforços para não permitir que isso ocorra, estabelecendo uma política nacional de prevenção à saúde dos servidores do PJU e MPU”, afirma a diretora do Sisejufe, Helena Guimarães.
A PESQUISA
O relatório final do estudo foi apresentado no penúltimo dia do Congrejufe pelo professor Emílio Peres Facas, do Grupo de Estudos e Práticas em Clínicas, Saúde e Trabalho (GEPSAT) e Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho (LPCT) da UnB, tendo o debate sido mediado pela então coordenadora da Fenajufe, Mara Weber.
A pesquisa analisou dados de 1397 trabalhadores e trabalhadoras do PJU e MPU em todo o país e investigou os indicadores da organização do trabalho, modelos de gestão, sofrimento e danos físicos, psicológicos e sociais que se encontram na gênese do adoecimento pelo trabalho. Como ferramenta quantitativa foi aplicado o PROART (Protocolo de Riscos Psicossociais Relacionados ao Trabalho) e entrevistas clínicas individuais como ferramenta qualitativa da pesquisa.
O estudo aponta os principais indicadores sobre sofrimento e adoecimento da categoria. “É uma ferramenta para entendermos e podermos mostrar o grau de sofrimento, não tendo por si só o condão de mudar a realidade nos locais de trabalho, mas estarmos certos de que é um potente instrumento de luta. Queremos prevenir e fazer justiça a todos e todas que já sofreram assédio, adoeceram e, infelizmente, em casos dolorosos para nós, se suicidaram em seus locais de trabalho”, destaca trecho do documento.
ADOECENDO POR CAUSA DO TRABALHO
O estudo aponta que 66% dos entrevistados relataram problemas de saúde relacionado ao trabalho nos últimos doze meses. Para o professor Emílio Facas, esse número pode ser bem maior, considerando as subnotificações, por ser difícil para o próprio trabalhador reconhecern que o seu problema de saúde diz respeito ao trabalho. “Prazos irrealistas e metas inatingíveis resultam na sobrecarga de trabalho”, aponta o especialista.
Os números revelam, ainda, que 38% estão insatisfeitos com os processos eletrônicos e 11% trabalham mais de oito horas por dia, sem contar o trabalho remoto pelo WhatsApp após o expediente.
INSALUBRIDADE
A pesquisa relata que o ambiente de trabalho ficou menos insalubre, pois diminuiu o pó que se acumulava nos materiais, mas, por outro lado, o ato de trabalhar na mesma posição o dia todo, deixou os corpos tensos, não mais por carregar peso, mas pela postura, tensão e preocupação de não errar.
ASSÉDIO MORAL
Outro ponto destacado é o assédio moral, que se desdobrou em seis temas: vivência de assédio; conhecimento sobre a definição de assédio; posição da instituição sobre o tema; causas para o assédio; consequências para o assédio e; reações diante do assédio sofrido/ testemunhado. Os dados revelam que alguns entrevistado afirmaram já terem sido vítimas, mas que não gostariam de falar sobre o assunto; nenhum servidor relatou ter sido assediador em algum momento da carreira.
A servidora do TRT-RJ e delegada no Congrejufe, Carla Nascimento, deu um depoimento emocionante sobre o tema. Ela contou que sofreu assédio no Tribunal e criou uma campanha no Facebook para combater esse crime. “Me aproximei da militância por causa do assédio moral. E o Sisejufe me acolheu”, ressaltou.
Para o professor Emílio Facas esse relatório é um instrumento de luta, de possibilidades de atuação para além dos números que fornecem subsídios, mas são limitados: “cabe aos trabalhadores e trabalhadoras darem vida ao que está impresso, ao que está na teoria.”
Veja aqui o resumo do relatório. E neste link, o roteiro do estudo.
A íntegra da pesquisa está neste link