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Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no estado do Rio de Janeiro - Telefone: (21) 2215-2443

Sisejufe participa do Encontro Nacional de Pretas e Pretos da Fenajufe

Entre os participantes, uma mesma sensação: foi um encontro histórico, necessário e importantíssimo

Neste final de semana, dias 26 e 27 de novembro, aconteceu em Brasília o primeiro Encontro Nacional de Pretas e Pretos da Fenajufe.

Em formato híbrido, o evento contou com a representação de 35 sindicatos. O Sisejufe, claro, também participou. Cinco representantes estiveram em Brasília e participaram presencialmente (Neli Rosa; Amaro Faustino; Patrícia Fernanda; Renata Oliveira e Bethe Fontes). Já Cássio Coutinho participou virtualmente.

Servidora sindicalizada do Sisejufe, Patrícia Fernanda, dirigente do Coletivo de Negras e Negros da Justiça Federal falou com alegria sobre o encontro e os dois dias de debates: “Foi um encontro histórico, potente, importantíssimo. Ele, aliás, marca a minha trajetória e a da Fenajufe: algo que eu sonhava acontecer e agora tive o privilégio de participar. Um encontro nacional de pretas e pretos do Judiciário. Muito, muito bom! Conheci irmãos de caminhada de vários estados do país, começamos projetos em que trabalharemos juntos, somando potenciais. Estou ainda mais feliz porque ao final do evento conseguimos desenhar pautas para trabalharmos e já estou ansiosa por realizar as propostas”, comentou Patrícia com entusiasmo.

Neli Rosa, dirigente do Sisejufe, coordenadora do DAP e militante dos movimentos de valorização da cultura negra, também falou emocionada sobre o primeiro Encontro Nacional de Pretas e Pretos da Fenajufe: “Passei no concurso público em 1989. A realidade que encontrei naquela época era muito diferente. Eu contava nos dedos o número de negros no TRF2. Agora, somos muito mais, mas ainda precisamos nos ver mais representados. Cada passo em frente que damos é uma conquista que merece ser celebrada, mas tenham certeza: precisamos e, com certeza, vamos avançar muito, muito mais. Esse encontro é a prova de que estamos no caminho certo, no caminho da luta contínua e da valorização.”

Dois dias de troca e intensos debates

No sábado pela manhã, o tema “Negritude e poder: o que esperar dos poderes Legislativo e Executivo após as eleições 2022?”  abriu a primeira mesa de debates. Dela participaram as palestrantes Patrícia Ramos, professora e membra do Movimento de Mulheres em Luta (MML); as vereadoras Bruna Rodrigues (Pcdo B/RS), integrante da bancada negra do partido na Câmara; e Tainá de Paula (PT/RJ), ambas com forte atuação política-antirracista em seus estados e Artur Miranda, representando a Coalizão Negra Por Direitos e o PerifaLab.

A vereadora Bruna Rodrigues, abriu o debate trazendo a necessidade de uma reflexão sobre o papel do Judiciário nas questões raciais. Ela afirmou que não enxerga um “novo pacto nacional de defesa ou de resgate de nossa nacionalidade, de um projeto de nação sem a inclusão do Judiciário”. A vereadora afirmou que qualquer retomada honesta de gestão que leve em consideração a desigualdade social deve colocar no centro pautas como “o combate à mortalidade da juventude negra, a fome e o extermínio desta mesma juventude” e reforça que o   Judiciário é o centro dos Poderes e precisa romper a estrutura racista do país e não manter essa mesma estrutura”.

Patrícia Ramos iniciou sua falando da importância das atividades do “novembro negro” que além de relembrar Zumbi e Dandara representa a força de negras e negros contra as opressões e exploração social mas que também marca a derrota de Bolsonaro nas urnas  e “o pior do sistema capitalista”. A militante do MML afirmou ainda que “Bolsonaro atacou duramente o povo negro nesses quatro anos e a classe trabalhadora como um todo”.

Arthur Miranda, que também é diretor executivo do Laboratório de Periferias (PerifalLab), ressaltou que a vitória de Lula foi de uma “importância gigantesca” no processo de reconstrução democrática do País e da sociedade, mas que  é preciso considerar que o Legislativo carece de representatividade negra. Segundo ele, houve um aumento tímido de bancadas negras, ainda assim “essas bancadas negras não ultrapassam  os 9% e “isso amplia a dificuldade do debate da igualdade racial no parlamento”. Segundo lembrou, entre os temas centrais propostos até o momento, “o debate da desigualdade racial não está inserido”, alerta Miranda.

A vereadora Tainá de Paula (PT/RJ) citou a importância de “saber quais as políticas do governo eleito para a população negra”. Ela cita ser fundamental se atentar, por exemplo, como o futuro ministro ou ministra da Fazenda irá reparar as péssimas condições da classe trabalhadora negra, como vai fazer para revogar as reformas trabalhistas e previdenciária e como fazer para inserir o negro nas políticas de inclusão. De acordo com Tainá, devemos disputar “com fôlego  e garra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva”.

A mesa da tarde teve como tema central “Negritude nas Ruas: qual(s) pauta(s) organizam a nossa luta?” Entre os palestrantes, Walmir Júnior, do Movimento Negro Unificado no Rio de Janeiro (MNU/RJ); Rosana Fernandes, da Secretaria de Combate ao Racismo da CUT Nacional; João Paulo  JP, representando o núcleo de negros e negras da CTB e da Unegro/DF,  além de Wellingta Macêdo, do Quilombo Raça e Classe.

Já no domingo, o tema que marcou o dia foi “Enegrecendo a Fenajufe: desafios da auto-organização dos pretos e pretas no movimento dos(as) trabalhadores(as) do judiciário – limitações, experiências e tarefas”, que contou com a participação de Sandra Cristina Dias, Coordenadora Geral da Fenajufe; Jaílson da Silva Lage, Coordenador de Formação Política e Sindical; Luiz Cláudio dos Santos Correa, Coordenador de Combate às Opressões e Patrícia Fernanda dos Santos, servidora sindicalizada do Sisejufe, militante antirracista e representante do coletivo de Negras e Negros da Justiça Federal.

Antes de dar prosseguimento às discussões do dia, a mesa anunciou a construção de uma moção de repúdio ao jornal “O Estado de São Paulo” pelo fato de o veículo ter usado imagens de mãos negras para ilustrar matéria sobre o atentado à duas escolas ocorrido na sexta-feira, dia 25, em Vitória /ES.  A prática criminosa resultou na morte de 4 pessoas e teve como autor um adolescente branco, filho de militar. Para os participantes, essa foi mais uma forma  evidente e absurda de acentuar o racismo estrutural tão enraizado em nossa sociedade.

Ao abrir a mesa de debate, a coordenadora Sandra Dias reviveu momentos de sofrimento ao relatar situações de racismo vivenciados por ela. Sandra considerou importante o debate racial na categoria e principalmente nas instâncias da Fenajufe.  A dirigente lembrou que ao ser eleita no último Congrejufe afirmou que iria provocar o debate racial dentro da Federação. “Minha intenção era trazer esse protagonismo das negras e dos negros para dentro da Fenajufe”. Para ela o “enegrecer a Fenajufe traz muitos desafios além de mobilizar a categoria”. Ela  reconheceu ainda que a pauta identitária dentro da atuação  sindical é esvaziada e menosprezada.

Luiz Cláudio relembrou que enxergou no concurso público a opção  de proporcionar “vida melhor para a família” e os direitos que o trabalhador da iniciativa privada não tinha. Luiz falou de racismo estrutural   existentes nas instituições e ressaltou a  resolução do CNJ que institui cotas raciais para ingresso  nos órgãos do PJU inclusive para contratação de terceirizados, mas que essas cotas não são cumpridas. Segundo ele, essas vagas são preenchidas através de indicação  por “gente do alto escalão” e por pessoas brancas. E que é preciso lutar para acabar com isso e é um papel da Federação.

O coordenador considerou também muito importante o debate na Fenajufe, mesmo  reconhecendo as dificuldades enfrentadas para a realização desse encontro. O coordenador relembrou ainda que as cotas de paridade de gênero e de raça só foram implantadas no último Congrejufe, realizado esse ano, em Goiás.

Finalizando o encontro, o último dia de evento acolheu as propostas que foram apresentadas pelos representantes dos sindicatos e após lidas e consensuadas pelo plenário, serão encaminhadas para análise da diretoria executiva da Fenajufe. Entre as propostas estão:

– Criação do Coletivo Nacional de Pretas e Pretos da Fenajufe;

– Que a Fenajufe passe a aplicar a contratação de trabalhadores observando o perfil racial da sociedade brasileira;

– Que no ano de 2023 o encontro Pretas e Pretos se realize na semana da Consciência Negra – dia 20 de novembro;

– Oficinas culturais nos próximos encontros;

– Criação de um núcleo de Pretos e Pretas em cada sindicato;

– Plenário aprovou Moção de repúdio sobre matéria do jornal “ O Estadão” que usa uma imagem de mão negras para ilustrar o atentado realizado por homens brancos no estado do estado do Espírito Santo.

 

(Sisejufe, com informações da Fenajufe)

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