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Sisejufe participa de Audiência Pública no TRT1 sobre contratação de pessoas em situação de rua

Eunice Barbosa, presidenta do sindicato, foi uma das palestrantes do evento; um momento de emoção foi o encontro dela com o ex PopRua, Leo Motta que, na Bienal de 2019, com o apoio do Sisejufe, lançou seu primeiro livro

Na sexta-feira, 23/06, Eunice Barbosa, presidenta do Sisejufe, participou da Audiência Pública, realizada no TRT1, sobre a contratação de pessoas em situação de rua por empresas vencedoras de licitações públicas. Eunice, inclusive, compôs a mesa como uma das palestrantes.

Além dela, compuseram a mesa o presidente do TRT1, desembargador César Marques Carvalho; o conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Mario Goulart Maia; o desembargador-ouvidor do TRT-1, Carlos Henrique Chernicharo; o procurador-chefe da Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região (PRT-1), João Batista Berthier Leite Soares; o juiz do trabalho e presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 1ª Região (Amatra1), Ronaldo da Silva Callado; e a juíza do trabalho e presidente da Associação dos Juízes do Trabalho (Ajutra), Patrícia Vianna Ribeiro.

Em sua fala de abertura, o presidente do TRT1 falou sobre a importância da participação da Justiça do Trabalho na discussão desse tema: “A Justiça do Trabalho, especialmente no Rio de Janeiro, há anos se dedica ao social. Se o trabalhador fica exposto, é necessário cooperar, participar e ensejar, no que pode ser feito, para ajustar e melhorar a sociedade”, disse ele.

Mario Goulart Maia, conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) parabenizou o TRT1 pela iniciativa e se colocou inteiramente à disposição para estar presente sempre que forem debater o tema, novamente. Numa fala sensível e bastante assertiva, citou a escritora Cecília Meirelles ao dizer: “já não se morre de velhice, nem de acidente nem doença, só de indiferença” e afirmou: “Atualmente, o que mata é a falta de empatia. Não podemos achar normal que um ser humano busque alimento na lata do lixo. Isso mostra que essas pessoas não têm só fome. Elas também não têm mais sonhos e nem perspectivas. Isso tudo é desumano”.

Citando a célebre frase do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho (1935-1997), fundador da ONG Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, Carlos Henrique Chernicharo, desembargador ouvidor do TRT1, afirmou que o que as pessoas em situação de rua passam é “um grande flagelo, uma enorme chaga que precisa ser curada, porque quem tem fome tem pressa”.

Numa fala bastante aplaudida, Eunice afirmou: “Quero cumprimentar toda a mesa e agradecer, na pessoa do Dr. César, o convite para estarmos aqui e contribuirmos com esse debate, com esse diálogo que é de extrema relevância para toda a sociedade. Quero cumprimentar, também, todas as pessoas que hoje lotam essa sala de audiência e pedir licença para cumprimentar de forma especial as pessoas em situação de rua, que eu vi que chegou um bom grupo aqui, todos trazendo além de suas crianças, trazendo também seus sonhos, seus projetos e as suas urgências. São vocês que hoje nos iluminam, nos ajudam e nos orientam nesse debate. Pra nós, a primeira coisa é que a situação das pessoas em situação de rua nos mostra que há algo de muito errado com a forma como nós organizamos a sociedade porque pra nós a pergunta que se impõe é: o mundo que a gente pensa é o mundo em que cabem todas as pessoas? O mundo que queremos pras nossas gerações e pras futuras gerações? É um mundo em que cabe o Leo Motta, a Maria, o João? Peço licença aqui ao Leo Motta para comentar a forma como nos encontramos. Conheci o Leo em uma das atuações da gente com o segmento das pessoas em situação de rua. E ele tinha um sonho que era lançar um livro com sua biografia. O livro “Há vida embaixo das marquises” e ele, inclusive, depois disso, já lançou um segundo livro. O Leo Motta foi o primeiro PopRua a lançar um livro numa Bienal. Então, há espaço pra todo mundo no mundo em que os trabalhadores e as trabalhadoras, especialmente do Judiciário Federal, inclusive dessa casa, pensa pras nossas gerações e pras gerações futuras. É esse mundo que queremos e precisamos ajudar a construir. Pra nós, incluir as pessoas vulnerabilizadas se impõe como uma forma de garantirmos a democracia de forma efetiva a todo mundo, com comida, com trabalho, com moradia digna, com direito a viver e a sonhar”.

“A realizadora de sonhos”

Após a fala de todos da mesa, a Audiência Pública abriu espaço para a manifestação de vários inscritos. Representantes de diversos segmentos da sociedade participaram como expositores. Presidentes de instituições representativas de magistrados, servidores públicos, pessoas em situação de vulnerabilidade social, assistentes sociais, representantes de ONGs e projetos sociais, advogados, pessoas que atuam em projetos voluntários, entre outros, expuseram seus pontos de vista sobre o tema.

Leo Motta, citado por Eunice, foi um deles.

Atualmente, Leo trabalha na Secretaria de Assistência Social do Rio de Janeiro, mas como ele lembrou em sua fala, foi pessoa em situação de rua e conheceu o desamparo total. Foram quase sete meses nas ruas e anos e anos de dependência química. “É muito difícil você ver nos olhos das pessoas que elas passam e simplesmente não te enxergam, não se importam. Lidar com a fome, com o desamparo e com a total falta de oportunidade é muito, muito difícil e doído”, disse ele fazendo questão de lembrar como tudo começou a mudar.

Numa instituição filantrópica, encontrou ajuda e se agarrou à oportunidade para dar um novo rumo à vida: “Foram 224 dias e 896 refeições. E sabe por que contei quantos pratos de comida foram ao longo desse tempo? Porque nas ruas, a fome dói na barriga e na alma. Então, quando voltei a ter comida, valorizei cada refeição que recebi e contei cada uma delas”.

Com esse primeiro apoio, elaborou e imprimiu uns currículos para buscar emprego e enfim se inserir no mercado de trabalho. Depois de muita luta e muita porta fechada, conseguiu emprego como lavador de prato em um pequeno restaurante. Nessa caminhada, um dia, através do Institulo LAR, que é apoiado pelo Sisejufe, conheceu o sindicato e também Eunice, a quem chamou de “realizadora de sonhos”.

Leo queria lançar um livro. Estava escrevendo sua biografia, contando sua história de dor e início de superação, mas não sabia nem por onde começar. Numa conversa, falou isso à Eunice e aí, a surpresa: “Não sei como ela conseguiu, mas conseguiu e de forma tão rápida. Quando vi, estava na Bienal, lançando meu livro, dando entrevista pra vários veículos, contando minha história, sendo ouvido, respeitado, valorizado. Foi maravilhoso. Sou muito grato a todo mundo que me ajudou nessa caminhada até aqui. Encontrar Eunice hoje aqui foi muito especial, também. Eu a chamo de realizadora de sonhos, sabia? Porque pra mim ela foi isso e eu não vou esquecer nunca”, disse Leo.

Sobre a realização da Audiência Pública, ele comentou: “Meu primeiro emprego depois da situação de rua foi de lavador de pratos. Eu estava em busca não apenas de uma vaga de emprego, mas de uma oportunidade para deixar de fato a situação de rua e não retornar mais a ela. Por isso, essa discussão aqui é extremamente necessária. Esse espaço de discussão é essencial. E que haja mais e mais. A exclusão é um projeto falido. A solução para muitas coisas, para a virada de chave, é a inclusão, é a mão estendida, é a ajuda. E eu sou prova disso”.

Leo e Eunice, minutos antes de começar a Audiência Pública

 

 

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