Desmistificando o 13 de Maio: perspectivas da população negra em uma sociedade excludente 130 anos após a Abolição da Escravatura foi o tema do debate promovido pelo Sisejufe, por meio do Departamento de Gênero e Raça, nessa quarta-feira (23/5).
Bruna Rodrigues, da Coordenação Nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), iniciou sua fala reverenciando a todos que lutaram para que ela estivesse no auditório do Sisejufe como debatedora. “Para eu estar nesta mesa, quantas mulheres e homens negros foram silenciados?”, questionou. A coordenadora do MNU não considera que o 13 de maio possa ser comemorado como o dia da abolição da escravatura, pois não foi garantido o mínimo acesso a direitos básicos, como terra, educação e cultura. “Num momento de crise, como o que estamos vivendo, o desemprego chega primeiro na população negra.”
A estudante, que também é e diretora de Combate ao Racismo da União Estadual dos Estudantes no Rio de Janeiro (UEE/RJ), falou de suas dificuldades como negra, desde a falta de identidade com a sua origem, apagada da história, passando pelos problemas na escola, os desafios de estar na universidade e a importância desse lugar para ressignificar a negritude no território nacional. “A democracia racial no Brasil é uma falácia”, ressaltou. Ela destacou a política de cotas como importante para a ocupação de espaços e criticou a mídia, que coloca sempre o corpo negro num papel secundário. “O principal desafio desse país é a superação do racismo”, concluiu.
A perspectiva é a luta
Para a psicóloga Terezinha Martins, coordenadora do Núcleo de Estudos de Trabalho, Raça, Etnia e Gênero (Negrem) da Unirio, a assinatura da Lei Áurea foi apenas uma formalidade, que atende à lógica capitalista. Ela chamou a atenção para o fato de ser fácil constatar o racismo no cotidiano brasileiro: são poucos os negros nas universidades, na política e até nos espaços sociais, como restaurantes e shoppings.
E para mudar essa realidade, Teresinha acredita que a estratégia da população negra deve ser de ocupação e para isso é necessário mudar objetivamente os espaços de luta, para além do simbólico. “A perspectiva é a luta.”
Nesse sentido, as cotas, como política possível, é fundamental, “mas eu queria paridade” – defende. A mestre e doutora em Psicologia Social, professora adjunta do Departamento de Saúde Coletiva da Unirio faz parte da comissão que vai aferir a autodeclaração de quem se candidata a uma vaga na universidade pela política de cotas, com o objetivo de evitar as possíveis distorções.
Sindicato fluminense tem um trabalho efetivo na luta antirracista
O assessor parlamentar do Sisejufe Alexandre Marques parabenizou o sindicato fluminense por ser o único, entre os 31 filiados à Fenajufe, que tem um trabalho efetivo no combate ao racismo, por meio do Departamento de Gênero e Raça. “A própria federação não tem um coletivo que trate do preconceito e da discriminação sofrida pelos negros.”
Como sacerdote do Candomblé, religião de matriz africana, Alexandre denunciou a intolerância religiosa. Entre 2015 e 2016, 109 terreiros foram incendiados no país por pessoas ligadas às igrejas neopentecostais. E no Congresso, são apenas 43 negros na Câmara e dois no Senado. “E a bancada evangélica resiste a qualquer avanço de uma política pública antirracista.”
Alexandre, que também é bacharel em Direito e pós-graduando em Direito Público, é preciso escrever a história na perspectiva do povo negro. “Depois de 130 anos, não temos nada a comemorar. E, em tempos de crise, que iniciou após o impeachment da presidenta Dilma Roussef, a população negra é a primeira a ser atingida.” Ele afirmou ainda que várias lutas anteciparam a assinatura da Lei Áurea “ou haveria uma revolução”. O assessor parlamentar também aposta da ocupação dos espaços como estratégica e vê as eleições de 2018 como uma oportunidade para o avanço do movimento negro.
Cine Debate Sisejufe: Racismo sem rodeios
Com a exibição do filme Selma, acontecerá a primeira sessão de mais uma iniciativa político-cultural do sindicato: o Cine Debate Sisejufe. O evento está marcado para o dia 29 de maio (terça-feira), às 18h, no auditório do sindicato, na avenida Presidente Vargas, 509/11º andar, no Centro do Rio.
Selma é uma narrativa sem rodeios da história da luta de Martin Luther King Jr. pela garantia do direito de voto dos afro-descendentes – uma campanha perigosa e aterrorizante que culminou na marcha épica da cidade de Selma à Montgomery, no estado do Alabama, e que estimulou a opinião pública norte-americana e convenceu o presidente Lyndon Johnson a implementar a lei dos direitos de voto em 1965.