Por Sarah Fonseca*
A campanha “Setembro Amarelo” foi instituída em 2003 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como mês internacional de prevenção do suicídio. Ela faz parte do calendário de ações que buscam qualificar as redes de cuidado à saúde para lidarem com o tema, bem como sensibilizar a população para identificar e ajudar pessoas que tendam a atentar contra a própria vida.
No Brasil, essa campanha foi iniciada em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade filantrópica que oferece apoio emocional a partir do número telefônico 188, pelo qual se pode acessar voluntários que se disponibilizam a conversar com pessoas em profundo sofrimento.
Mas, ainda em 2006, o Ministério da Saúde (MS), por meio da portaria 1.876 que instituiu as Diretrizes Nacionais de Prevenção do Suicídio, passou a investir em notificações que ajudaram a conhecer melhor o perfil desse público, disparar ações educativas para profissionais e para o conjunto da sociedade.
Em 2016 foi lançada a Agenda Estratégica para Vigilância e Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde no Brasil. O documento traz um panorama nacional de 11 mil mortes auto provocadas por ano, sendo a quarta maior causa de morte na faixa etária entre 15 e 29 anos.
Para cuidar desses tipos de sofrimento mental o Sistema Único de Saúde (SUS) conta com os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) e os Caps AD (Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas), serviços especializados em saúde mental que dispõem de equipes compostas por diversas
categorias profissionais para realizar atendimentos individuais, atividades em grupo no interior desses dispositivos e no território, dentre outras ações.
Emenda 95
Mas, se por um lado, o Setembro Amarelo tem sido bem sucedido no sentido de provocar alguma fissura no individualismo, sensibilizando para os sinais de desesperança de quem está deprimido, e estimulando o suporte familiar e social; por outro, o Ministério da Saúde promete o que não pode cumprir. Afinal, a Emenda Constitucional 95, assinada pelo governo de Michel Temer em 2016, impede o financiamento em políticas sociais, dentre elas que a saúde cresça junto às demandas da população.
Por isso, se solidarizar a essa campanha vai muito além de usar fitinha amarela, consiste em defender políticas públicas capazes de dar esperança ao povo. O desafio para os anos que se seguem compreende também nos fazer representar por quem investe efetivamente na manutenção da vida.
*Sarah Fonseca é coordenadora técnica do Caps AD III Antônio Carlos Mussum e mestranda em Atenção Psicossocial do Instituto de Psiquiatria (Ipub) da UFRJ
Texto publicado no Brasil de Fato edição 282 (12-19/09/2018)