Não é de hoje que a grande imprensa atribui ao funcionalismo público em geral, todos ou quase todos os males que o país vive. Sempre que pode, os grandes meios de comunicação criticam os servidores, alegando que são privilegiados e rotulando-os com outros adjetivos pejorativos. O mais recente ataque veio do Grupo Estadão – o que esperar dele, não é mesmo? – sobre a legítima reação dos sindicatos à Medida Provisória do Governo Temer que joga o reajuste salarial de 2018 para 2019 e aumenta a contribuição previdenciária da categoria, de 11% para 14%, para quem ganha acima de R$ 5,5 mil.
O texto, entre outros pontos, insinua que a situação caótica das finanças públicas é culpa única e exclusivamente dos servidores públicos federais. Esquecem, os editorialistas do Estadão, que o funcionalismo contribui, e muito, para o desenvolvimento do país com sua força de trabalho e dedicação ao prestar serviços, que em muitas vezes, sem as mínimas condições, quiçá dignas, de atendimento para exercer suas tarefas e funções.
Recentemente, a grande imprensa praticamente se calou para o fato de Michel Temer ter agraciado seus aliados para evitar o andamento das denúncias de corrupção que pairam sobre ele. Em busca dos votos para derrubar o segundo pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), Temer liberou muito dinheiro para obras de deputados federais, por meio do empenho de emendas parlamentares, chegando a R$ 1 bilhão somente em setembro e outubro. Sem contar a série de nomeações a cargos do segundo escalão para aliados.
Somente no dia em que a PGR apresentou a segunda denúncia contra Temer, o governo liberou R$ 65 milhões em emendas seus aliados de desmandos e dilapidação do erário. Conforme a Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados, o empenho de emendas individuais, que havia ficado em R$ 138 milhões em agosto e R$ 273 milhões em setembro, pulou para R$ 687 milhões apenas nos primeiros 23 dias de outubro, ou seja, um aumento de 397% em relação a agosto.
Os ataques nefastos que o Judiciário têm sofrido, em especial a Justiça do Trabalho, visam – e isso a grande imprensa não mostra, nem tampouco o Estadão -, a tentativa discriminatória e explicita de sua extinção, assim como a do Direito do Trabalho no Brasil, o que representará um retrocesso de 70 anos nas relações entre patrões e empregados no país. Na mesma linha de destruição do Estado brasileiro e de seu Judiciário, vem o desmonte da Justiça Eleitoral, o que facilitará, em muito, a perpetuação, via fraudes eleitorais, dos velhos e novos coronéis e oligarcas no poder estatal.
Então, o “anúncio de que haverá greves e protestos, além de ações judiciais contra a medida, condiz com o comportamento de quem não pretende abrir mão de nenhum de seus privilégios em relação aos trabalhadores do setor privado, nem mesmo diante da evidente asfixia do Orçamento federal.”, vaticina o diário paulista sem sequer dar o direito à dúvida sobre o que afirma o ente do oligopólio midiático brasileiro. O anúncio de greve e acionamento do Judiciário por seus direitos – e não privilégios – é mais do que justo. E não há como “abrir mão” de nada. Tudo foi conquistado com muita luta desses trabalhadores públicos. “Asfixia do Orçamento federal” é produto, isso sim, das benevolências de um governo ilegítimo e corrupto que se põe a estar no poder pelo que compra de votos no Congresso Nacional e pelo que de aquinhoamentos políticos destina aos seus pares de corrupção. Isso, O Estadão, mantido por déspotas esclarecidos, nem de longe cita.
Não cita O Estadão, e seus editorialistas mesquinhos, que se o servidor público tem aposentadoria integral é pelo simples fato de pagar por ela mais dos que os demais trabalhadores e a continuar pagando-a mesmo quando se aposenta. Então, essa cantilena não vinga, sabem os “espertalhões” de um diário a serviço da esculhambação da tarefa e função públicas e da destruição do Estado brasileiro. Para essa gente, quanto pior ficar, melhor será para o seu rentismo e para que possam auferir lucros e mais lucros.
O Estadão, vilmente, cita casos isolados para expor suas ideias que aviltam, esse sim, a inteligência alheia, em seu libelo ao seu próprio “universo paralelo” da mentira, da hipocrisia e da maledicência.