Ministro Gilberto Gil cede música de sua autoria para empresa considerada poluidora pelos defensores do meio ambiente
Tem causado constrangimento nacional a propaganda da Aracruz celulose que aproveita-se da paixão nacional pelo futebol para disseminar propaganda institucional, nos intervalos dos jogos do Brasil. De modo oportunista, a empresa multinacional, produtora de celulose, quer nos passar a impressão de que tem uma relação profunda com o povo e a nação brasileira. Eis que o nome da Aracruz aparece ao lado dos grandes mitos nacionais. Estão lá, entre outros, o pugilista popó, Pelé, Daiane dos Santos, o técnico de vôlei, Bernardinho, e até o nosso astronauta-aposentado, Marcos Pontes.
Na prática, estes que representam o melhor do imaginário de nação brasileira, foram chamados para iludir o povo, fazendo-o crer que também a Aracruz é "coisa nossa". Não é bem assim. O fato é que a Aracruz é uma multinacional instalada em várias partes do mundo com o objetivo de produzir celulose. No caso do Brasil, a empresa tem ampliado sistematicamente as áreas de plantio de eucalipto, matéria-prima para fabricação da celulose.
A monocultura de eucalipto, planta exótica nativa da Austrália, gera os "desertos verdes". Nestas falsas florestas não ocorrem nidificação, os animais silvestres não conseguem sobreviver, o consumo de água é em quantidade elevadas, a aplicação de formicidas é feita em grande escala, são gerados poucos empregos. A implantação de monoculturas de eucaliptos tem levado a destruição de florestas naturais, com agressões irreversíveis ao meio ambiente. No caso da Bahia, onde nasceu o ministro Gilberto Gil, cabe destacar que a Aracruz celulose está se aproveitando do meio ambiente, usando os recursos hídricos, tem o apoio do Estado, e toda sua produção será exportada.
O que causa espanto, além da Aracruz fazer uso de símbolos do imaginário nacional, é o fato deste comercial, que tenta juntar uma marca multinacional ao que de melhor o Brasil produz, ter como trilha sonora a música "Balé de Berlim", feita pelo ministro da Cultura e integrante do Partido Verde, Gilberto Gil. Para nós ambientalistas e membros do PV é constrangedor notar que um companheiro – e servidor do Estado brasileiro – aceitou cachê desta multinacional para ilustrar sua imagem junto ao povo brasileiro. Consideramos anti-ético e paradoxal que um membro do PV aceite participar desta publicidade.
Edson Duarte
Deputado federal do PV-BA (Partido Verde)