Por Mauro Figueiredo*
Li na imprensa que uma certa denominação religiosa teria ameaçado de expulsão os pastores que pedissem voto ao candidato Lula. Tal decisão se mostraria correta se incluísse também na punição aqueles pastores que pedissem voto no outro candidato. Igrejas não devem se imiscuir em disputas políticas porque as disputas políticas são marcadas por campanhas difamatórias de ambos os lados, xingamentos, violência verbal, e até física.
Quem vai à Igreja vai atrás de paz, amor, perdão e evolução moral e espiritual. Quando o líder de uma enorme congregação de fé se imiscui no lodo da política, aqueles que o seguem certamente cairão na cova, pois estão cegos e se deixam guiar por outro cego.
Quero acreditar que os crentes dessa denominação religiosa lembrem de outro ensinamento do Verdadeiro Messias quando disse que se deve dar a César o que é de César e ao Reino dos Céus o que ao Reino dos Céus pertence. Provocado, instado a se meter em uma disputa política entre Judeus e Romanos, o Verdadeiro Messias mandou a real.
Quem tem o amor de Cristo dentro de si não nutre indiferença para com os necessitados, chegando a se referir a programas de combate à fome como “coitadismo”. Quen tem o amor de Cristo dentro de si não faz sinal da arminha dentro de uma igreja, que deveria ser a Casa de Deus, local onde se deveria cultivar a paz e o amor.
Quem tem Cristo no coração não defende uma cínica crença na meritocracia, justamente em um pais em que só tem acesso à educação de qualidade quem dispõe de muitos recursos financeiros. A meritocracia como argumento não se sustenta em um pais onde a escravidão só foi abolida em 1888.
O Falso Messias, como todo Falso Messias, é mentiroso e cínico, e sustenta que no Brasil nunca existiu escravidão, diz que quilombolas, verdadeiros herdeiros dos que cultivaram este chão, se pesam em arroubas, feito gado, feito bicho, cujo lombo deve receber o chicote em caso de desobediência.
A atuação de congregações religiosas como verdadeiros cabos eleitorais do Falso Messias revela-se ainda mais espúria quando se leva em conta o perfil moral e ético da figura humana ou, melhor dizendo, desumana para quem se pede votos. Esse Falso Messias já deu inúmeras demonstrações de descaso com a dor dos seus próprios compatriotas, que sucumbiram como moscas em uma pandemia que ele em tom de deboche dizia não passar de uma simples gripezinha.
Pois se eu fosse um desses pastores, diante de uma ordem tão absurda para se atuar como cabo eleitoral, iria pregar em outra freguesia, porque aquela já chafurda no lodo da política, onde imperam falsas promessas, falsas acusações, mentiras e intrigas de toda a sorte.
É por isso que em muitos templos cristãos, mais sintonizados com os ensinamentos éticos do Messias Verdadeiro, proíbe-se que se peça voto para qualquer candidato. Fé não combina com a política. São coisas feitas de matérias distintas: uma busca a Verdade, a outra vende mentiras.
A César o que é de César. Templos religiosos não pagam tributos, graças à imunidade garantida na Constituição, a mesma Constituição que o Falso Messias despreza. E se os templos gozam de imunidade é justamente porque o Constituinte acreditou que templos existem para professar a fé e não para servir de palanque para políticos.
Também diz o Verdadeiro Messias que, na hora do Juízo Final, muitos vão suplicar e argumentar que sempre o seguiram e Ele responderá: aparta-te de mim. Não te conheço. Seguias outro, o Falso Profeta.
*Mauro Figueiredo é representante de base do Sisejufe e técnico judiciário do TRF2. Bacharel e Licenciado em Letras – UERJ. Pós graduado em Letras (UERJ). Mestre em Linguística Aplicada (UFF). Bacharel em Direito (Universidade Candido Mendes). Pós Graduado em Direito Público (Universidade Candido Mendes).