Manifestantes fazem vigília na porta do Tribunal de Justiça em apoio aos 23 acusados de que iriam praticar atos violentos durante a Copa
Tais Faccioli e Celia Mara Lima Latini*
O Tribunal de Justiça do Rio negou nesta terça-feira (16) habeas corpus a Igor Mendes; Elisa Quadros, a Sininho, e Karlayne Moraes, a Moa. Os três foram presos na véspera da final da Copa do Mundo sob a suspeita de praticar atos violentos e tinham conseguido liberdade provisória com a condição de não voltarem a frequentar protestos. No dia 15 de outubro, porém, segundo investigações da Policia Civil, teriam participado na Cinelândia de manifestação que, segundo advogados de defesa e ativistas, seria apenas um ato cultural pelo Dia do Mestre e para lembrar os cerca de duzentos presos em protesto por melhoria salariais dos professores em 2013.
Sininho e Moa são consideradas foragidas pela Justiça. Igor está preso desde o dia 3 de dezembro em um presídio no Complexo Penitenciário de Bangu. A decisão de negar o habeas corpus foi tomada pela 7ª Vara Criminal. Dos três desembargadores, somente Siro Darlan votou pela liberdade. Sidney Rosa e Maria Angelica Guedes se posicionaram contra o pedido.
Ato reúne ativistas em apoio a Igor Mendes
Um ato organizado pela Frente Independente Popular (FIP-RJ) reuniu cerca de cem manifestantes na porta do Tribunal de Justiça do Rio, numa espécie de vigília enquanto os habeas corpus eram julgados. Com faixas e cartazes, os ativistas pediam liberdade para Igor Mendes e todos os 23 presos políticos, bem como a extinção dos respectivos processos.
Um ativista que prefere ser identificado apenas como Armando considera os processos uma arbitrariedade. “São medidas de desespero dos governos para criminalizar aqueles que estão lutando por justiça social”, aponta.
Audiência dos 23 acusados
A negativa dos habeas corpus de Igor, Sininho e Moa ocorreu ao mesmo tempo em que, na 27ª Vara Criminal, os 23 ativistas acusados de envolvimento em protestos violentos eram julgados, incluindo os três que tiveram a liberdade negada. Foi a primeira etapa do processo, em que foram ouvidas as testemunhas de acusação: as delegadas Renata Araújo e Marcela Ortiz, os policiais civis Márcio Benevides e Mike Costa, e o estudante Felipe Braz, considerado dissidente da Frente Independente Popular.
Os policias participaram de ações que resultaram em detenções temporárias dos jovens ou integraram o processo de investigação que culminou na formulação da acusação. Por isso foram chamados a depor.
Caio Silva, Fábio Raposo e Igor Mendes, os três ativistas presos, entraram na sala de audiências algemados. A princípio aberta ao público, na realidade apenas puderam assistir a audiência os demais réus que respondem em liberdade, advogados e jornalistas.
A delegada Renata Araújo, que efetuou a prisão de Camila Jourdan e Igor D’Icarahy, relatou em seu depoimento que o flagrante ocorreu por encontrar na casa de Camila uma bomba caseira, dessas conhecidas como “cabeça de nego”, no momento da prisão. Disse, ainda, que não participou das investigações, tendo sido convocada tão somente para realizar a prisão de Camila.
A tentativa da acusação foi mostrar que o grupo tinha ações planejadas nas ruas durante os protestos e que os materiais apreendidos na residência de alguns – como coquetéis molotov e bombas de fabricação caseira – teriam alto poder destrutivo.
Já os advogados de defesa visam desconstruir a tese de formação de quadrilha, mostrando que o grupo tem uma ideologia política e não se uniu para promover atos ilícitos.
A próxima etapa do julgamento será ouvir as testemunhas de defesa dos 23 acusados. A expectativa é de que essa nova fase dure todo o mês de janeiro.
*Da Redação