O diretor de teatro do Sisejufe, André Arteche, propôs uma iniciativa ousada e os alunos embarcaram na ideia: encenar “Mãe Coragem e Seus Filhos”, de Bertold Brecht, um clássico da dramaturgia universal.
Desafio aceito, Lucena Pacheco, Carla Nascimento, Anny Figueiredo, Vera Lúcia Pinheiro, Norma Costa, Amauri Pinheiro, Edson Roza e Mara Paparella trocaram o papel de servidores pelos personagens da peça.
Antes de começar o espetáculo, o diretor explicou brevemente o texto: “Naquela época havia uma guerra em curso com uma atrocidade que estava acontecendo no mundo inteiro e Bertold Brecht estava completamente envolvido no centro da discussão. Ele foi exilado, teve que sair do país dele e foi morar em outros lugares. O autor tinha uma preocupação com a questão político-social. A gente sempre trabalha no Sisejufe temas que são relevantes, que tenham algo a contribuir socialmente também”.
André acrescenta que é a história de uma mulher que se vê em meio à “Guerra dos 30 anos” e precisa sobreviver com seus filhos a partir desta situação. A história se passa no meio de um conflito mundial no século XVII.
Após a fala de André, o grupo iniciou a peça. As cenas são descritas em detalhes pela narradora e os personagens envolvem o público em diálogos com toda carga de emoção que as cenas exigem.
O elenco fez uma apresentação impecável com interpretações primorosas no palco virtual, levando o espectador a se sentir em uma plateia imaginária.
Ainda no início da estrada das artes cênicas, os atores esbanjaram talento e sensibilidade na hora de contracenar com os colegas.
A aluna Lucena Pacheco, que é coordenadora da Fenajufe e diretora do Sisejufe, afirmou que vivencia uma experiência única. “A gente aprende a olhar para o lado, fazer as coisas juntos, a respeitar o próximo. Só tenho a agradecer essa oportunidade de estar aqui com todos esses meus colegas e André dirigindo a gente. Trabalhar o coletivo é um aprendizado muito importante para minha vida”.
A diretora Anny Figueiredo também se disse grata à paciência dos companheiros de teatro pelas ausências em algumas aulas. “Eu e Lucena estamos envolvidas em muitas atividades (do sindicato) e acabamos faltando muito, mas fomos compreendidas. O professor André tem sido maravilhoso. Em plena pandemia ele nos proporcionou essa válvula de escape, quando estávamos trabalhando totalmente on-line e sem muita diversão. E nesse momento em que a gente voltou ao presencial, encenar Bertold Brecht com toda essa carga emocional é maravilhoso. Ainda existem, nos dias de hoje, muitas mulheres como a “mãe coragem”. Isso é importante e emocionante”, disse.
A servidora Vera Pinheiro ressaltou a relevância do trabalho em equipe e a atualidade do texto. “O mundo está conturbado, tem guerra em todos os lugares e as discussões são sempre as mesmas: a vida continua acontecendo. Apesar da guerra, existe morte, existe tristeza, mas também existem sentimentos e questões de família”, reflete.
Carla Nascimento viu como uma oportunidade enriquecedora trabalhar um texto de Bertold Brecht “tão maravilhoso, que ela não conhecia”.
“Foi uma experiência difícil porque o texto é duro, muito triste. Uma mulher que perde os três filhos na guerra e se mantém o tempo todo fria porque é uma pessoa que vive no modo sobrevivência. Ao mesmo tempo, essa tensão de a gente ter que lidar com os desafios do teatro online, vai fazendo com que a gente aprenda a se virar. Para o ator isso é importante”, continuou.
André Arteche destacou: “O Sisejufe é um exemplo de organização em termos de sindicato. A entidade defende pautas político-sociais com muito trabalho, buscando sempre condições de igualdade e justiça para as trabalhadoras e trabalhadores e também tem um olhar para a cultura. Isso é muito raro, especial e precioso”.
O aluno do curso de teatro e diretor do sindicato Amauri Pinheiro agradeceu o convívio com o grupo. “Foi uma grande experiência. Para todos que nos ouvem: aqui ninguém teve treinamento para teatro no passado. Então trabalhamos e conseguimos chegar a esse ponto. Nunca participei de uma guerra, mas aqui senti isso. Parece que estava vivendo uma guerra. O texto mostra, de maneira simbólica, as agruras que as pessoas sentem no dia a dia, especialmente a mãe coragem, que perde seus filhos e luta desesperada para sobreviver em meio àquele inferno”, comentou.
E continuou: “esse espaço está aberto. Essa experiência é muito rica e seria interessante que todos pudessem vivê-la.
Édson rosa contou que enfrentou um grande desafio. “Sou fã de teatro e cinema, mas nunca pensei que pudesse estar aqui fazendo essa leitura dramatizada. Fico feliz que o sisejufe tenha esse olhar sobre a importância da cultura para formar pessoas críticas”, disse.
Para a servidora Norma Costa, foi engrandecedor. “Sou uma pessoa muito quieta e tímida, mas consegui chegar aqui. Agradeço aos colegas, ao diretor André e ao Sisejufe por se preocupar com a cultura”, relatou. Mara Paparella também disse que a experiência foi positiva.
O espetáculo “Mãe coragem e seus filhos” está disponível neste link.
Saiba mais:
“Mãe Coragem e Seus Filhos”, de Bertold Brecht, é um clássico da dramaturgia universal. Fala sobre a guerra e a relação do feminino com o mundo terminantemente cruel inventado pelo próprio Homem. A fome, o poder, o anseio pelo lucro… De onde deriva todo o mal?
Brecht é um autor de natureza realista, sob o ponto de vista da observação do quotidiano, mas lírico, em sua crueza.