A formação da banda começava com as meninas do tamborim, depois a caixa, o repique, o chocalho e os surdos de primeira, segunda, terceira e o coração na boca de dezenas de meninas e meninos que se formaram no módulo I do “Projeto Qualificando Crianças e Adolescentes, com a percussão e a música, para o futuro”. O projeto é coordenado por Mestre Riko, e também ministrado por Mestre Da, para 50 alunos e alunas dos Morros do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, na Zona Sul do Rio. Na apresentação da Patota do Galo, antes da entrega dos certificados, cada jovem ritmista colocou força, jeito, suingue no seu instrumento mas, principalmente, alma. Via-se nos rostos, sentia-se a eletricidade no ar e mesmo a forte chuva, que em certo momento desabou sobre a comunidade, não abafou a batucada da garotada. O evento aconteceu na tarde do domingo, 24 de outubro, na quadra do Grêmio Recreativo Escola de Samba Alegria da Zona Sul, na Estrada do Cantagalo.
O Sisejufe é parceiro do projeto Patota do Galo e esteve representado pela coordenadora do Departamento de Gestão Social, Larissa Lima Azevedo e pela assessora política do sindicato, Vera Miranda. “Hoje foi um dia de muito orgulho. Tivemos a pandemia, o projeto teve de dar uma pausa, voltou e é uma grande felicidade para nós estarmos juntos hoje aqui”, disse Larissa. De acordo com Vera Miranda, o Sisejufe, além de patrono, é o criador do projeto: “É uma das nossas ações vinculadas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, na Agenda 2030”. “O projeto é para qualificar esses jovens para o campo profissional pela percussão e a música: é uma bela obra do Mestre Riko, da Laís Viana e da Fina Batucada, com a nossa parceria. O Sisejufe se sente muito honrado em participar de um projeto territorial que envolve crianças e adolescentes que poderiam estar em situação de vulnerabilidade e, no entanto estão aqui, num ambiente maravilhoso”, diz Vera.
Mestre Riko andava pela quadra aos sorrisos, sem perder o olhar atento e o senso de organizador, mas com leveza: “Como eu fiz aniversário agora em 12 de outubro, considero esse dia de formação dessa garotada como se fosse a continuação das comemorações do meu aniversário e do Dia das Crianças. Por incrível que pareça, já há no Rio falta de percussionistas; então o projeto também traz esse objetivo de qualificar os participantes para trabalhar com música, percussão”.
Adaílton Carvalho, 53 anos, mais conhecido como Mestre Da é nascido e criado na comunidade do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho. “Meu sentimento hoje é de recuperação. Moramos numa favela cheia de dificuldades financeiras e sociais e a nossa luta é para que, cada vez mais, arte e cultura façam a diferença dentro da comunidade. Queremos logo dar início ao segundo módulo deste projeto, em novembro. É importante que eles mantenham a frequência porque serão inseridos como ritmistas na Escola de Samba Alegria da Zona Sul. Não temos a pretensão de transformar todos em músicos mas se conseguirmos ajudá-los a se tornar cidadãos do bem, é o que basta”, diz Mestre Da.
A convergência de várias batucadas
O evento de formatura teve cachorro-quente, refrigerante e bolo. É um combo que dá muito certo, como deu, aliás, a junção da Viva Batucada com a Fina Batucada e com a Patota do Galo, numa tarde de vários talentos juntos e misturados. Priscila Corrêa da Costa, que é do projeto Fina Batucada, por exemplo, também parceiro do Sisejufe, estava com parte do grupo no evento. “Essas crianças precisam muito do nosso apoio e estou feliz que nós, da Fina Batucada, junto com o sindicato, conseguimos dar esse apoio nesta comunidade”, afirma Priscila.
O servidor do TRE Gilson Baqui, morador de Botafogo, conheceu Mestre Riko quando o Sisejufe promoveu a “Batucada na Justiça”. “Tivemos uma afinidade muito grande”, conta Baqui, “e de lá pra cá, venho participando de tudo que eles promovem.” “Nos últimos dois anos vivemos momentos muito, muito difíceis e poder ver renascer esse espírito nos faz muito feliz.”
Engana-se, contudo, quem pensou que as crianças do projeto só se expressaram através de seus instrumentos. A pequena Kemilly Grabriele Lopes da Conceição, que toca caixa, era só sorrisos. Perguntada sobre qual o sentimento dela no dia da formatura no projeto, abriu ainda mais o sorrisão e lembrou o clássico verso de Gonzaguinha, de quem fica com a pureza da resposta das crianças: “Ah, sei lá! Eu tô feliz!”
João Gabriel Vicente da Silva, de 11 anos, toca surdo de terceira. “Até perdi as contas de quanto eu estudei até chegar aqui hoje porque a pandemia complicou”, disse João Gabriel pouco antes de receber um elogio do Mestre Riko: “Ele é um dos melhores no surdo”. Outro garotinho, Miguel Lucas Frank do Couto, 8 anos, cabelos louros e muito cacheados, explicou como se posiciona: “Meu instrumento é a caixa e quando vai organizar, a caixa fica no meio; o surdo fica atrás e o tamborim fica na frente. Eu já devia passar para o repique, mas gosto da caixa. Eu tô feliz com a formatura hoje porque eu fiquei na bateria do Mestre Da desde os 5 anos”, explica o já experiente pequeno-grande Lucas.
Recentemente a presidenta do Sisejufe, Eunice Barbosa, pontuou: “Cada uma dessas atividades e iniciativas rende e renderá resultados diretos para as comunidades atendidas”. E assim, o Sisejufe das maneiras possíveis, dentro de dois anos atípicos, graves e complicados pela pandemia, vai desenvolvendo sua agenda de projetos e parcerias dentro Agenda 2030 da ONU, que inclui os conhecidos ODS, 17 objetivos para transformar o mundo.
*Por Henri Figueiredo, jornalista/Especial para o Sisejufe