No último dia 14, o Departamento retomou a atividade que teve como tema Mulheres e o Mundo do Trabalho. A atividade é organizada pelo Departamento de Mulheres do Sisejufe com o objetivo de fomentar o debate e a crítica ao modelo societário vigente que se encontra estruturado no rebaixamento das condições de vida, saúde e trabalho das mulheres trabalhadoras.
A “roda de conversa” foi realizada de forma virtual e contou com a participação de servidoras do Rio e de outros estados. Fernanda Lauria, coordenadora da Fenajufe e secretária-geral do Sisejufe; Rosana Fernandes, secretária-adjunta de Combate ao Racismo da CUT; e Renata Oliveira, servidora do MPU e secretária de Comunicação da CUT-DF participaram como convidadas. A coordenadora do departamento Anny Figueiredo mediou a conversa juntamente com a assistente da assessoria política, Ana Priscila Alves.
Rosane Fernandes elogiou a iniciativa e entende que o Escuta Mulher é um espaço de comunicação importante, no qual os movimentos sociais podem tratar das reais condições das mulheres e sobre o papel a elas imposto pelo atual modelo econômico. “Temos um grande desafio pela frente que é descontruirmos as fake news que são apresentadas, a todo momento, tentando desqualificar a vida das mulheres, assim como da população negra, dos homossexuais, o movimento sindical e os movimentos organizados.”
Para Rosane, os anos de pandemia revelaram a forma mais acentuada da precarização do trabalho das mulheres. “Antes da pandemia, em especial aqui no Brasil, já estávamos enfrentando uma situação muito complicada na política e na economia. A gente percebe que essa falta de investimento econômico e social que esse desgoverno vem promovendo atingiu e afeta diretamente a vida das mulheres, especialmente a das mais pobres”.
Como mulher negra, a servidora destacou que, depois da Reforma Trabalhista de 2017, diante do aprofundamento da precarização do trabalho, foram as mulheres negras e de menor renda as mais atingidas pelo aumento do empobrecimento, do desemprego e do sub trabalho. Para ela, a destruição dos serviços públicos pretendida pelo atual governo federal e seus aliados no Congresso atingirá mais pesadamente as mulheres negras e das periferias que dependem diretamente dos serviços primários de saúde, das escolas públicas e das políticas de assistência.
“Quando a gente precariza o serviço público, quando não temos investimento no social, na economia e não valorizamos o mercado de trabalho interno, a gente automaticamente prejudica ainda mais a vida das mulheres”.
Capitalismo e patriarcado de mãos dadas
Para Ana Paula Cusinato é essencial acolher as injustiças que são cotidianamente enfrentadas pelas mulheres nos seus locais de trabalho. Para a servidora, é preciso incorporar à critica ao modelo neoliberal a questão do racismo, do machismo e do patriarcado, que se sobrepõe e se potencializam. “Como o capitalismo e o machismo juntos se sustentam, eles colocam para nós mulheres muitas situações de dificuldades. O impacto da pandemia, por exemplo, gerou muito mais desemprego para as mulheres. Quem teve que ficar em casa cuidando dos filhos, foram as mulheres. Da mesma forma, a dificuldade muito maior de entrar no mercado formal de trabalho é para as mulheres. E isso ainda é um fato, carregado de muitas questões culturais que ajudam a manter o capitalismo”.
A coordenadora Anny Figueiredo ilustrou a situação “Estava vendo aqui os números e, em 2020, logo após a decretação da pandemia, 480 mil pessoas perderam seus empregos formais, sendo que destas 462 mil eram mulheres. Isso significa 96%.” Anny lembrou que o setor de serviços, o mais afetado pela crise, é ocupado na maior parte por mulheres.
Não tem que ser assim
Fernanda Lauria reforçou o lugar de direitos que as servidoras públicas ainda se mantém em relação às mulheres que estão na iniciativa privada ou em outras ocupações. Lembrou que isso acontece em função da resistência da categoria à perda de direitos e ao desmonte dos Estado. “O nível de destruição e retrocesso é tão grande que não sabemos quanto tempo levará para retomarmos outro patamar”.
Lauria descreveu a realidade das mulheres servidoras que tiveram que migrar para o trabalho remoto de forma imediata em função da pandemia e que, com isso, viram sua carga de trabalho doméstico, que já era grande, aumentar. “Tivemos que fazer tudo junto, misturado, ao mesmo tempo, sem descanso. Esse trabalho remoto literalmente admite, na prática, que façamos várias coisas ao mesmo tempo, como cuidar dos filhos, fazer o almoço, cuidar da casa, tudo de repente, de uma hora para outra”.
A dirigente considera que esse processo de desgaste e sobrecarga aumenta a possibilidade de adoecimento mental e que as servidoras devem usar seus direitos garantidos como forma de minimizar os efeitos dessa reorganização do trabalho. “Temos direito à licença para cuidar dos filhos, mas não estamos usando. É preciso saber que não tem que ser assim. Se meu filho está doente, tenho que tirar licença, mesmo em regime remoto, para cuidar dele”.
Acolhimento e sororidade
Durante o encontro, cada convidada usou o espaço para falar sobre suas dúvidas, reflexões e angústias. A presidenta do Sindicato, Eunice Barbosa, convidou a todas as mulheres da categoria judiciária a participar dos próximos encontros do Escuta Mulher. “Esse é espaço onde a gente se encontra, olha tudo, olha o mundo, o universo da Mulher, o que sentimos, compartilhamos os enfrentamentos que fazemos com sororidade”.
Manuella Soares, jornalista, especial para o Sisejufe.