A mesa realizada na manhã de quinta-feira (28/4) foi dedicada à análise de conjuntura nacional e internacional feita pelos palestrantes Plínio de Arruda Sampaio Júnior, professor aposentado do Instituto de Economia da Unicamp, e Rosane Silva, ex-Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, Secretária Estadual de Mulheres das Federação Nacional de Sapateiros e Sapateiras/RS. Após a explanação dos convidados, foram sorteados entre os presentes, delegados do Congresso para perguntas e comentários. Pela delegação do Sisejufe, falaram Clarisse Pacheco, representante de base; Marisa Crisóstomos, pensionista; o servidor Mauro do Anjos e a diretora Helena Cruz.
Por conta de compromissos de saúde, Plínio Arruda não pode estar presencialmente no evento, mas falou com os congressistas através de videoconferência. Fez um panorama da conjuntura internacional e avaliou o momento político brasileiro. Segundo ele, passamos por uma crise estrutural do capitalismo em todo mundo. “Estamos vivendo um capitalismo muito particular, um sistema que tenta tapar um buraco cavando outro ainda maior. Queria destacar a impotência do capitalismo em superar a pandemia. Não temos uma política nacional, muito menos internacional, para administrar a pandemia. Quando tudo que deveria ser feito seria interromper a circulação do vírus. Para isso, bastaria ficarmos todos 20 dias em casa. Em segundo lugar a crise econômica. Quando pensávamos que a economia mundial estaria se recuperando, veio a guerra e entramos novamente em um período de estagnação e inflação.”
Para Plínio a pandemia e a guerra na Ucrânia colocam o mundo em um processo de desglobalização. “A economia mundial passou 40 anos se integrando e agora vemos um processo contrário, caótico, que fica evidente quando o Estados Unidos passa a hostilizar a China e com o encastelamento total da Rússia. Esse é o cenário internacional. De desdobramento incerto”.
O convidado apontou que essa conjuntura de desintegração dos países centrais coloca o Brasil em uma situação extremamente vulnerável do ponto de vista produtivo, já que nossa economia se desindustrializou nessas últimas décadas.
“Passamos o último período desmontando os instrumentos de controle da sociedade e nossos instrumentos de decisão. O resultado é baixo crescimento, com expectativa para esse ano de um crescimento de menos de 1%, se tudo correr bem, alta inflação.” Para ele, o atual governo potencializa a inflação permitindo a alta do dólar internamente, pela falta de uma política interna de abastecimento de alimentos e pela escalada de preços do fornecimento de energia e dos combustíveis. O resultado seria uma crise social aguda e permanente com a perda de postos de trabalho, que hoje ou são informais ou são de baixa remuneração, em média de dois salários-mínimos.
Ataques à democracia e tentativa de desmonte do Estado
A sindicalista Rosane Silva destacou a retomada dos eventos presenciais de luta social. “Sabemos que as redes cumpriram um papel importante na nossa vida, mas nada substitui o processo presencial, a troca direta entre nós”. A sindicalista avaliou que o mundo se encontra em tensão por conta da retomada da guerra entre potências e ascensão da extrema direita, mas também destacou a vitória da esquerda em países da América Latina, citando as recentes eleições na Argentina, Chile e Honduras. “Vivemos uma situação muito delicada com guerra, mas também com a tentativa de a extrema direita de se impor em todos os lugares do mundo. No entanto, temos sinais claros de retomada da democracia no ar, mostrando que é possível retomar um projeto de esquerda no país, apesar de sabermos que as condições no Brasil não são fáceis”.
Rosane denunciou o atual governo pelos ataques à democracia e a tentativa de desmonte do Estado e das políticas públicas. “O governo Bolsonaro tem uma política clara de destruição das políticas que foram fruto da nossa luta por transformação. Se hoje a gente vive um processo em que estamos conseguindo andar sem máscaras em alguns espaços ou falar nesse microfone sem máscara é porque temos o SUS, que foi quem segurou a pandemia. Sem não tivéssemos o SUS teríamos muito mais do que 700 mil mortos”.
A secretária de Mulheres lembrou ainda dos avanços conquistados pelas universidades e institutos de pesquisa nos governos do ex-presidente Lula e da ex-presidenta Dilma, que garantiram o desenvolvimento da ciência brasileira a ponto de podermos produzir a nossa própria vacina contra a Covid-19. “Isso é fruto das políticas sociais que nós do movimento social e sindical fomos construindo em nossa luta pela democracia”.
Participação do Sisejufe
A representante de base do Sindicato, Clarisse Pacheco, destacou a importância dos sindicatos na construção de políticas para o país, através da intermediação dos direitos interesses da classe trabalhadora com o governo e setores privados. “Dentro da construção do Estado democrático de direito, é importante termos sindicatos alinhados com a defesa das causas sociais, independentemente de partidos. Uma política que se enquadre apenas pelos interesses de mercado é pobre, mesquinha e indigna que não merece o apoio do sindicato”.
Marisa Crisóstomo também destacou a importância do sindicato na luta pelos direitos das servidoras e servidores do judiciário. “Estamos aqui para defender as lutas do setor judiciário”.
A diretora Helena Cruz alertou sobre as lutas sociais e referente às categorias do serviço público que estão em curso e que ainda estão por vir. “Temos que ver tudo que foi desfeito por ele (Bolsonaro) em relação às reformas trabalhistas e previdenciária”. Como representante do movimento de mulheres, denunciou a sobre carga e as demandas impostas às mulheres pela divisão sexual do trabalho. “Nós mulheres temos que continuar lutando muito. Porque somos sempre as mais prejudicadas. A nossa carga é a pior porque a gente trabalha em casa, fora de casa, com o cuidado dos filhos. Temos que dar conta de tudo”.
Helena conclamou a união dos congressistas em torno das pautas como a luta contra a reforma administrativa e pela conquista do Nível Superior. “Nesse Congrejufe, precisamos nos unir para identificar o que realmente importa a nossa luta como servidoras e servidores, contra essa PEC que conseguimos barrar no ano passado. Pelo NS que é tão importante também”.
Por Manuella Soares, para o Sisejufe