O editorial publicado pelo jornal O Globo em 09/11/2025 dissemina dados distorcidos, omite informações e tenta desmerecer o trabalho de servidoras e servidores que sustentam, diariamente, o funcionamento da Justiça no Brasil. Não aceitaremos que a luta legítima pela recomposição salarial, após anos de congelamento, seja transformada em narrativa de privilégio.
O Globo erra ao atacar os servidores do Judiciário Federal. E erra de maneira consciente.
O reajuste aprovado pelo Congresso Nacional não é privilégio: é recomposição de perdas salariais acumuladas desde 2019. No período, a inflação ultrapassou 30%, enquanto servidoras e servidores ficaram anos sem qualquer correção, arcando, na prática, com um corte real no salário.
O reajuste aprovado é escalonado (8% ao ano entre 2026 e 2028), transparente, previsível e dentro do orçamento aprovado em lei.
Além disso, o editorial ignora um fato essencial: o projeto não se aplica aos magistrados, mas exclusivamente aos servidores, justamente para corrigir desigualdades internas e evitar o aprofundamento da defasagem salarial que vem provocando evasão de profissionais qualificados, desmotivação e impacto direto na qualidade dos serviços prestados ao cidadão.
Chamar isso de “benesse” ou “oportunismo” é uma agressão gratuita àqueles que garantem, diariamente, o acesso da população à Justiça, seja no atendimento, no cumprimento de decisões, na gestão de sistemas, na conciliação, no atendimento ao público e na execução de políticas judiciárias.
A comparação apresentada entre as remunerações do Judiciário Federal e as de servidores municipais e estaduais parte de um recorte que desconsidera a diversidade do serviço público. Todas essas carreiras são fundamentais para o funcionamento do Estado e para garantir direitos à população — cada uma com seu papel, sua realidade e seu conjunto de responsabilidades.
O que varia não é a relevância, mas sim a natureza da atuação: a esfera municipal responde a demandas locais e imediatas; a estadual articula políticas regionais; e o Judiciário Federal opera em processos e sistemas de alcance nacional. São estruturas organizadas de forma diferente, com exigências e parâmetros distintos, porque atendem a dimensões diferentes da vida pública.
Por isso, não é adequado comparar salários entre esses grupos como se todos atuassem sob as mesmas condições. Valorização do serviço público não se faz colocando trabalhadoras e trabalhadores uns contra os outros — se faz reconhecendo a importância de cada função naquilo que entrega à sociedade.
O discurso de “privilégio” é uma ferramenta conhecida de deslegitimação do serviço público, que tenta colocar o povo contra quem trabalha para garantir seus direitos.
Ao insistir nesse discurso, O Globo atua para fragilizar o Estado e abrir caminho para a precarização, justamente no momento em que o país debate uma reforma administrativa que ameaça direitos e enfraquece a capacidade do Estado de servir à sociedade.
Valorizar quem trabalha na Justiça é fortalecer a democracia.
Desrespeitar e desinformar é atacar o serviço público e, por consequência, atacar o direito de cada cidadã e cidadão brasileiro ao acesso à Justiça.
Por isso, reafirmamos:
•recomposição não é aumento real;
•valorização do servidor é investimento, não gasto supérfluo;
•defender o serviço público é defender a sociedade e a democracia.
Solicitaremos ao jornal direito de resposta, como prevê a Lei 13.188/2015.