O Departamento de Combate ao Racismo do Sisejufe realizou, na noite de sexta-feira (29\11), uma animada e reflexiva roda de conversa com o tema “Histórias que falam: realidades negras e desigualdade”. As convidadas para o bate-papo foram a angolana Rita Ferreira dos Santos, que atua na luta pelo direito dos imigrantes, e a mestranda em Direito da Universidade Católica de Salvador, Venandra Murici.
A coordenadora do Departamento de Combate ao Racismo, Patricia Fernanda, e a diretora do Sisejufe, Renata Oliveira, conduziram a conversa, que também contou com participações especiais de pessoas que se inscreveram na atividade.
A primeira convidada, Rita dos Santos, preta descendente de reis e rainhas de Angola, mãe de quatro filhos, contou sua trajetória de vida e o trabalho como voluntária na luta em defesa dos imigrantes.
Rita, que chegou ao Brasil para acompanhar um familiar em um tratamento de saúde, acabou se apaixonando pelo país, onde vive atualmente. Ela falou das várias semelhanças entre o Brasil e Angola, como o clima, a amabilidade das pessoas e, infelizmente, as desigualdades sociais. A convidada relatou que sofreu racismo, embora avalie que haja avanços no debate sobre esse tema.
A conversa prosseguiu com a baiana Venandra Murici, uma jovem negra, engajada na luta contra o racismo num universo intelectual, onde ainda poucos pretos conseguem ascender.
Venandra contou que é mestranda em direito através do programa Abdias do Nascimento, um projeto que tem dado oportunidades de formação e capacitação no meio acadêmico aos pretos, pardos, indígenas, quilombolas e outras minorias.
Venandra trouxe lembranças da infância, quando usava o cabelo natural, trançado, e sofria preconceito. Ela chegou a ouvir de uma professora que tinha ficado bonita quando alisou o cabelo.
”Ali começaram os questionamentos, afinal de contas eu era uma pessoa como todas as outras, sem nada de diferente, mas era bonita porque alisava o cabelo. Foi um percurso de vida doloroso, pensando na fala do outro e vendo meu cabelo cair, danificado pela química. Então, cansada de ser o que não era, decidi usar meu cabelo original, assumindo a negritude com sua beleza natural”, acrescentou.
Para Venandra, aprender sobre direito racial na faculdade ampliou seu olhar sobre a vida. A militância foi acontecendo naturalmente e cada vez mais ela quer estudar e seguir a luta pela igualdade racial.
As falas impactantes de Rita e Venandra tocaram a todos e, como resultado, surgiu a proposta de um novo encontro, provavelmente presencial, com a presença de outros profissionais para falarem mais sobre as questões do racismo. A diretora Patricia Fernanda sugeriu, ainda, a criação de um grupo de estudos para debater direitos, legislação e a história da negritude.
Renata Oliveira reforçou a necessidade de novas rodas de conversa para desconstruir o racismo. “Querem convencer o negro do que ele é e como pode ser, a partir de um olhar excludente, racista”, lamentou.
Ao final do bate-papo, a coordenadora Patricia Fernanda sorteou um kit de livros sobre letramento racial com os títulos: “Fabinho – da Roça aos Tribunais”, de Claudine Bernardes (infantil); “Como ser um educador antirracista”, de Bárbara Carine; “O pacto da branquitude”, de Cida Bento; O “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus. A sorteada foi a servidora Catarine Santos.
Animada com a experiência, a diretora Patricia Santos sugeriu a organização de uma biblioteca, no próprio sindicato, com livros sobre questões raciais.
Todas e todos se despediram com a expectativa de que a segunda roda de conversa aconteça em um futuro bem próximo. Clique NESTE LINK para assistir à gravação completa, disponível em nosso canal no YouTube.
Por Tereza Ribeiro