Uma festa verdadeiramente democrática e inclusiva, como deveria ser todo o carnaval. Assim é o desfile da Embaixadores da Alegria, primeira escola de samba do país com acesso aberto a pessoas com deficiência, que há 15 anos abre o desfile das campeãs do carnaval carioca, na Marquês de Sapucaí.
Desde 2019, o Sisejufe acredita e apoia esse projeto tão lindo, cheio de potência e representatividade, que emociona a todos que têm a oportunidade de vê-lo desfilar. Foi assim nesse sábado, 25/02, quando sindicalizados Sisejufe e demais servidoras e servidores do Judiciário Federal participaram do desfile da Embaixadores da Alegria como integrantes da Fina Batucada, bateria majoritariamente feminina da Escola de Músicas Villa Lobos.
Mestre Riko – professor do curso de percussão “Batuque na Justiça”, que o Sisejufe oferece aos associados desde 2019 -, é também o mestre de bateria da Fina Batucada e da Embaixadores da Alegria, onde comanda mais de 200 ritmistas.
Mestre Riko e a rainha de bateria, Fernanda Honorato
Para quem participa do projeto e para quem assiste ao desfile, além da alegria contagiante, o que se vê na avenida é uma aula de amor, respeito, empatia e democratização do carnaval, um carnaval verdadeiramente acessível a todos. Na avenida, desfilando pela escola, pessoas com deficiência de todos os tipos (Síndrome de Down, cadeirantes, nanismo, autismo etc)
Para Lucena Pacheco, diretora do Sisejufe e coordenadora da Fenajufe, mais do que um enorme prazer, participar do desfile da Embaixadores da Alegria é uma honra muito grande: “Inclusão, democracia, representatividade, muita alegria e amor. Na Embaixadores da Alegria tem tudo isso e é tão lindo de se ver. É por isso que o Sisejufe é parceiro do projeto com muito orgulho. Esse ano, mais uma vez, o sindicato, através do Departamento de Cultura, do Departamento de Mulheres e do Departamento de Acessibilidade e Inclusão apoia, participa e patrocina a bateria Fina Batucada. As camisas dos integrantes da bateria foram patrocinadas pelo Sisejufe”, explicou Lucena.
Anny Figueiredo, coordenadora do Núcleo de Mulheres do Sisejufe, comentou: “Essa bateria é maravilhosa. É isso: é carnaval, sim, mas é, acima de tudo, empoderamento da mulher, é democratização de uma festa que tem que ser verdadeiramente popular e inclusiva. Muita honra e alegria ter o Sisejufe apoiando e participando desse projeto. A mídia, infelizmente, não costuma mostrar. Olha só: cadê a imprensa mostrando essa lindeza toda, essa potência toda que já vai entrar na avenida? Não está aqui. Não está, mas nós estamos e nos sentimos honrados em poder compartilhar essa emoção e ajudar a concretizar esse desfile que é feito na garra, no amor e superando todas as dificuldades. Enquanto sindicato, temos certeza da importância do simbolismo dessa parceria para toda a sociedade”.
Para Helena Cruz, diretora do Departamento de Cultura do Sisejufe, o sindicato está de parabéns por apoiar mais uma vez a Embaixadores da Alegria: “É fantástico poder participar de um momento lindo como esse. O sindicato não pode só se preocupar com a luta política e com as questões financeiras. A gente pode e deve participar mais e mais das questões sociais que envolvem toda a sociedade e através de projetos culturais chegamos ainda mais longe. Olha só que coisa mais linda que é ver essa escola verdadeiramente inclusiva riscar o chão do Sapucaí. E é muito, muito gratificante saber que o Sisejufe também faz parte e ajuda fazer isso tudo acontecer com tanta potência e beleza”, disse emocionada.
Soraia Marca, diretora do Sisejufe e coordenadora da Fenajufe, falou sobre a emoção de participar do projeto e ratificou a importância de o sindicato estar à frente de todas as lutas válidas para a sociedade de um modo geral: “Ah, é sempre emocionante pisar na avenida, ainda mais desfilando pela Embaixadores, que é uma escola inclusiva, uma escola para PCD’s. A gente tem que trabalhar para isso, para valorizar e garantir a inclusão, sempre. É isso: é o Sisejufe trabalhando em todas as áreas, não só nas lutas específicas da categoria, mas também nessas lutas transversas tão importantes para toda a sociedade”.
Andrea Capellão, diretora do sindicato, também comentou: “É lindo ver que todos podem curtir juntos o carnaval. Inclusão é isso. O Sisejufe está de parabéns por apoiar esse projeto”.
Neli Rosa, coordenadora do Departamento de Aposentados do Sisejufe também falou emocionada sobre o projeto: “São meses de ensaio e dedicação para enfim chegarmos a esse grande dia de ver a Embaixadores da Alegria passar linda pela Marquês de Sapucaí. Fico muito feliz de participar da bateria e ter a oportunidade de dividir com todos esse momento especial”.
Na concentração, poucos minutos antes de entrar na avenida, Mestre Riko era uma mistura de alegria e nervosismo: “Passamos por dois anos longe dos desfiles e hoje estamos de volta!!!! Nossa, é muita emoção. Parabéns a todos que fazem essa festa linda acontecer. Fazer o carnaval e ainda mais defendendo uma causa social tão importante é maravilhoso. Um privilégio, uma honra e um prazer”.
O desfile da alegria e da inclusão
A Embaixadores da Alegria, primeira escola de samba com acesso aberto a pessoas com deficiência, comemora 15 anos, em 2023. Tradicionalmente, ela abre o desfile das campeãs do carnaval carioca.
Dessa vez, uma alegria a mais: o samba-enredo foi criado por Moacyr Luz, ícone do samba carioca. “Quando fui convidado para fazer o samba da Embaixadores da Alegria, achei que fosse um bloco lá de Brasília (risos). Brincadeiras à parte, digo que fiquei muito honrado com o convite e pensei, na hora, que a letra deveria ter, além da alegria, claro, deveria ter muita leveza e descontração. Aí embarquei na brincadeira do sete, né, porque alegria tem sete letras, temos sete notas musicais, sete dias da semana e por aí vai”, explicou o sempre doce Moacyr Luz.
Moacyr Luz e Paul, minutos antes do desfile começar
Na avenida, o samba foi cantado por Ito Melodia, o intérprete vencedor de seis troféus Estandarte de Ouro.
Entre os mais de 1.500 integrantes da escola, pessoas sem e com deficiência deram um show de alegria e amor ao carnaval. Integrantes da comissão de frente da escola fizeram acrobacias com cadeiras de rodas. A rainha de bateria, Fernanda Honorato, que tem Síndrome de Down, foi aplaudida pelo público ao mostrar samba no pé. Tudo na escola emociona e encanta.
Para Daniel Rangel, de 26 anos, fundador do grupo de dança Expressar, que tem 7 bailarinos com e sem deficiência, participar do desfile da Embaixadores da Alegria é uma emoção única: “É a minha primeira vez e estou muito, muito feliz. A Embaixadores nos dá a oportunidade de mostrarmos nossa existência e nossa resistência. A arte e vida estão aí para serem vividas e experenciadas com alegria, leveza e boas oportunidades por todos nós”.
A aposentada Cristiane Santos, de 57 anos, mãe de Athos Santos, de 37, está na Embaixadores da Alegria desde o início. Ela fala com emoção desse projeto que define como a “casa e o colo de todos nós”: “Conheci o projeto logo no início e fui convidada a sair junto com meu filho. De lá pra cá, estamos sempre nos desfiles e no dia a dia da escola. É mais do que isso aqui que vocês estão vendo na avenida. Para nós, a Embaixadores significa que existimos. Existimos, somos vistos e respeitados. Como mãe de uma pessoa com deficiência, posso dizer que temos dificuldades e lutas, claro, mas somos como qualquer pessoa e é dessa forma que queremos ser vistos, respeitados e olhados. A Embaixadores da Alegria é tudo em nossas vidas. Que a sociedade possa conhecer melhor esse lindo e necessário projeto e assim passe a apoiar, também”.
Paul Davies, um dos fundadores da Embaixadores da Alegria e responsável pela direção de carnaval, falou sobre a dificuldade que foi fazer o carnaval 2023: “Esse ano foi o nosso 15º desfile e posso dizer que foi o mais difícil de todos porque foi um descaso total da prefeitura que nos prometeu uma verba e não cumpriu, mas graças a Deus, o Sesc entrou há duas semanas e ajudou a viabilizar nosso carnaval. Além disso, o apoio do Sisejufe com as camisas para a nossa bateria também foi fundamental. Muito obrigado a vocês do sindicato.”
A Embaixadores da Alegria
A Embaixadores da Alegria é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 2006 por Paul Davies (britânico) e Caio Leitão (carioca). A proposta é utilizar a cultura, o samba, a arte e educação como instrumentos de inclusão social para pessoas com e sem deficiência.
Ao longo da sua trajetória, a Embaixadores da Alegria já beneficiou mais de 16 mil pessoas com seus desfiles acessíveis, oficinas de carnaval, palestras, teatro e shows. Foram 14 desfiles consecutivos na Sapucaí com sambas exclusivos.
Os componentes são foliões com e sem deficiência, pertencentes a instituições ligadas à causa. Hoje a associação dialoga com mais de 80 instituições, grupos e projetos no Brasil e no exterior.
O carnaval do Rio de Janeiro vem sendo transformado no mais acessível do Brasil com a Embaixadores da Alegria. Foram desenvolvidas logísticas, planejamentos de embarque e desembarque no sambódromo para os foliões juntamente com os órgãos públicos municipais e a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial). Além disso, ações dentro do desfile foram criadas exclusivamente para atender às necessidades e características de cada deficiência. Há um time de harmonia especial composta de fisioterapeutas, professores de educação física, psicólogos, que cuida da acessibilidade e inclusão emocional. E também um time de harmonia de carnaval, composto por profissionais experientes do mundo do samba, cuidando da evolução e da qualidade do espetáculo. Para as pessoas com deficiência auditiva, há ainda uma equipe de intérprete de Libras que traduz o samba ao vivo na Sapucaí.
Como dizem, a Embaixadores da Alegria é mais do que uma escola de samba, é uma escola de vida.
Veja a letra do samba-enredo da EMBAIXADORES DA ALEGRIA CARNAVAL 2023:
AUTOR: Moacyr Luz
Intérprete: Ito Melodia
ALEGRIA TEM SETE LETRAS
SÃO SETE AS CORES DO ARCO-ÍRIS
NÃO ADIANTA FAZER CARETA
É NO CARNAVAL QUE NÓS SOMOS FELIZES
SETE ERA A CAMISA DO MANÉ
SETE CABOCLOS, ACREDITE QUEM QUISER
SETE SÃO AS NOTAS MUSICAIS
MI FÁ SOL LA SI DÓ RÉ (Bis)
SE EU TIVESSE SETE VIDAS
USARIA PRA FUGIR DO TUBARÃO
ALINHAVA OS SETE CHACRAS
ESCALDADO IA EM OUTRA DIREÇÃO
NAVEGANDO OS SETE MARES
LUA CHEIA CLAREOU
DISTANTE ESTÃO OS SETE PLANETAS
CHEGA MAIS PERTO, MEU AMOR
SE UMA SEMANA TEM SETE DIAS
AOS SETE ARCANJOS EU PEDIRIA
SEI QUE NESSE PEITO CABERIA
EMBAIXADORES DA ALEGRIA.
